tag:blogger.com,1999:blog-54615870299805087012024-03-17T17:25:51.312-03:00Raul e a LiteraturaCrônicas, contos, poemas e outras quinquilharias de Raul Arruda Filho.Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.comBlogger1096125tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-41787535531406591232024-03-12T09:42:00.006-03:002024-03-13T08:56:02.008-03:00O CANIVETE E EU<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgixv4FglAJnV-DfFMvEnESjY7qZvT3HSyOn9DBDaORR-8OcSEfkAaGTZyo8y8tJre8gL1IQH_N2PblbxRqA3RIW3Cvw2izcTf5HWOtqMA7OQlujOz8TApe_OU8oo6zd-ooHhPOwBHAqspYpejcEGPnNF12IqCrTTv3A2wYJeE_JBiHxLFrzzObtbLO9HGO/s1000/Canivete.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="993" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgixv4FglAJnV-DfFMvEnESjY7qZvT3HSyOn9DBDaORR-8OcSEfkAaGTZyo8y8tJre8gL1IQH_N2PblbxRqA3RIW3Cvw2izcTf5HWOtqMA7OQlujOz8TApe_OU8oo6zd-ooHhPOwBHAqspYpejcEGPnNF12IqCrTTv3A2wYJeE_JBiHxLFrzzObtbLO9HGO/s320/Canivete.jpg" width="318" /></a></div><br /><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 141.6pt; text-align: justify;"><i><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os
homens, incidentemente, se dividem também em duas categorias: os que são e os
que não são de canivete.</span></i><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(<b>Fernando Sabino</b>)</span><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No final dos anos 80 do
século XX, comprei um Victorinox. Perdi o canivete algum tempo depois. O meu
nome estava gravado no dorso vermelho. Em diversas oportunidades quase comprei
outro. Em algumas lojas de importados (Florianópolis e Joinville) pedi para
ver aqueles que estavam expostos nas vitrines. Durante alguns minutos manipulei réplicas do desaparecido. Perguntei pelo preço. Não era caro, nem barato – cabia no meu
orçamento. No entanto, lutando contra todas as forças do universo, resisti. Preferi
continuar sem canivete. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Aconteceu assim. Fui
a São Paulo no início do século. O canivete estava unido ao molho de chaves. No
aeroporto, em Florianópolis, nenhum problema. Na volta, a Polícia Federal
imaginou a prática de alguma ação terrorista. Os protocolos de segurança depois
de 11 de setembro de 2001 ficaram mais paranoicos. O voo estava quase saindo,
não tive tempo para encontrar alguma alternativa. Vão-se os anéis, ficam os
dedos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para ser bem
sincero, o canivete não era muito utilizado. Nunca o usei para descascar laranjas.
Como não sou da turma do cigarro de palha, também não piquei fumo-de-corda.
Aliás, nem fumante sou. Apontar lápis é outra atividade que não executei.
Escrevo a caneta ou no computador. Então, para que precisava do canivete?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para lembrar. Era a
recordação física de um período que considero importante na minha vida. Sim, algumas
marcas ficam gravadas na pele da gente. Ver o aço da lâmina brilhando tinha como
significado principal impedir que o passado fosse tratado como algo descartável
ou substituível. Com o poder simbólico que atribuímos às relíquias, sentir o peso
do objeto nas mãos ou no bolso equivalia a um ritual de celebração da memória. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A ausência, mais do
que assumir a forma de luto, amplia a frustração. É a potência da
descontinuidade, o império da interrupção. De repente, sem que fosse permitido
escolher em manter ou apagar o registro de algo que se destacou, o canivete servia de ponte entre o presente e o passado que deixou de existir.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Provavelmente, em
algum momento impreciso, será como se o canivete nunca tivesse existido. A
névoa do esquecimento encobrirá o percurso. E todas as coisas que a ele estão
relacionadas também desaparecerão na bruma.</span><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Antes cair das
nuvens, que do terceiro andar</span></b><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">,
observou o cínico Machado de Assis, fingindo não compreender a intensidade de
alguns sentimentos. Renato Russo foi mais cruel: <b>(...) a gente chegou
um dia a acreditar / Que tudo era pra sempre / Sem saber / Que o pra sempre /
Sempre acaba!</b></span><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-73634271231609341272024-03-04T20:40:00.010-03:002024-03-06T10:58:40.582-03:00FIM DE TARDE EM UM DOMINGO QUALQUER<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBiR1B5wp0Ju2DWekgIWAoWbsMBC-EQaEM5_NaT9tbncFgVJEbe3UozqEu51j_KCq33dGlrnK-kcvA8hQubf0jDOFlcb0Hb1hJB4mOYtxr4hqP6AOjkNOBXFDpXSBax1m8WagDZhm_ESZ3azttRBeInW9TGQqjwWZWO6tVKwtjs9IGjaWAlF-nQW71Np7/s475/chuva.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="356" data-original-width="475" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBiR1B5wp0Ju2DWekgIWAoWbsMBC-EQaEM5_NaT9tbncFgVJEbe3UozqEu51j_KCq33dGlrnK-kcvA8hQubf0jDOFlcb0Hb1hJB4mOYtxr4hqP6AOjkNOBXFDpXSBax1m8WagDZhm_ESZ3azttRBeInW9TGQqjwWZWO6tVKwtjs9IGjaWAlF-nQW71Np7/s320/chuva.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Exercendo
o hábito de postergar tudo o que está ao seu alcance, ele deixou a visita ao
supermercado para o final da tarde. No momento em que – finalmente – decidir
ir, estava garoando. Mas, como se fosse um farol a iluminar o desatino, havia
uma réstia de sol no horizonte. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Embora a sua famosa <i>expertise</i> meteorológica não
mereça confiança, calculou que dava para ir e voltar antes da chuva se tornar
mais forte. Por isso, armado de coragem e determinação, deixou o guarda-chuva
em casa. Isso não faria diferença ao final das contas – mas, naquele momento,
não era possível prever o futuro. E ele precisava de pão, iogurte e aquelas
bobagens que, se não modificam a vida, acrescentam um pouco de açúcar nas agruras
do existir.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Foi.
E não se incomodou com os esparsos pingos d’água que o céu derramava sobre o
corpo. Fez as compras, acrescentando algumas coisas que não estavam na lista (e
que lembrou estar em falta), pagou e, carregando as sacolas, voltou à avenida. Depois de ter caminhado umas duas quadras, foi atingido pelo aguaceiro. Em
tempos de calor vulcânico, uma chuvinha de verão é sempre bem-vinda – disse
para si mesmo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em
uma avenida de poucas marquises, esse tipo de atitude não pode ser considerada
uma prova de inteligência. A tempestade se intensificou – quase um dilúvio. Como era impossível ver um palmo diante do nariz, guardou os óculos em um dos bolsos da
bermuda. Os chinelos e a camiseta estavam ensopados. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Poderia
ter se abrigado no ponto de ônibus ou no posto de gasolina. Poderia. Molhado da cabeça aos pés, preferiu continuar a jornada. Faltava pouco.
Muito pouco. Por isso, abstraiu a umidade e se concentrou nos compromissos do
dia seguinte. Repassou o pagamento do aluguel, a compra do bilhete de loteria,
a visita ao barbeiro. Coisas miúdas da segunda-feira. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Esse momento
de afastamento da realidade não serviu como escudo contra a tempestade, que tinha aumentado. O vento também se fez presente – e certamente teria
destruído o guarda-chuva que ele deixou em casa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Fazer
o quê? Mais uns 200 metros e as compras seriam salvas.
Raios riscavam o horizonte, trovões assustavam quem estava na rua. A nostalgia o pegou pelo braço e o fez voltar no tempo. Lembrou dos seus barquinhos de
papel protagonizando aventuras por oceanos distantes. Naqueles momentos, pouco se importava com
a briga – quando chegava em casa <i>molhado como um pinto</i>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Junto
com essas recordações de um passado que estava perdido, vieram outras, os irmãos
correndo pela casa, as manhãs e as tardes na escola, as vozes da mãe e da avó
repetindo ditados populares (<i>não adianta chorar pelo leite derramado</i>, <i>cada
um sabe onde lhe aperta o sapato</i>). <b><span style="background: white; color: #202122;">All those moments will be lost in time, like tears in rain...</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na
porta do prédio, respirou demoradamente, o ar entrando nos pulmões como se
fosse a brisa da primavera. Enfrentou as escadas, abriu a porta do apartamento,
guardou as compras, tomou banho, e, como compete aos que cultivam desastres
como se fossem flores, sentiu o quanto é bom estar vivo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-26103489119712403302024-03-01T18:06:00.006-03:002024-03-03T13:14:56.611-03:00UM CRIME BÁRBARO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiJl5gm0XuNQ4ALDjhW67G76ind-PI5pl7obfhe7ZxUOpPCzjPOezzgwkB7TAALWqOGZaqmrvIhvylOufAcoY5sVNHz3vurS_uAHV13-n-UO17A95piC6p0U2M1lRYqT36MNi98YmFe5JxO46bG5sPqTvPkdJ15skrKWc3jyn-Oa6q2DVVGz3YsPqXJEVG/s4080/20240227_123227.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4080" data-original-width="3060" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiJl5gm0XuNQ4ALDjhW67G76ind-PI5pl7obfhe7ZxUOpPCzjPOezzgwkB7TAALWqOGZaqmrvIhvylOufAcoY5sVNHz3vurS_uAHV13-n-UO17A95piC6p0U2M1lRYqT36MNi98YmFe5JxO46bG5sPqTvPkdJ15skrKWc3jyn-Oa6q2DVVGz3YsPqXJEVG/s320/20240227_123227.jpg" width="240" /></a></div><br /><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A
morte violenta de Soeli Volcato, 13 anos, em uma localidade no interior do
oeste catarinense, no dia vinte e um de agosto de mil novecentos e oitenta e
um, é o ponto de partida do romance <b>Um crime bárbaro</b> (Autêntica
Contemporânea, 2022).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Ao
contar (de uma maneira muito particular) essa história, a narradora (em
primeira pessoa) percebe que muitas lembranças não podem ser soterradas (alguns
gatilhos remetem ao passado). Também descobre que o tempo não gosta de fornecer
respostas às perguntas incômodas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Ciente
do quanto é difícil preencher o hiato que separa a tragédia e o momento da
escrita, a narradora se desloca várias vezes do Rio de Janeiro até o local do homicídio.
Quer encontrar algum tipo de explicação. Quer descobrir o que motivou a tragédia. Mesmo
assim, depois de quarenta anos, é improvável que surja algo
próximo da verdade (se é que isso algum dia foi possível).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No
entanto, nesse tipo de investigação, urge ser persistente. Então, ela conversa
com algumas pessoas (correndo o risco de que a memória distante distorça os fatos),
estabelece a cronologia dos acontecimentos, imagina o que algumas pessoas
fizeram naquele dia e, por fim, relaciona os prováveis responsáveis pelo crime
e os motivos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Infelizmente,
nada se mostra sólido. Na estrutura do texto, a ficção possui maior relevância
do que a realidade – talvez seja por isso que o texto está carregado de
suposições. Nem mesmo a última parte da narrativa é capaz de fornecer uma
explicação razoável. O homem entrevistado está doente (um câncer terminal) e
morre antes de confirmar ou desmentir a acusação de que foi um dos responsáveis
pelo assassinato.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Uma
das qualidades de <b>Um crime bárbaro</b> está em mostrar um pouco de sociologia da
literatura. Isto é, há descrições da mentalidade predominante nas pessoas que
moram (moraram) nas áreas interioranas de Santa Catarina. Principalmente, a xenofobia (repulsa aos que </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16px;">não pertencem ao grupo estratificado) e </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">a glorificação
do trabalho como recompensa por uma vida sem perspectiva. Então, nos momentos
de lazer (churrascos, festa de igreja ou da escola), surgem as desavenças entre
vizinhos e as bebedeiras – compensação pelas horas de serviço braçal nas
plantações, na lida com os animais (vacas, porcos, cavalos). Nessas ocasiões, as
palavras expressam o que, no dia a dia, está interditado. Se as ameaças vão se
concretizar, ninguém garante – mas, o sossego deixa de existir e o medo se
torna constante.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Nesse
mundo, as dificuldades da vida social se multiplicam. Algumas moradias são
precárias, a evasão escolar não incomoda (sequer é percebida), faltam hospitais,
os bens de consumo não estão acessíveis, a repressão policial conta com o apoio
popular. O recorte da vida rural (e que não está restrito aos anos 80) revela uma
estrutura que poucos desejam modificar – inclusive porque pode alterar os mecanismos
de poder (principalmente na base eleitoral conservadora).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O
romance de Ieda Magri, mais do que uma tentativa de esclarecer um episódio que
provavelmente estava fadado a permanecer nas sombras da história, propõe um contraste
entre a civilização e a barbárie. O final aberto, onde a incerteza se apresenta,
revela que o horror está em vantagem. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-33908196839636697662024-02-27T11:38:00.002-03:002024-02-28T16:48:37.072-03:00SOBRE A POESIA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmrizwtEFhvRQYa79Eb2259m9G10EswP1IUz-yVCR_ZiTPw7C8alkHxWG0DWhoaElIg-os00TltjU_tW8l3JKa5MQVcGYOM9kV0T4XOxRd1GobLWNtwIOKTBsJ3QH0oxrRk2qVl84WS27SNqRNedvmn3KecS5TslGONWM-SCnCEIiWThIaUCFJnwfg5zkZ/s800/Poesia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmrizwtEFhvRQYa79Eb2259m9G10EswP1IUz-yVCR_ZiTPw7C8alkHxWG0DWhoaElIg-os00TltjU_tW8l3JKa5MQVcGYOM9kV0T4XOxRd1GobLWNtwIOKTBsJ3QH0oxrRk2qVl84WS27SNqRNedvmn3KecS5TslGONWM-SCnCEIiWThIaUCFJnwfg5zkZ/s320/Poesia.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A poesia não vale o
papel em que é impressa. Incontáveis vezes esse tipo de argumento se repete. E
parece estar absolutamente correto – mas por motivo oposto ao do declarante. A
poesia não tem preço. Não é mercadoria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sequer há utilidade
para a poesia. Usualmente trata-se de algo que atrapalha os dias de praia e
sol, que incomoda aos que gostam de astronomia e astrologia, que tem a
aparência dos peixes abissais ou dos animais extintos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um verso expande a
potência do verbo, despreza a verba, reverbera o vazio e institui o caos. O
pensamento se desdobra em novas presenças, ausências, referências e
reticências. A árvore que recusa o asfaltamento do bom gosto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma estrofe não
compactua com o silencio e institui as frases com a violência dos vulcões que entram
em erupção na primavera – exatamente quando todos julgam estar a salvo. A poesia incendeia a planície – ao som da onça com fome. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A linguagem como
resistência. Empilhar sentimentos e inaugurar catedrais de
vento. A iluminação obliqua, a sombra inesperada, a sobra. A vida dividida entre
projetos falidos e noites turbulentas. A prece dos que não acreditam em deus.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A poesia respira a
imensidão da Antártida no equinócio. Detesta compactuar com as certezas. Acrescenta
novas dúvidas. Sabe que o nascer da manhã confirma a desventura, nega a
usura, abomina a clausura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A poesia não escolhe
caminho, nem ordem, nem ideias, nem se detém diante do iníquo. A expansão é o
seu destino, desatino de quem escolhe acolher em abraços os que estão satisfeitos
com a imensa coleção de equívocos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A poesia não faz
prosa, não carrega ramalhetes para o amor, não suporta paredes ou comporta
escafandros. O poema gosta da palavra sim, mas prefere dizer não. E isso afasta
a discussão, propõe a digressão. A poesia é a poesia e em si se
basta. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-36556124572314345332024-02-24T16:17:00.000-03:002024-02-24T16:17:23.760-03:00JORNALISMO: SOMATÓRIO DE DERROTAS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbm6gQvO9O9cI3Qdv09qdxxO88z9aGf8dKunQL0K1NRb04bvDMGr1zLTr3aV0sX-_QLK3bJ0DAdzNseWhNBrvXjV29c8hi3me5HH_dBopCzh0bUH2ug2fo6fA5iP-Z_0vu7CBhkczyZS_YJ5ygoI6qE8Q405xn8N1SjE4WHuiMdd25MPU15vhFC1X094Db/s640/isen%C3%A7%C3%A3o-jornalismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="393" data-original-width="640" height="197" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbm6gQvO9O9cI3Qdv09qdxxO88z9aGf8dKunQL0K1NRb04bvDMGr1zLTr3aV0sX-_QLK3bJ0DAdzNseWhNBrvXjV29c8hi3me5HH_dBopCzh0bUH2ug2fo6fA5iP-Z_0vu7CBhkczyZS_YJ5ygoI6qE8Q405xn8N1SjE4WHuiMdd25MPU15vhFC1X094Db/s320/isen%C3%A7%C3%A3o-jornalismo.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Durante muitos anos estive
jornalista. Não estou mais. E isso é um alívio. Acreditem. Minha graduação foi
no curso de letras, e, mais tarde, especialização em literatura. Ou seja, minha
bagagem intelectual se situa em outros referenciais, muitas vezes distantes do
profissional “raiz”. Isso é bom e é ruim. Bom porque me colocou em vantagem
quando o material a ser trabalhado se referia ao jornalismo cultural. Ruim
porque me obrigou a escrever sobre assuntos outros que não são os do meu agrado
ou domínio. Tudo bem, uma das regras de ouro da profissão afirma que o <b>jornalista
é uma pessoa que sabe de tudo, mas não entende de nada</b>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Comecei escrevendo crônicas, resenhas
de livros e artigos de opinião. Foi divertido – enquanto durou. Isso significa
um período de uns 20 anos. Exerci a atividade, basicamente, em três veículos de
comunicação: <b>A Notícia</b> (Joinville, SC), <b>O Momento</b> (Lages,
SC) e <b>O Escrivão da Serra</b> (Lages, SC). Nesses três empregos o
trabalho era remunerado. Esporadicamente, publiquei no <b>Correio
Lageano </b>e no <b>Diário Catarinense</b> (o que me causa
arrependimento até hoje). A proposição desses dois (falecidos) jornais era simples: a honra
de ser publicado constitui pagamento suficiente.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em determinado momento passei para o
lado de dentro do balcão e comecei a viver o "sofrimento" na redação.
Não sei se fiz boa troca. A necessidade de pagar as contas me deixou sem
alternativas. É um serviço insano e que envolve mil complicações. Reescrever
texto de analfabeto funcional é atividade trivial perto do olhar para o outro
lado e ignorar que existem – a cada instante – interesses diversos em jogo. O
jornalismo é um empreendimento tão desonesto quanto outro qualquer.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um dos momentos mais interessantes
desse percurso foram os 30 dias em que “estagiei” na redação do <b>Anexo</b> (suplemento
cultural de <b>A Notícia</b>), no final do século XX. Estava morando em
Meia Praia (Itapema, SC) e esperava pelo fim de uma greve na UFSC. Para garantir
alguns trocados, escrevia artigos e resenhas e os enviava por
fax. Muitas vezes ocorriam problemas de transmissão – originando
erros ou interpretações distantes do propósito inicial. No meio do caos,
perguntaram-me se queria substituir alguém que estava saindo em férias.
Aceitei. Valeu por uns três cursos universitários, mestrado e doutorado – tudo
junto e misturado. Embora tenha sido um aluno indisciplinado (e isso faz parte
da minha natureza), o aprendizado rende até hoje.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tenho cópia física de algumas
“matérias” que escrevi nesse período, muitas vezes página inteira, reflexo de
um tempo em que o texto era valorizado e as imagens eram apenas complemento. A
pasteurização da notícia, promovida por um conglomerado que comprou os mais
importantes jornais de SC, não só implodiu a atividade profissional como
contribuiu para o empobrecimento do leitor (de várias maneiras).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Com a popularização da Internet, os
jornais físicos começaram a desaparecer. Além da competição quase que
massacrante dos jornais televisivos, que abocanharam parte substancial dos
anúncios, faltou perceber que o mundo estava em transformação. Embora alguns
jornais estejam tentando sobreviver com versões <b>on line</b>, a verdade
é que muitos<b> </b>profissionais capacitados migraram para outros formatos –
onde podem negociar com os patrocinadores sem a intermediação de terceiros.
Como afirmou, em outro contexto, Ryszard Kapuscinski, <b>quando se descobriu
que a informação era um negócio, a verdade deixou de ser importante.</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Escrever em jornal significa “comprar
briga” (com a fonte da informação, com o texto, com os editores, com o
departamento comercial e – por que não? – com os leitores). Somatório de
derrotas é a minha visão sobre essa travessia do mar da intranquilidade.
Esclareço que isso não é blague de alguém que prefere, neste instante, ficar
longe do olho do furacão.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por fim, quando se fala em jornalismo,
é necessário ter em mente duas versões da mesma tragicomédia: <b>As
pessoas não param de confundir com notícias o que leem nos jornais</b> (A.
J. Liebling) e, a mais importante, <b>Imprensa é oposição. O resto é
armazém de secos e molhados</b> (Millôr Fernandes).<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-77995340455651664782024-02-22T19:23:00.004-03:002024-02-23T10:12:46.345-03:00HISTÓRIAS DE TESOUROS EM LAGES<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-5kYPGe5ML77j2u1d_2SSvY3QE0x_khMjagkU-4WzGWb5idi1Mf66iIVcyDw-sr_7KxNfl3U_DZz0Jf49rdB1AFWEWzTWlbK4qfQ8Qh8acmKOrqMvorN7C35VLvgq7W_0yi6qM1LpY7jU3BA1gppyc6mhSJl7qTU5TIUflkywghxtI_FILjep52OxyosX/s1920/ouro-escondido.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-5kYPGe5ML77j2u1d_2SSvY3QE0x_khMjagkU-4WzGWb5idi1Mf66iIVcyDw-sr_7KxNfl3U_DZz0Jf49rdB1AFWEWzTWlbK4qfQ8Qh8acmKOrqMvorN7C35VLvgq7W_0yi6qM1LpY7jU3BA1gppyc6mhSJl7qTU5TIUflkywghxtI_FILjep52OxyosX/s320/ouro-escondido.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Algumas lendas relativamente comuns na região sul do Brasil referem-se a possíveis tesouros
enterrados – ou seja, grandes quantidades de ouro e prata que, por alguma razão, estão perdidas. Nos séculos XVII e
XVIII, quando a corrida latino-americana do ouro e da prata estava no auge, quando
se acreditava na existência de <b>El Dorado, </b>eram frequentes os conflitos armados
entre os portugueses e os castelhanos. O transporte de valores era complicado
(envolvia mulas de carga e grupos de escolta). Em caso de ataque inimigo, era
necessário esconder os bens por algum tempo. A esperança de voltar para
recuperá-los alguns dias depois nem sempre se realizava. Então, supõe-se que muitas
riquezas ficaram ocultas em algum lugar não identificado por centenas de anos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Com
a expansão urbana das cidades (loteamentos) em áreas que até então somente eram
acessíveis para gado e animais selvagens, algumas pessoas, movidas pelas
histórias que foram transmitidas de uma geração para outra, começaram a
procurar por esses esconderijos. Salvo engano, ninguém encontrou a fortuna.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Mas,
a imaginação nunca descansa e existem na região do município de Lages, no
mínimo, três ocasiões em que a crença popular projetou a possibilidade de
alguém ficar rico com alguns desses objetos. Em duas dessas circunstâncias, as
narrativas populares afirmam que foram encontradas na periferia da cidade
algumas panelas ou baús cheios de ouro. Infelizmente não é possível comprovar a
veracidade desses episódios.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O
tesouro mais famoso da região dizem que está escondido no Morro do Juca Prudente.
A história oral sustenta que, <span style="background: white; color: #333333;">em
algum momento, na segunda metade do século XVIII, um grupo de jesuítas estava
sendo perseguido por criminosos. Expulsos da região de Sete Povos das Missões,
os religiosos provavelmente se dirigiam para o litoral do Oceano Atlântico. Nas
proximidades do Morro, sentindo que os inimigos estavam próximos, e
impossibilitados de oferecer um mínimo de resistência, resolveram colocar em
segurança parte da carga que levavam. Moedas de ouro, castiçais cravejados com
pedras preciosas, aspersórios de prata, além de outras peças, foram depositados
em um lugar secreto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por algum motivo
(talvez tenham sido mortos), nunca voltaram para resgatar os objetos.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Alguns moradores das proximidades do Morro acreditam
que as bolas de fogo que surgem no meio do campo, no período da noite, são
manifestações dos espíritos errantes (fantasmas) que estão protegendo o tesouro
e impedindo-o de cair em mãos erradas. Para os céticos, trata-se, provavelmente,
de fogo-fátuo (combustão de gases provenientes da decomposição de matéria
orgânica). Seja uma coisa ou outra, o fato concreto é que o mistério continua
sem solução.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Como
essas histórias, por enquanto, só se sustentarem como lendas, os caçadores de tesouros
continuam vasculhando o território do município. E pouco importa se essas riquezas
nunca existiram. Munidos de detectores de metal e mapas antigos, ambicionam
encontrar o <b>Santo Graal</b> – ou o seu equivalente.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-66979699597128077482024-02-19T18:21:00.000-03:002024-02-19T18:21:20.046-03:00OESTE – a guerra do jogo do bicho<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9mCSXqN5qjEoikIWeYV1AlyEcYPic1KRJGmyitnRHDbnaJZJ60YIjGGhIySVUkUaG0zjyDkPOD-9C5Ae22s-RwA_dD6seJ6L5SXFjTlMY2xPrEGEiTjwyej3oWmn4J1bdurGbVuANh87dALXxVdqWozQ9JWgLz6XV_C5ik377SZbdMSWknlLDpGPJYc1d/s4080/20240219_175630.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4080" data-original-width="3060" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9mCSXqN5qjEoikIWeYV1AlyEcYPic1KRJGmyitnRHDbnaJZJ60YIjGGhIySVUkUaG0zjyDkPOD-9C5Ae22s-RwA_dD6seJ6L5SXFjTlMY2xPrEGEiTjwyej3oWmn4J1bdurGbVuANh87dALXxVdqWozQ9JWgLz6XV_C5ik377SZbdMSWknlLDpGPJYc1d/s320/20240219_175630.jpg" width="240" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Um
rio de sangue. Ou um açougue. Dezenas de personagens mortos em emboscadas, em confrontos
com rivais, em explosões, em tiroteios com a polícia (civil, militar, federal).
Esse poderia ser o resumo de <b>Oeste – a guerra do jogo do bicho</b>, de Alexandre
Fraga.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas,
reduzir o texto a umas poucas linhas não dá conta de todos os temas que estão
presentes no livro. Um dos mais importantes se refere à traição: monstro que emerge
do pântano da contravenção como uma das formas de ascensão ao poder. Todos
quererem uma fatia maior do bolo econômico. O “inofensivo” jogo do bicho, em
determinado momento, aposta no empreendedorismo e se expande em outras direções:
máquinas caça-níqueis, cassinos clandestinos, prostituição. Muito dinheiro
circulante. Isso desperta o desejo de possuir a chave do cofre. Como o sucesso
das ações delituosas se baseia na confiança, no momento em que a realidade bate
na porta e escancara o quanto as aparências são enganosas, todos se assustam. Nada
mais resta senão derramar mais alguns litros de sangue. Apesar dessas ações
estarem conectadas com um propósito pedagógico, eliminar o traidor não resolve a
questão – sempre haverá alguém ambicioso o suficiente para tentar um novo
golpe. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
corrupção é outro tema espinhoso que aparece no romance. Quase todos os
personagens que atuam nas áreas policiais e jurídicas mostram interesse em
receber <b>um por fora</b> – a exceção é um policial federal (que age por vingança).
Nessa confusão em que ninguém consegue distinguir quem é o bandido e quem é o
mocinho, há uma espécie de normalidade nas idas e vindas de malas carregadas de
cédulas por tribunais, delegacias e prisões. E quando o <b>agrado</b> não funciona,
entram em campo outras armas: destruição de reputação, transferências
funcionais, “suicídio”, etc. Enfim, o dinheiro fala mais alto. Em alguns
momentos, grita. E produz muitos surdos – que fazem de conta que tudo está na
mais completa ordem.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
guerras intestinas entre bicheiros também são abordadas no texto. Seja por
ganância, seja por algum tipo de ofensa, o conflito desconhece a trégua. O
resultado natural aparece na forma de emboscadas, troca de tiros, mortes de
alguns inocentes e muita corrupção. Em alguns momentos, o leitor tem a
impressão de que o objetivo principal do mundo clandestino em que está situado
o jogo do bicho é a autofagia. Reinventando o combate entre gangsteres (ou algum
faroeste extemporâneo), eliminar o concorrente parece mais importante do que
compartilhar os lucros. Mas, essa estratégia é uma via de mão dupla e o esforço
sanguinário empregado na tarefa resulta em criar debilidades e, em alguns
momentos, na própria destruição.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
narrativa também não economiza nas descrições sexuais. Embora o narrador
mantenha discrição sobre os acontecimentos que ocorrem entre quatro paredes, tentando
descrever o mínimo de detalhes, a narrativa sugere que a possibilidade de ser
morto no dia seguinte implica em aumentar a libido, em criar relações (efêmeras
ou duradouras) que sirvam para afirmar a importância de estar vivo – momento em
que a atividade sexual surge como compensação pelo perigo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>Oeste
– a guerra do jogo do bicho</b> (editora Record, 2014) usa imagens visuais fortes,
próprias do realismo visceral. Essa escolha, além de denunciar a barbárie que estrutura
o submundo do crime, desperta interesse no leitor. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-12611851182424714682024-02-13T14:25:00.006-03:002024-02-15T22:23:01.239-03:00LENDAS E CAUSOS DE LAGES<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhur4_U5iHyjXlWNfhBAOGGAUO9tH387fHYg4tdId5_tVnl0uBtE06Tm-g2e809uFIIZpuIqJQqliWcrY7cr7aEbKiAJvCXGJEPhEQSZzXkU_DDbub6uvr7CflZInM7w-8-FZSs6MV5o04dGSmwuLsE9kl6mB-WnOZDwTyQZ3ntbVwJpMi49WsdfWwmF99z/s700/Lages.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="422" data-original-width="700" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhur4_U5iHyjXlWNfhBAOGGAUO9tH387fHYg4tdId5_tVnl0uBtE06Tm-g2e809uFIIZpuIqJQqliWcrY7cr7aEbKiAJvCXGJEPhEQSZzXkU_DDbub6uvr7CflZInM7w-8-FZSs6MV5o04dGSmwuLsE9kl6mB-WnOZDwTyQZ3ntbVwJpMi49WsdfWwmF99z/s320/Lages.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A ficção sempre fez parte da vida dos moradores de Lages.
É um mundo onde não há limites para a imaginação. Reunir uma serie de histórias
e compor um fabulário não parece tarefa difícil, principalmente se o contador
das histórias souber misturar o fantástico e o onírico com algum ingrediente
humano (uma morte violenta, um amor interrompido, uma briga entre vizinhos, por
exemplo). </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nos Morrinhos, coração da Coxilha Rica, havia, na década de 1960, um
olho d’água, uma nascente subterrânea, e que aflorava em um poço construído com
pedras. Como ficava distante da casa grande, as crianças eram proibidas de brincar
nas proximidades. Diziam que uma alma penada (que não tinha conseguido entrar
no céu) vivia naquele local e costumava assustar quem se aproximasse do poço atirando
pedras manchadas de sangue. Ninguém duvidava disso.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">João Maria de Agostinho, conhecido como São João Maria, curandeiro e líder messiânico
da Guerra do Contestado (1912-1916), quando visitou os arredores de Lages, ergueu
uma cruz de madeira no topo de uma pequena colina, perto de uma cacimba. O
imaginário coletivo logo concluiu que a cruz tinha poderes milagrosos. Fez-se
ali lugar de peregrinação, promessas e rezas intermináveis. Algum tempo depois,
construíram uma igreja. Pedaços da cruz estão preservados dentro da igreja.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Idêntica circunstância envolve a gruta de São Bom Jesus (Sambão Jesus,
como dizia Edézio Nery Caon), que foi, em outros tempos, local de devoção dos
católicos. No dia do santo (06/08) eram realizadas missa, churrascada,
quermesse. Uma legião de devotos do santo se formou. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No Parque Jonas Ramos (Tanque), local onde as esposas dos primeiros
habitantes da cidade lavavam as roupas, dizem que Antônio Correa Pinto de
Macedo (o fundador da cidade, em 1776) afogou a filha (que estava grávida de um
bugre – índio Xokleng). Não importa que os livros de história
desmintam esse fato e reafirmem que o sujeito nunca teve filhos, o que vale é a
lenda e a lenda diz que a moça (ou a criança que estava para nascer) se
transformou em uma serpente gigantesca – que, furiosa, queria destruir tudo o
que estivesse ao seu alcance. Nossa Senhora dos Prazeres, a padroeira da vila,
resolveu impedir a hecatombe que se anunciava e prendeu a cabeça da cobra
embaixo de um de seus pés. Conta o povo que, no dia que a estátua da santa (que
está na catedral, próxima do altar) for removida, a cobra estará livre e a
cidade será arrasada. Como prova e ameaça, o rio Cahará serpenteia o centro da
cidade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Esse vaticínio apocalíptico leva à famosa declaração de São João
Maria: <b>quando as ruas de Lages se cobrirem de negro e a Catedral
apresentar rachaduras no meio, estará próximo o fim da cidade, pois anoitecerá
e não amanhecerá. Tudo será tragado e submergido nas entranhas da terra</b>. Os
mais velhos jamais questionaram essa profecia. Basta perceber que a
cidade está quase toda asfaltada e que está localizada acima do aquífero
Guarani, talvez a maior reserva de água potável do mundo. Será que, em algum
momento, a reprisar alguma metáfora bíblica, a terra vai se abrir e
engolir a cidade?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A ideologia bélica dos habitantes do Planalto Catarinense costuma
glorificar um grupo de cavalaria que combateu na Guerra dos Farrapos
(1835-1845), ao lado das tropas de Bento Gonçalves e Davi Canabarro. Nessa
epopeia não faltam passagens heroicas, batalhas épicas e o famoso encontro
amoroso e sexual entre Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva (também conhecida
como Aninha do Bentão) e Giuseppe Garibaldi. O mistério que intriga os
historiadores (e os escritores) está em descobrir se Anita Garibaldi nasceu no
interior do município de Lages ou em Laguna, onde residia com o marido (que era
sapateiro).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Márcio Camargo Costa, provavelmente o escritor que melhor compreendeu as
tradições ficcionais da região, recuperou a história da Caudilha de Lages (Aninha
Athanasio), senhora e dona do Raposo e do Cajuru. Com o chicote em uma das mãos
e o <b>nagant garrão-de porco</b> na outra, ela fez os homens se curvarem ao seu
poder. Era uma feminista <b>avant la lettre</b>. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma das histórias mais horríveis da região também foi contada por Márcio
Camargo Costa. Foi no tempo da escravidão. A esposa de um fazendeiro recebeu
alguns amigos. Uma das escravas (que era muito bonita) sorriu para um dos
visitantes e foi correspondida. A fazendeira, cheia de rancor, considerou a
cena um desrespeito. Então, mandou quebrar todos os dentes da escrava. Em
seguida, ordenou que fosse pendurada pelas orelhas no pelourinho – a moça lá
ficou, os pregos se misturando com o sangue, a dor sendo traduzida em gritos e
desejo de morrer.</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">
No folclore regional, há outras narrativas, mais leves, menos amargas, e que
envolvem maridos traídos, aventuras na “zona”, corridas de cavalos, golpistas,
episódios de tolice política, bêbados, muitos bêbados. Há diversão para todos
os gostos. Para quem gosta de <b>histórias baseadas na vida real</b>, os inúmeros
episódios protagonizados por figuras pitorescas como Beto Louco, Nereu Goss, Rogério Castro, Clênio Souza, Luiz Alfredo Ribeiro, Morô, Al Neto e outros tantos não devem ser esquecidos. São peripécias
que ainda estão para ser contadas em detalhes. Cada um desses personagens vale
um livro!</span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">
Olhando para o passado, pensando no poder do imaginário e em quem gosta de
ouvir uma boa história, cabe perceber que as narrativas que são recordadas com
maior nitidez foram contadas em volta do fogão de lenha, em noites de inverno.
As sombras projetadas nas paredes pelas labaredas e pelo lampião de querosene sempre foram mais eficazes do que os cenários teatrais. E esses relatos, que cobrem um vasto
leque de emoções, transitam entre assombrações, golpes do destino, desilusões
amorosas e aventuras épicas. </span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.65pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Há quem diga que aquilo que não aconteceu precisa ser
inventado.</span><span face=""Arial",sans-serif" style="color: #333333; font-size: 10pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><br /></p><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-36120801212378744802024-02-09T16:44:00.015-03:002024-02-10T16:37:45.596-03:00O ANO DO DRAGÃO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIg82RUARL6vo50QmQ4Jfmk36iKmIG-s59Gegp7CV5KJHY6K9_br4I_-XIlgwOb63TJRgx0tkjdnER8vPqpzjGpliy6Wklyunqv9dAbBNkyNK3oLB-yL6c2apKAB5d64PgRdYlpQfmQcPmGllGMGaOZKcutMBY2RhD36wPeQNSl2NVaWjQCrha3v7skzj0/s267/Ano%20novo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="267" data-original-width="189" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIg82RUARL6vo50QmQ4Jfmk36iKmIG-s59Gegp7CV5KJHY6K9_br4I_-XIlgwOb63TJRgx0tkjdnER8vPqpzjGpliy6Wklyunqv9dAbBNkyNK3oLB-yL6c2apKAB5d64PgRdYlpQfmQcPmGllGMGaOZKcutMBY2RhD36wPeQNSl2NVaWjQCrha3v7skzj0/s1600/Ano%20novo.jpg" width="189" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Com
cauda de serpente, garras, asas, cuspindo fogo e um corpo imenso, que lembra um
lagarto gigante, o dragão está presente no imaginário de muitas sociedades (mas,
esse formato físico não é universal, cada cultura o apresenta de forma particular).</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O ano chinês 4722 terá vigência entre 10 de fevereiro de 2024 e 28 de janeiro de 2025 – e será regido pelo dragão, com características do elemento madeira e polaridade yang. Sem entrar em detalhes sobre essas características (que devem ser explicadas por quem entende do assunto), cabe dizer que o sistema de contagem do tempo na China obedece a um calendário que une os ciclos lunares e solares. Como os doze ciclos lunares anuais somam 354 dias, os chineses acrescentam um mês a cada três anos – mantendo a equivalência com o ciclo solar (365,25 dias). Isso significa que existem variações no início, fim e duração de cada ano lunissolar.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na
mitologia chinesa, o dragão foi um dos quatro animais sagrados que participaram
da criação do mundo e é um símbolo da abundância e da fartura, do poder e da autoridade.
Sua aparência difere da imagem ocidental e possui inúmeras variações corporais:
tem olhos de tigre (ou de camarão ou do coelho), cabeça do camelo, corpo
(ou cauda) de serpente, patas de águia (ou de tigre), chifres de veado, orelhas de
boi, bigodes (ou escamas) de carpa, etc. Em uma das representações, talvez a
mais comum, o animal apresenta quatro patas (quatro dedos para frente e um para
trás) ou carregando uma pérola em uma das patas (<b>Yoku</b>). Ele vive nas águas
doces e salgadas, controla o clima, as chuvas, os ventos e as marés. No
passado, nas épocas de secas ou de enchentes, os governos regionais chineses
promoviam rituais religiosos para pedir chuvas ou para parar de chover.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em
escavações arqueológicas na China foram encontradas várias representações do ser mitológico (desenhos e inscrições, amuletos de jade, vasos de argila). Esses
objetos servem para demonstrar que o dragão sempre esteve presente na cultura chinesa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O
<b>Festival das Lanternas</b>, segundo a tradição milenar, é celebrado no 15º dia do
primeiro mês do calendário chinês. Ele anuncia o início da primavera. São
realizados desfiles de rua, queima de fogos de artifícios e danças. Costuma-se
consumir o <b>yuan xiao (nián gão),</b> um bolinho de farinha de arroz gelatinoso,
cozido no vapor, e que pode ter diversos recheios (doces ou salgados). A
televisão estatal apresenta eventos de gala, com shows musicais, ópera, artes
marciais e acrobacia. Algumas famílias costumam colar versos em rima acima ou
ao lado das portas para expressar o desejo de sorte e fartura no ano que
está se iniciando. Também é prática usual presentear as crianças com um
envelope vermelho (<b>hóngbão</b>) contendo uma quantia em dinheiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd1pU36d_PkIxCkqlochroaWaMoURGwFLB9_C5oi3rsFzXu-rR-vxelXglnsBXzfT5ZDGdkRLxDvNs4KBFgk_0wcvu5t9zGGozwggnXZFq56R0vqE6mGSlKpLDqyLOR5seNzTIs5OKAn3pOGxugbB5fHJqnijuO48tuEfG2WA2tGuN8Y6-bLYF0U1MNPbl/s1000/Comida.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1000" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd1pU36d_PkIxCkqlochroaWaMoURGwFLB9_C5oi3rsFzXu-rR-vxelXglnsBXzfT5ZDGdkRLxDvNs4KBFgk_0wcvu5t9zGGozwggnXZFq56R0vqE6mGSlKpLDqyLOR5seNzTIs5OKAn3pOGxugbB5fHJqnijuO48tuEfG2WA2tGuN8Y6-bLYF0U1MNPbl/s320/Comida.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Yuan xiao, prato tradicional chinês </td></tr></tbody></table><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na
Idade Média europeia o dragão era considerado um animal perigoso e associado
com Satanás. O imaginário popular o visualizava sobrevoando castelos e
catedrais e sempre disposto a mandar para o inferno aqueles que se entregavam
aos vícios condenados pela religião. Uma lenda bastante difundida entre os
católicos relata que um soldado romano salvou uma princesa que
estava prestes a ser oferecida em sacrifício para um dragão que atemorizava a
região. Desde então, nas hagiografias, Jorge, nascido na Capadócia (atualmente, parte da Turquia), e que provavelmente viveu no século III d. C., aparece montando um
cavalo branco e empunhando uma lança, pronto para derrotar o dragão, ou melhor,
o mal. Santa Margarida de Antióquia (275-290), que foi torturada durante o governo do imperador
Diocleciano, é apresentada enfrentando um dragão. No momento em que ela faz o sinal da cruz, o monstro desaparece.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Ao
longo do tempo, o mito do dragão foi sendo substituído por outras alegorias. Mas,
a literatura (principalmente no gênero fantasia) ainda conserva o animal como
uma força importante. Em romances como <b>O Hobbit</b> (J. R. R. Tolkien) e nas séries <b>Guerra
dos Tronos</b> (George R. R. Martin) e <b>Harry Potter </b>(J. K. Rowling), o dragão aparece para desequilibrar as
forças em combate. Em <b>O Gigante Enterrado</b> (Kazuo Ishiguro), uma fêmea de
dragão surge no caminho dos protagonistas, Axl e Beatrice. Jorge Luiz Borges
propõe uma leitura do mito em <b>O Livro dos Seres Imaginários</b>. No plano realista,
a protagonista da série <b>Millenium</b> (Stig Larsson), Lisbeth Salander, tem uma enorme
tatuagem de dragão nas costas. No romance erótico japonês <b>Cobras e Piercings</b> (Hitomi Kamechara), a personagem Lui Nakazawa pede ao amante que faça uma
tatuagem de dragão nas suas costas – no caso, um <b>Kirin</b> (o <b>mensageiro dos
deuses</b>, uma espécie de unicórnio asiático).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Os
filmes da saga <b>Como Treinar o seu Dragão</b> e o desenho animado <b>Caverna do
Dragão</b> continuam encantando jovens e idosos. O mesmo acontece com jogos de
tabuleiro como <b>Dungeons & Dragons</b>. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Enfim, os dragões, assim como os dinossauros, oferecem diversão para
todas as idades. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No
aspecto simbólico, a China está tentando usar um emblema nacional mais suave.
Em lugar do dragão (que possui uma conotação agressiva, militar), o governo
está propondo uma imagem mais suave, o panda gigante. Querem que o dragão seja
usado apenas como imagem decorativa em festividades (pandorgas, balões, lanternas
de papel, gravuras) ou como entidade regente do tempo e das águas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em sentido contrário, as peças publicitárias de Hong Kong usam o dragão para forjar uma representação internacional da cidade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Carisma,
ambição e prazer por aventuras são algumas das características dos nascidos no
ano do dragão (os últimos são 1928, 1940, 1952, 1964, 1976, 1988, 2000, 2012, 2024). Segundo os astrólogos, o ano novo promete prosperidade, força, muitas energias e grandes realizações
nos campos profissionais, amorosos e sociais. Um mapa astral provavelmente
mostrará como isso será possível para cada signo do horóscopo convencional.</span></p><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfhbZI73kcPC7MYIXFUXBpBUckAku8-RrwIhBqCLc0TyYcUja3mOcdlqz8G_B50mUDQVFghfIdFj1tBkMNumwhEQp6BzyPuTw2IlQe0bX6lnNlYARQvpZcRD5LhRVkSOKccF5-WVt_6o_5iuRkT6TM0GeEA3fS-J1kNEnHXJ5_Zzb46sMwPsX6IoS2_F0o/s1200/Drag%C3%A3o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1200" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfhbZI73kcPC7MYIXFUXBpBUckAku8-RrwIhBqCLc0TyYcUja3mOcdlqz8G_B50mUDQVFghfIdFj1tBkMNumwhEQp6BzyPuTw2IlQe0bX6lnNlYARQvpZcRD5LhRVkSOKccF5-WVt_6o_5iuRkT6TM0GeEA3fS-J1kNEnHXJ5_Zzb46sMwPsX6IoS2_F0o/s320/Drag%C3%A3o.jpg" width="320" /></a></div><br />Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-81500218699385536522024-02-05T10:18:00.010-03:002024-02-05T13:41:04.363-03:00VALE O QUE TÁ ESCRITO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCd2nvX6FnwR9dms0qOKLnLtf0ZVTbrM29eyKtEq2Twhw4UGRg4Tqm1XZO2Ksgw-vohlZEV2LC48mH9wy1x6WHz1u2MFh-HMQyBhuPjcxuOc-Y7kokeo0ozeDSGhXvb8YvOA-PrAjK_GICR77vJFngXc_HmJI1fTu3ANAco7nPvR9DgjkQZveH58Vd7AOU/s4080/20240205_101425.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4080" data-original-width="3060" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCd2nvX6FnwR9dms0qOKLnLtf0ZVTbrM29eyKtEq2Twhw4UGRg4Tqm1XZO2Ksgw-vohlZEV2LC48mH9wy1x6WHz1u2MFh-HMQyBhuPjcxuOc-Y7kokeo0ozeDSGhXvb8YvOA-PrAjK_GICR77vJFngXc_HmJI1fTu3ANAco7nPvR9DgjkQZveH58Vd7AOU/s320/20240205_101425.jpg" width="240" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Danylton,
o narrador pouco confiável de <b>Vale o que tá escrito</b> (Editora DBA, 2023),
observa o mundo dentro de um café quase falido, na periferia da capital da
República. Com a vida pessoal e econômica destroçada, ele aguarda o fim com
estoicismo. Certo dia ocorre uma mudança significativa na pasmaceira diária. Ele
vê passar pela calçada alguém que pensava estar morto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O
reaparecimento de Juan Pablo Norabuena Urondo, o Lilico, fornece o impulso
necessário para que Danylton inicie, pela escrita, um ajuste de contas com o
passado. Quer recuperar a história em que ele, no máximo, foi observador
relativamente afastado. Isso significa que, para fornecer coerência para o desenho que (em muitos momentos) parece ser ininteligível, precisa fazer muitas
perguntas para quem estava próximo dos acontecimentos, consultar arquivos, relembrar episódios, trocar
e-mails, reencontrar os amigos. Nessa estrutura fragmentária, que pode ter
inúmeras imprecisões, os elementos da trama são oferecidos ao leitor em doses
homeopáticas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Apesar
de conter alguns ingredientes de um thriller policial, inclusive porque o jogo
do bicho está presente no texto, a narrativa transita com maior ênfase pelas
relações familiares, pelos horrores do deslocamento social, pelas pequenas
tragédias cotidianas e pela violência urbana – que está enraizada em terreno
profundo e fértil. Tudo isso está emoldurado no período da ditadura militar,
onde as regras jurídicas são utilizadas para favorecer aqueles que estão em
conluio com os que detém o poder.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Descendente
de indígenas andinos, Lilico parece ter um imã para as encrencas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como não nasceu sob o signo da submissão,
reage toda vez que encontra obstáculos. E faz isso sem medir as
consequências. De certa forma, flerta com o suicídio. Não é exatamente essa a
opinião de Cleyton, o seu melhor amigo: <b>Lilico é gente boa, mas sente muita
raiva</b>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Essa
raiva diminui quando Lilico começa a namorar Juliane. As aparências enganam. O
pai da namorada, um bombeiro que faz “extras” para o jogo do bicho, começa a
perseguir o rapaz. Ele conta com a ajuda de policiais corruptos e força o
alistamento de Juan Pablo no exército. Essa série de torturas lentas procura transformar a
vida de Lilico no inferno em vida. Como
não se trata de uma preocupação paterna com a segurança da filha, o motivo desse
proceder somente é revelado na parte final da narrativa. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Violência
gera violência e, em determinado momento, algumas coisas saem do controle. A selvageria
avança em progressão geométrica – sequestros, espancamentos, assassinatos. Lilico
desaparece. Juliana e a mãe desaparecem. Algumas pessoas são presas. A vida
volta ao “normal” – ou ao que os ingênuos consideram como normal.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Danylton,
na medida do possível, fornece uma visão geral dos acontecimentos – embora não consiga
preencher alguns “buracos” do enredo. São acontecimentos que não estão ao
alcance do narrador. E ele não se esforça para superar essas faltas, prefere terminar a narrativa sem se preocupar com aqueles leitores que não gostam de elaborar teses
sobre os acontecimentos textuais que estão faltando. Há quem imagine que uma
das tarefas do escritor é fornecer todas – todas! – as informações, resolver
as inúmeras questões que surgem no desenvolvimento do texto e entregar um final sem
dúvidas ou questionamentos. Felizmente, essa ideia não é consensual.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Vale
o que tá escrito</b> não tem a mínima relação com a série televisiva. São histórias
diferentes, embora tenham o jogo do bicho como um dos eixos narrativos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-13484886653988032212024-02-01T19:35:00.004-03:002024-02-04T23:16:08.212-03:00TSUNDOKU<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB_pbZHr-ds0t9vs4OQD0WgX8uduxPQvAQnoxItZZrOhWVODxMf0QLRKvEDfOzUt49D-nlbweONi5aO4bmcAqDtB9-Z-2S2rUXMhTFAVm9P6yFX_XL-eeFP_8xGGKAuN1A6Bf9gFxbNGmhjZeN0EVbO9nhNWNM35U03RCUizfQTU9Ae5URzkpTxBOeqMwW/s640/Livros%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB_pbZHr-ds0t9vs4OQD0WgX8uduxPQvAQnoxItZZrOhWVODxMf0QLRKvEDfOzUt49D-nlbweONi5aO4bmcAqDtB9-Z-2S2rUXMhTFAVm9P6yFX_XL-eeFP_8xGGKAuN1A6Bf9gFxbNGmhjZeN0EVbO9nhNWNM35U03RCUizfQTU9Ae5URzkpTxBOeqMwW/s320/Livros%202.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Existe uma palavra em japonês que me assusta. Olho para a biblioteca e a vejo – como se fosse um aviso imaginário – escrita nas lombadas dos livros. Em uma tradução ligeira, <b>tsundoku</b> (</span><span lang="JA" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #202122; font-family: "MS Gothic"; font-size: 10.5pt; line-height: 21px;"><b>積ん読</b></span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #202122; font-family: "MS Gothic"; font-size: 10.5pt; line-height: 21px;">) </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">identifica comprar livros para não lê-los. Uma variação erudita da síndrome de acumulação.</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Como assim, alguém compra livros e não os lê? Essa pergunta utilitarista (proferida por quem somente percebe o que é imediato) costuma ocorrer com bastante frequência. Normalmente está acompanhada pelo espanto. Em um mundo onde há preferência por comprar comida, pagar o aluguel e obter algum conforto, adquirir alguns livros e não os ler pode parecer desperdício. Livros não enchem a barriga de ninguém, como costumava dizer meu pai toda vez que queria diminuir emocionalmente o seu primogênito.</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Mesmo assim,... Para algumas pessoas, acumular livros se faz necessário – independente de qualquer explicação racional. Estar em contato com o objeto do prazer se torna imperativo. Não satisfazer esse desejo significa alimentar uma dor insuportável. É um interdito ao gozo.</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Ter livros é um exercício voyeurístico. Para poder fruir da potência que está presente em centenas de páginas de papel pintadas com tinta preta (ou de outra cor) urge desfrutar da estética da capa e da encadernação, além dos inúmeros elementos paratextuais que compõem o volume (a textura do papel, o cheiro, o peso, a visão de tê-los emparedados na estante). Muitas vezes, o texto em si adquire valor secundário.</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Anne Fadiman, em <b>Ex-Libris – confissões de uma leitora comum</b> (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002), dedicou um capítulo para contar algumas histórias monstruosas: seu pai, a fim de reduzir o peso das brochuras que lia nos aviões, rasgava os capítulos terminados e os jogava no lixo; seu marido costuma ler na sauna, sem se preocupar com <b>as páginas fendidas pelo calor [e que] caem como pétalas numa tempestade</b>; Thomas Jefferson retalhou uma primeira edição de 1572, em grego, das obras de Plutarco para intercalar entre as páginas uma tradução em inglês. </span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Fico assustado ao saber que algumas pessoas praticam esse tipo de mutilação. Parece ser caso de procurar ajuda terapêutica. Prefiro ver os livros intactos, mesmo quando intocados. Não ler os livros </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;">– </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">muitas vezes</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;">–</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 16px;"> evoca um respeito que muitos leitores desconhecem. </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Existem razões para não ler alguns livros. Ou partes deles. Dicionários e manuais técnicos são ferramentas de consultas. Basta tê-los por perto. Quando se faz necessário, procura-se pelo trecho específico e, depois que se obtém a informação, coloca-se o volume de volta na estante, onde ficará até o momento em que a sua ajuda for imprescindível outra vez. </span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Ninguém está imune ao que há de nefasto na moda e no marketing. Engana-se quem pensa que somente os clássicos (esse território confuso) possuem lugar privilegiado na vida dos leitores. Ficção científica, tramas policiais, thrillers, pornografia, história em quadrinho (mangás), histórias com final feliz (ou, vá lá, infeliz), todos esses livros merecem alguma atenção. Não há limites para a voracidade de quem procura por algum tipo de entretenimento. Então, se não houver autocontrole, um passeio pelas livrarias (ou pelos sebos) pode resultar em compras compulsivas. E que ficarão intocadas em algum canto da estante.</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Não li cerca de 40% dos livros que compõem a biblioteca. Não vou verificar se esse número é maior ou menor – não gosto de reduzir a paixão ao racionalismo da quantidade. Muitos títulos foram adquiridos em função de projetos acadêmicos que não puderam ter continuidade. Algumas ideias se tornaram inviáveis, mas isso só percebi depois de ter comprado 10 ou 15 livros sobre o tema. Em dado momento, resolvi ter um acervo de literatura brasileira – especialmente, a contemporânea. Continuo seguindo esse caminho com dedicação, embora saiba que o labirinto termina em abismo. </span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19.5px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;">Por fim, alguns livros estão presentes na biblioteca pelo capricho de tê-los. Provavelmente nunca os vou ler. Ou reler. Mas, sem eles a minha vida de leitor seria mais triste. <o:p></o:p></span></p><div><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; line-height: 24px;"><br /></span></div>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-65423496593216973622024-01-30T08:59:00.001-03:002024-01-30T08:59:18.581-03:00A HISTÓRIA EM QUARENTA FRASES<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggC3PsI8N66p_NqY-hWkWKG5GtysQ0Sa0gOYzWT20BMmvIsBDKIu1h3HBI3Kib1qs2_mc-v04g2_ntbtKTK6MlqyP9WozMsypwsuvhp9OhR1nooL9-9ZpCWtgMm4o1N6ZYLFrDgv_r3t3xt7BjFo73gshTHZygyT7eNfC0pkYHUMphMoXAJ2vI99q4y3cy/s795/Hist%C3%B3ria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="362" data-original-width="795" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggC3PsI8N66p_NqY-hWkWKG5GtysQ0Sa0gOYzWT20BMmvIsBDKIu1h3HBI3Kib1qs2_mc-v04g2_ntbtKTK6MlqyP9WozMsypwsuvhp9OhR1nooL9-9ZpCWtgMm4o1N6ZYLFrDgv_r3t3xt7BjFo73gshTHZygyT7eNfC0pkYHUMphMoXAJ2vI99q4y3cy/s320/Hist%C3%B3ria.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– O que é a história? É a soma de
relatos, quase todos falsos, de eventos quase todos menores, provocados por
políticos quase todos velhacos e executados por soldados quase todos patetas.
(Ambrose Bierce)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Não se muda o curso da história
virando-se os retratos para a parede. (Jawaharlal Nehru)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Como Deus não pode alterar o passado,
é obrigado a depender dos historiadores. (Samuel Butler)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A história é um pesadelo do qual
estamos tentando acordar. (James Joyce)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– A história é apenas uma série de
crimes e desgraças. (Voltaire)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A história é uma puta. Sempre fica com
quem paga melhor. (Juan Domingos Perón)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– A história é a soma das coisas que
poderiam ser evitadas. (Konrad Adenauer)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Não gostar do que tem e querer o que não
tem – é a história de todos os homens. (François Chateaubriand)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– O dom de despertar do passado as
centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que
também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo
não tem cessado de vencer. (Walter Benjamin)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Toda dor pode ser suportada se sobre
ela puder ser contada uma história. (Hannah Arendt)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Mas a história é pessoa entrada em
anos, gorda, pachorrenta, meditativa, tarda em recolher documentos, mas tarda
em os ler e decifrar. (Joaquim Maria Machado de Assis)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– O que importa não é a história. É o
verbete da história. (Millôr Fernandes)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Saio da vida para entrar na história
(Getúlio Dornelles Vargas)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Saio da história para cair na vida.
(Cacá Rosset)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– A vida não é nada mais que uma sombra
que passa, um pobre louco que se pavoneia e se agita no palco sem que ninguém o
escute. É uma história contada por um idiota, cheio de som e fúria,
significando nada. (William Shakespeare)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A história da sociedade até os nossos
dias é a história da luta de classes. (Karl Marx)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Falar do passado é falar do presente
pelas costas. (Millôr Fernandes)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Não se muda a história com lágrimas
(Glauber Rocha)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– A história não é palco de felicidade.
(Georg Wilhelm Friedrich Hegel) <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Na minha juventude, achávamos que a história
era um trem indo para uma direção precisa. Hoje, a gente sabe que a história é
uma senhora bêbada que tropeça em tudo que vê. (Cacá Diegues)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– A história é testemunha do passado,
luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos
antigos. (Cícero)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A história é um profeta com o olhar
voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será.
(Eduardo Galeano)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Gosto mais dos sonhos do futuro do que
da história do passado (Thomas Jefferson) <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A história é uma lenda, só que muito
mais mentirosa. (Millôr Fernandes)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Em alguma passagem de suas obras,
Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da
história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de
acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. (Karl Marx)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A história se repete. Esta é uma das
coisas errada com ela. (Clarence Darrow)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Aqueles que não conseguem se lembrar
do passado estão condenados a repeti-lo. (George Santayana)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A vida é enfadonha como uma história
contada duas vezes. (William Shakespeare).</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Pode-se dizer que as batalhas
históricas, ou os eventos em geral que envolvem conflitos, são travados pelo
menos duas vezes. A primeira quando se verificam na forma de evento e a segunda
quando se trata de estabelecer sua versão histórica ou sua memória. E não há
como dizer que a primeira seja mais importante que a segunda. (José Murilo de
Carvalho)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Quanto mais se recua na observação do
passado, mais se avança na visão do futuro. (Winston Churchill)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Escrever a história é uma forma de nos
livrarmos do passado. (Johann Goethe)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Tudo se perde, a justiça nunca é
feita, a história só justifica e ratifica os erros, incongruências e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">promoções </i>do presente e até se dá o
luxo, uma vez, 1000 em 1000 anos, de desfazer uma injustiça. Só para que os
tolos digam que a verdade sempre aparece. (Millôr Fernandes) </b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Há, nos mais graves acontecimentos,
muitos pormenores que se perdem, outros que a imaginação inventa para suprir os
perdidos, e nem por isso a história morre. (Joaquim Maria Machado de Assis)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A história é um romance que aconteceu;
o romance é a história que poderia ter acontecido. (Jules Goncourt)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– O cronista que narra os
acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a
verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a
história. (Walter Benjamin)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– O passado é um país estrangeiro. As
pessoas agem de outra forma lá. (Leslie Poles Hartley)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– A história é um conjunto de mentiras
sobre as quais se chegou a um acordo. (Napoleão Bonaparte)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– A única obrigação que temos com a história
é a de reescrevê-la. (Oscar Wilde)</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">– Quanto mais se recua na observação do
passado, mais se avança na visão do futuro. (Winston Churchill)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><b>– Só acreditam que a História vai acabar
três categorias de pessoas: os cristãos, os judeus e os marxistas. (Evaldo
Cabral de Mello)<o:p></o:p></b></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh_TeVkI6Rv3Ec8WbXujaHIkWmueqx3oTbEeGMF-Af0wwFkQ2d7nDW5ltPedHT8Z7ixYeBLQ7CASxxgjMLYq9dwnpxjZbOUhX6Ec1NUrql0sKWBeP5FzLPXecqVw6_qZeKtgYajJDlS7wvA8lyIxm65UrkFdCsReJXNaF7KiKT4Aw5hE7lXDGkbkCKv15w/s630/Hist%C3%B3ria%202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="351" data-original-width="630" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh_TeVkI6Rv3Ec8WbXujaHIkWmueqx3oTbEeGMF-Af0wwFkQ2d7nDW5ltPedHT8Z7ixYeBLQ7CASxxgjMLYq9dwnpxjZbOUhX6Ec1NUrql0sKWBeP5FzLPXecqVw6_qZeKtgYajJDlS7wvA8lyIxm65UrkFdCsReJXNaF7KiKT4Aw5hE7lXDGkbkCKv15w/s320/Hist%C3%B3ria%202.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-17313576016664988042024-01-22T15:34:00.008-03:002024-01-23T07:38:18.757-03:00El Bólido Agustin<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil0F5TOMOzqEEDhrhLIdwqdn4pycVThQ1-28qe8hImbyqS-BDx6uAFpXTp6usnLZU_RtYdVE00jpDlKl6WGjTsn_ymrBNv2y3nidzCT9cQmG2jWYycw1ULFSKpJm_mxz1phhPrE8UZSzrvnCZywDHKlHikWV8LbvSwm29x5z84JQoavBQkgxzuNy7m3FCA/s3056/20240122_150041.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3056" data-original-width="3056" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil0F5TOMOzqEEDhrhLIdwqdn4pycVThQ1-28qe8hImbyqS-BDx6uAFpXTp6usnLZU_RtYdVE00jpDlKl6WGjTsn_ymrBNv2y3nidzCT9cQmG2jWYycw1ULFSKpJm_mxz1phhPrE8UZSzrvnCZywDHKlHikWV8LbvSwm29x5z84JQoavBQkgxzuNy7m3FCA/s320/20240122_150041.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O futebol, <b>a mais importante das coisas
menos importantes</b>, como afirmou Arrigo Sacchi, está pouco representado na
literatura brasileira. Salvam-se alguns contos, um ou dois romances, três ou
quatro biografias e meia dúzia de ensaios. O resto beira o descartável – alguns
usando o esporte como trampolim para discutir assuntos aleatórios.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Talvez a explicação para isso esteja no campo psicológico: quem gosta de futebol costuma ignorar os deslizes de
alguns jogadores. Nessa ausência de separação entre a vida privada do individuo
e a habilidade futebolística costuma-se fechar os olhos para as cafajestadas,
as agressões domésticas, as amizades espúrias e os golpes financeiros. Tudo é
permitido (inclusive elogiar as santas mães e irmãs dos adversários e dos
árbitros). Basta fazer gols ou defender ataques do adversário – e está perdoado.
</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em <b>El Bólido Agustin</b> (Editora
Quelônio, 2023), André Rosemberg abordou o futebol (e suas nuances) em três
textos ficcionais. São narrativas longas e que, talvez, possam ser consideradas
como novelas. E isso acontece porque André se afasta da economia textual.
Podendo escrever uma frase com sujeito, verbo e predicado, ele prefere
acrescentar uma quantidade enorme de figuras de linguagem. É uma forma de
expressar, pela multiplicidade das palavras, o máximo de sentimentos. Funciona
– neste caso.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na primeira novela, com uma linguagem que
se aproxima da crônica, o narrador conta a história de um argentino que
pendurou as chuteiras depois de ter jogado no Flamengo. Seus momentos de glória
ficaram gravados nos anos 50, quando o esporte ainda era capaz de produzir uma
aura mítica, ou seja, aquele momento em que os seres humanos eram confundidos
com os deuses. Com a inevitável decadência técnica, Agustin de Oviedo y Oviedo
continuou vivendo entre as quatro linhas do gramado, mas em outra função: cronista
esportivo. O texto é uma espécie de relato da angústia, da tentativa de
encontrar saída para uma vida que, em algum momento, perdeu o sentido. Como faz
parte da tarefa narrativa, vão sendo somados os fatos, as histórias, o
folclore, as idiossincrasias, o revelar que a divindade estava se esvaindo.
Mais cedo ou mais tarde, todos se tornam <b>pasto de los gusanos</b>, como diria
Agustin.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O segundo relato (<b>Meu Camarada Garrincha</b>) tem como figura central Eduard Anatolyevich Streltsov (1937 - 1990), que jogou no </span><span class="y2iqfc"><span lang="RU" style="color: #202124; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Торпедо</b></span></span><span class="y2iqfc"><span style="color: #202124; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> (</span></span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Torpedo), de Moscou, e na Seleção da União Soviética, campeã das Olimpíadas de 1956. Na véspera de embarcar para a Suécia, onde se realizaria a Copa do Mundo de 1962, Streltsov foi acusado de estupro e, logo em seguida, condenado a trabalhos forçados em Vyatlag, na Sibéria. Intrigas palacianas? Ninguém é jovem, bonito e talentoso impunemente. Muitos interesses estavam em jogo e Streltsov tinha uma personalidade com dificuldade para assumir a submissão aos desígnios políticos. No melhor texto do livro, ao descrever (ficcionalmente) o sofrimento em um mundo hostil, André Rosemberg cria um diálogo unilateral entre Streltsov e Garrincha.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Sabe, tenho uma saudade terrível da bola. Às vezes, me pego chutando o ar enquanto durmo. Grito também. Passa a bola, paizinho! Estou livre na área, não me enxerga? Sou centroavante, sabe? Tenho faro de artilheiro. Dizem que jogo mais que o Valentin Ivanov. O Valentin é meu companheiro de ataque no Torpedo. Ele também foi para a Suécia. Um craque, Garrincha. Dizem que sou craque também. Sem modéstia, faço muito gol. Muito gol mesmo. Ou fazia... nem sei mais. Acho que me aleijaram para sempre. Me bateram muito quando cheguei aqui. (p. 90)</b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A última novela (<b>O Juiz</b>) se concentra nos aspectos psicológicos de um árbitro de futebol que precisa lidar com inúmeras complicações: a religiosidade confusa, o homossexualismo enrustido, o conservadorismo político, a esposa doente. A soma de todas essas questões resulta em crises intestinais vexatórias. Ao apitar Santos x Corinthians (4 a 1) ou União Soviética e Colômbia (Copa do Mundo de 1962, Chile, 4 a 4), João (que é descendente de húngaros) precisa tentar equacionar o turbilhão que o atormenta. Obviamente, algumas coisas saem do controle.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>El Bólido Agustin</b> é indispensável para quem gosta da mistura entre literatura e futebol. </span></span><span style="background-color: #f8f9fa; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span><span style="background-color: #f8f9fa; font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br /></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKEpEyN5rykA8u4qvT57CqLuWMRFxJ_Y3AizQkx8d52L1kQpT4oI3134K86PxJdPluKzaIHwm5_QaVpKmH27Vnl63mNVTA2ttQZGGg_-eqasTz5ZuGgsjPr7AxqBT4l-aLLK7E5kvJCsg48lDxzwwUNnqR7HGjLucAm2rri102gDmHq9NbF9WmO7AufSaV/s1018/fut.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="581" data-original-width="1018" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKEpEyN5rykA8u4qvT57CqLuWMRFxJ_Y3AizQkx8d52L1kQpT4oI3134K86PxJdPluKzaIHwm5_QaVpKmH27Vnl63mNVTA2ttQZGGg_-eqasTz5ZuGgsjPr7AxqBT4l-aLLK7E5kvJCsg48lDxzwwUNnqR7HGjLucAm2rri102gDmHq9NbF9WmO7AufSaV/s320/fut.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Eduard Anatolyevich Streltsov (1937 - 1990)</td></tr></tbody></table><br /><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br /></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-19249527038566573392024-01-09T17:15:00.006-03:002024-01-15T09:29:21.560-03:00SAFARI<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz_GW7h8H6XBx4KhswZS35yT-N6lhpfX5Wbid_-H7mBcd1qnC593sHtIzYL4P9mT08IEHrfIykEAa0hUEOCnhNQ-e0-jpun54uyqnHOAKkjqW_Hicj009ba5nrpxpcsdfbJd5jarnCVinyvON7BDiU2M7i14tQlhIBYSJop2PQZzSZ9LkHRTXwE0mR72r_/s3060/IMG_20240103_111405_683%20(1).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="3060" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz_GW7h8H6XBx4KhswZS35yT-N6lhpfX5Wbid_-H7mBcd1qnC593sHtIzYL4P9mT08IEHrfIykEAa0hUEOCnhNQ-e0-jpun54uyqnHOAKkjqW_Hicj009ba5nrpxpcsdfbJd5jarnCVinyvON7BDiU2M7i14tQlhIBYSJop2PQZzSZ9LkHRTXwE0mR72r_/s320/IMG_20240103_111405_683%20(1).jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A violência possui propriedades
camaleônicas. Essa tese está demonstrada nos três segmentos que compõem <b>Safari</b>, romance escrito pelo chileno Pablo Toro Olivos. Seja na guerra do
Iraque, seja na escola, seja em um <b>reality show</b>, a selvageria está presente e
ninguém está isento de ser atingido por esse tipo de horror.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Eric Villanueva (o personagem que aparece em todas as fases da narrativa) descobre que a dor se transforma em
efeito colateral, secundário. Ninguém se importa com ela – nem mesmo aquele que
a sente. Sobreviver parece ser a norma, o objetivo, a possibilidade de atingir
o horizonte – que sempre está muito distante. E, nesse percurso, a linha tênue
que separa a civilidade e a barbárie costuma ser rompida a todo instante –
inclusive porque não faltam pretextos para que isso aconteça. O arrependimento
deixa de existir quando algo maior está em jogo. Somente os fracos hesitam.
Vencer supera os danos. Porque é assim que se deve proceder diante dos
obstáculos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No primeiro episódio (<b>A noite do camelo</b>)
os mercenários chilenos Villanueva e Gutiérrez precisam raptar um dromedário. A
história, além de ser absurda (inclusive por ser verossímil), multiplica a
violência de forma hiper-realista. Depois de ter sido preso e torturado no
Iraque, Jack Donovan (um dos principais soldados da empresa terceirizada que está atuando no Oriente Médio) adquire um fetiche carnívoro-sexual muito estranho. Nesse
cenário, onde os combates mimetizam a luta pela sobrevivência – com todas as
nuances que caracterizam a brutalidade humana – a caça ao camelídeo tira o foco
dos interesses do capitalismo predador e se concentra na agressão sem sentido
ou consistência.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">As questões morais que se apresentam na
segunda parte do livro (<b>As eleições</b>) mostram que o escrúpulo se transforma em
figura retórica quando, na luta entre Eros e Tanatos, a etiqueta e os limites morais
perdem a importância. O gozo (que caminha de mãos dadas com a pulsão da morte)
cria a ilusão de que as incertezas e as carências podem desaparecer. A morte (imaginária,
simbólica, efetiva) pertence ao outro, ao inimigo – aquele que está destinado a
ser aniquilado sem piedade. E para que isso se concretize vale utilizar a
coação, a possibilidade de tornar público alguns segredos e a opressão
psicológica.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O terceiro episódio (<b>Safari</b>) possui
semelhanças com várias narrativas contemporâneas: <b>Jogos Vorazes</b> (Suzanne
Collins), <b>Battle Royale</b> (Koushun Takami), <b>O Senhor das Moscas</b> (William
Golding) e os filmes <b>O Show de Truman</b> (Dir. Peter Weir, 1998) e <b>Bacurau</b> (Dir. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, 2019). Em um futuro não muito
distante, alguns criminosos são colocados em uma arena televisionada para serem
caçados por milionários. Nesse programa de entretenimento, que simula uma selva
tecnológica, os prisioneiros, se conseguirem resistir por três sessões, serão
premiados com a anistia e uma gleba de terra – onde reiniciarão a vida social
como agricultores. Como acontece em textos complexos, há outra luta se
desenvolvendo em paralelo. Fora desse Coliseu moderno, a carnificina também
está presente. A luta por ascensão social e econômica projeta outro tipo de brutalidade
– talvez menos sanguinária, mas igualmente agressiva.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Safari</b> foi eleito o melhor romance chileno de 2022 e mostra, sem usar subterfúgios, algumas
das faces de um mundo que estabeleceu na violência o seu objetivo mais
importante. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u><b>TRECHO ESCOLHIDO</b></u></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Outro foguete RPG caiu a alguns metros
da casa e o mercenário Villanueva viu as paredes caindo, viu que o telhado
desabava sobre eles e correu em pânico, cruzou o batente da porta, caiu no
chão, fechou os olhos, pensou ter visto um exército de mortos, ouviu os gritos
dos mortos amplificados por um tubo amarelo que se estendi desde os esgotos do
mundo até o céu doente de Bagdá e então lhe veio um choque elétrico nas costas,
ou melhor, ele sentiu que tinha uma espinha, como um peixe, e logo não sentiu
mais nada, apenas pôde ver a estrutura destroçada e algumas vigas pontiagudas que
caíram sobre Gutierrez e seu corpo dividido em dois. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A cabeça de Gutierrez, já separada do
resto do corpo, girou sobre si mesma. Vista de baixo, recortada contra o céu
negro, parecia um meteorito de carne. O mercenário Villanueva olhou nos olhos
do morto e achou que eles pulsavam, ou que talvez retivessem um sopro de vida.
Essa foi, então, a última imagem que a cabeça veria neste mundo: os olhos de
outro homem, ferido, assustado, desejando estar em outro lugar e pensando em
sobreviver para a próxima batalha. (p. 63-64). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><br /><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR8sun7WwKIFFIBBObTyknZP1MMvh4HjGEnI2ToNQveqRM0NY6O-K2v1FFny3_OoXwsFatD0EvOuwyH_NJfqyzuGVuzAaztJOxt_OtC6kcQEs3ETz5TTuwGK-4jQ4wG03qLC_RkOKO2mbIplWkjwRVkIUZE5cMac6q0NmWw1h4A4EuRnbauDYX7mv4Flxt/s275/Pablo.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR8sun7WwKIFFIBBObTyknZP1MMvh4HjGEnI2ToNQveqRM0NY6O-K2v1FFny3_OoXwsFatD0EvOuwyH_NJfqyzuGVuzAaztJOxt_OtC6kcQEs3ETz5TTuwGK-4jQ4wG03qLC_RkOKO2mbIplWkjwRVkIUZE5cMac6q0NmWw1h4A4EuRnbauDYX7mv4Flxt/s1600/Pablo.jpg" width="275" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pablo Toro Olivos (Santiago do Chile, 1983)</td></tr></tbody></table><br />Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-10370759513377708992023-12-31T17:06:00.007-03:002024-01-04T07:24:26.108-03:00O ANO NOVO ANTECIPA O SURGIMENTO DO DRAGÃO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTHmel1xP4BmkbPa8Xx_2tQFvhZitVpOs9FlQUGA2yo9tqrkqjU2DN6M7yn_BjsAu9wQrVvi9INInG985mXe8hMaiz-08pM_JOHqamGugwg4W4sKD7Mrau18fpBaGOvBWc5oFmoj3QnYXBZZ9r02IBI3gVPs9rznpiqG4cPx1gbvUhNaowpkkRCV0EFqrR/s826/Drag%C3%A3o%201.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="472" data-original-width="826" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTHmel1xP4BmkbPa8Xx_2tQFvhZitVpOs9FlQUGA2yo9tqrkqjU2DN6M7yn_BjsAu9wQrVvi9INInG985mXe8hMaiz-08pM_JOHqamGugwg4W4sKD7Mrau18fpBaGOvBWc5oFmoj3QnYXBZZ9r02IBI3gVPs9rznpiqG4cPx1gbvUhNaowpkkRCV0EFqrR/s320/Drag%C3%A3o%201.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>O primeiro de janeiro deveria ser
proibido, e o dois de janeiro também. O ano deveria começar em vinte e um de
março</b>. Não haveria surpresa se fosse um brasileiro o autor dessas três frases.
No imaginário popular, o país só começa a funcionar depois do Carnaval. No
entanto, a declaração é do Pepe Carvalho, personagem de vários romances
policiais do espanhol Manuel Vásquez Montalbán. Evidentemente, ele se expressa
para caracterizar uma situação particular: a enorme ressaca alcoólica decorrente
da mudança de calendário no longínquo ano de 1984.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Trazendo esse pensamento para o momento
atual – em que a Terra efetuou mais uma rotação em torno do Sol –, podemos
dizer que, apesar de todas as tragédias (guerras, crise climática, preconceitos
diversos, fanatismo religioso,...), ainda estamos vivos. Não sei se isso
justifica pular sete ondas no mar, beber inúmeras taças de vinho, vestir roupa
branca, fingir afeto, comer lentilhas, romãs, uvas,... Tampouco é possível
encontrar motivos para suportar as previsões sobre o futuro, as listas dos melhores
e dos piores, e as retrospectivas – momentos que tentam transformar o processo histórico
em <b>faits divers</b>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Viver não é preciso, navegar é preciso</b>,
diria o poeta português, aquele que sobreviveu a inúmeras noites festivas em
completa solidão. No outro extremo da corda encontramos Guimarães Rosa, <b>a vida
é assim: esquenta e esfria, aperta e dai afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem...</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No filme <b>A Encruzilhada</b> (<b>Crossroads</b>.
Dir. Walter Hill, 1986), um estudante de guitarra procura por uma canção
perdida de Robert Johnson. A metáfora musical propõe um dilema: será que o
preço a pagar vale o que se recebe em troca? Só encontra a resposta quem escolhe
trilhar um dos caminhos da bifurcação. Essa atitude determina os acontecimentos
futuros. Por isso (e mais algumas coisas) cabe seguir na procura. Sem
expectativas ou ilusões, misturando alegria e medo. E com as armas que estão à
disposição, sejam elas o tacape ou o míssil nuclear.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Comprei espumantes, cervejas,
refrigerantes, isotônicos, garrafas de água mineral. Tudo no plural. O excesso
é um dos sinônimos do viver. Se não for, deveria ser. Salvo engano, estou
tentando consumir todas essas bebidas sem grandes preocupações hepáticas ou
diabéticas. Quase escrevi diabólicas – tenho dificuldades para fugir dos
trocadilhos ruins. Aliás, não é só nessa questão que encontro complicações. No
tropeçar diário, a serenidade parece estar se distanciando a cada segundo.
Nasci com pouca paciência.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O início do ano é uma convenção. Não tem
o mínimo significado para algumas culturas. Pelo calendário lunar chinês, o ano 4722 começa em 10 de fevereiro. Será conhecido como o ano do dragão
(do tipo madeira yang, uma dessas classificações complicadas do povo asiático). Previsões astronômicas e astrológicas indicam que haverá o cuspir de fogo em pessoas e cidades que negarem as
qualidades mágicas (ou ilusórias) do animal mitológico. Vou perguntar a
Daenerys Targaryen, Harry Potter, Lisbeth Salander, Lui Nakazawa ou para algum
monge tibetano o que preciso fazer para conseguir um desses animais de
estimação.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Enquanto isso não acontece, e não for
possível acelerar o tempo da imaginação, ciente de que cada história é um
acontecimento único, intransferível, e que ninguém herda a sabedoria, resta
olhar para os erros cometidos no passado e receber os novos desastres de braços
abertos. A vida não se resume em abraços, mas pode ser uma forma de iniciar o
ano, qualquer ano – se você for otimista. Não é o meu caso. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir_U78QEu_6huAKEep0YqsdRigRPhK92JSPbcwuF4d0dk-gJK8nNpNB094-PGyegtaN0YNCO0Xcq2JWuw-_jDcYx7gSzU7SYFzuxcOipXgJ1VbgrP8EipeACLnkLV0sx5HnGSSEnKhwOUPCrxJzxgX0K353RL8z7Wz0Vio6EhIobjXDvGFQdLgyx1RjG95/s970/Drag%C3%A3o%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="970" data-original-width="750" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir_U78QEu_6huAKEep0YqsdRigRPhK92JSPbcwuF4d0dk-gJK8nNpNB094-PGyegtaN0YNCO0Xcq2JWuw-_jDcYx7gSzU7SYFzuxcOipXgJ1VbgrP8EipeACLnkLV0sx5HnGSSEnKhwOUPCrxJzxgX0K353RL8z7Wz0Vio6EhIobjXDvGFQdLgyx1RjG95/s320/Drag%C3%A3o%202.jpg" width="247" /></a></div><br /><p><br /></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-87239647368142973622023-12-30T12:53:00.005-03:002023-12-30T17:56:52.726-03:00PROUST, TÂNIA, SALETE, LEANDRO KONDER<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOBN-9ooIAWSrEIMW4YZnbBxBd1gJT34_KaJVJT7QTnkJ8bCqkdJGSU2Mk3z1IiFXSVAiJimYxeMioZP4bE0hu8mc1UbE-S3JrzM_xx2Sf8VPirDn0-xWl0tmvhraEXk1_gdx9HQ1sgSMUXekMNNMBSHfGp4VvmBFOyhTJmjxiN6WPspOKi2viG-iRp8a8/s3045/20231228_104503.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1979" data-original-width="3045" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOBN-9ooIAWSrEIMW4YZnbBxBd1gJT34_KaJVJT7QTnkJ8bCqkdJGSU2Mk3z1IiFXSVAiJimYxeMioZP4bE0hu8mc1UbE-S3JrzM_xx2Sf8VPirDn0-xWl0tmvhraEXk1_gdx9HQ1sgSMUXekMNNMBSHfGp4VvmBFOyhTJmjxiN6WPspOKi2viG-iRp8a8/s320/20231228_104503.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Estou me organizando para ler os sete livros que compõem <b>À Procura do Tempo Perdido</b>, do Marcel Proust (1871-1922). Comprei os
dois primeiros volumes da nova edição brasileira (Companhia das Letras), mas
eles estão intocados na estante. É que não quero mergulhar no abismo sem alguma
rede de proteção. Ou seja, vou ler, antes de tudo, alguns ensaios críticos e
biográficos (Roberto Machado, Samuel Beckett, Vladimir Nabokov, Alain de
Botton, Joseph Czapski, Celéste Albaret, Edmund White e outros). Depois
é que iniciarei a aventura.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Talvez isso seja um preciosismo. Mas,
alguns leitores possuem baixo nível de compreensão de certas coisas (ou das
coisas certas). Não me considero enquadrado em um desses casos em que é difícil
distinguir a loucura da lucidez, até porque conheço situações piores. No
entanto, como é de conhecimento amplo, geral e irrestrito, a literatura produzida
por Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust (nome completo do escritor) não
é exatamente chá com bolinhos (embora... chás e bolinhos façam parte do cenário).</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No meio de um dos livros do Roberto
Machado, <b>Proust e as artes</b> (Editora Todavia, 2022), encontrei menção ao
Bergotte (um personagem proustiano importante). Nesse momento, alguma gaveta da
memória se abriu. Junto trouxe a dúvida. Onde foi que li esse nome? Interrompi
a leitura e fiquei a pensar nesse mar de papel e tinta que compõe a biblioteca
(ou melhor, todas as bibliotecas do mundo). Em algum lugar, qual?, encontrei Bergotte
– e não foi nos livros de Proust.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Duas da manhã. A intuição me dizia que a
solução estava escondida em algum lugar das estantes que abrigam a literatura
brasileira. Bastava procurar. De repente, tudo se esclareceu. Poderia chamar esse
momento de insight, epifania, revelação, satori, estalo de Vieira, sei eu lá o
quê. Poderia.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Foi em 2000 ou 2001. Aluno do mestrado em
literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. Aula da Tânia Regina
Ramos. Trabalho de grupo. Salete Lopes fazia parte da minha equipe – desculpem-me,
não me lembro das outras pessoas que estavam conosco. A proposta era ler um dos
livros da coleção Literatura ou Morte (Companhia das Letras) – e escrever um
texto sobre a experiência. A nós coube <b>Medo de Sade</b>, do Bernardo Carvalho.
Creio que completamos a tarefa com eficiência.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Embora (naquele tempo) estivesse próximo da falência, aos poucos fui comprando
os outros livros que foram usados na disciplina acadêmica. Foram esses volumes
que procurei no meio da madrugada (porque a menção ao Bergotte não está no romance do Bernardo Carvalho). Não sei se encontrei todos. Fui conferir na
Internet e pouco ou nada encontrei sobre a coleção. Vinte e poucos anos parecem
uma eternidade. Rastros desaparecem na luminosidade de outros acontecimentos.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A referência está em <b>A morte de
Rimbaud</b>, do filósofo Leandro Konder (1936-2014). O texto está encharcado de
citações proustianas e francesas. Depois que o mistério se esclareceu, lembrei
que li o romance com bastante interesse porque Konder escreveu dois textos que,
naquela época, me impactaram muito: <b>A Derrota da Dialética</b> (Editora Campus, 1988)
e <b>Walter Benjamin: o Marxismo da Melancolia </b>(Editora Campus, 1988).
Esporadicamente, releio trechos desses livros – é tão bom quando percebemos que
o tempo não dissolveu os ensinamentos do Mestre.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: 12pt; text-align: left;">Por algum motivo, e não sei exatamente qual,
tudo o que posso dizer sobre essa história é que, sentado no sofá, com os
livros da coleção nas mãos (alguns bastante surrados), </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; text-align: left;">fiquei com saudades das aulas da Tânia, da
generosidade da Salete, da inteligência do Leandro Konder. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; text-align: left;">A curiosidade
pelas frases intermináveis do Proust aumentou.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxMd4gFx6bNCKl4qjDICN73ppmptSN9vBTtBrvYnQ5IHbu5dLcXbaUsd0ApT_YUjSWN6aluYIie1n_QeHZ6ph87bBwU9wtygW1rxBClLRSbrYsJ_5EICNyTwTCGJj91mKco-8Zxfh2y6xQBo8eVs5An3k9rPpBgDuEUeaRLzbXGbaoZh1BHatMt2sU9x1B/s4080/20231230_122542.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4080" data-original-width="3060" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxMd4gFx6bNCKl4qjDICN73ppmptSN9vBTtBrvYnQ5IHbu5dLcXbaUsd0ApT_YUjSWN6aluYIie1n_QeHZ6ph87bBwU9wtygW1rxBClLRSbrYsJ_5EICNyTwTCGJj91mKco-8Zxfh2y6xQBo8eVs5An3k9rPpBgDuEUeaRLzbXGbaoZh1BHatMt2sU9x1B/s320/20231230_122542.jpg" width="240" /></a></div><br /> <p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-82869520759900655512023-12-22T19:26:00.002-03:002023-12-22T21:35:31.113-03:00O REI DA ÁGUA<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTA960023QlI4QNkVP3bV3UKa3IZsT8I9AplalPrMlQruqxAd8Lm5lUu_sLPUR9mcGU5hRkRNGxhxJycYN_6dUEw_x9e4B9sF_h9H0nI8RXtBtfA0poI2vDu8faAq6oKxhsRWqZYtjQGOwwSyWSs6LM5LIZyNgzo7XHFD9B3IHK5wfFc3We0SDBr_v9lvQ/s3825/IMG_20231213_114317_072.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3825" data-original-width="3060" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTA960023QlI4QNkVP3bV3UKa3IZsT8I9AplalPrMlQruqxAd8Lm5lUu_sLPUR9mcGU5hRkRNGxhxJycYN_6dUEw_x9e4B9sF_h9H0nI8RXtBtfA0poI2vDu8faAq6oKxhsRWqZYtjQGOwwSyWSs6LM5LIZyNgzo7XHFD9B3IHK5wfFc3We0SDBr_v9lvQ/s320/IMG_20231213_114317_072.jpg" width="256" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em um mundo aquático, no futuro
distante, as irmãs Andrea e Juana precisam decidir se aceitam receber uma
indenização pela morte do pai. Como acontece em muitas relações fraternas, as duas
mulheres sentem prazer ao saborear os frutos do antagonismo. Criadas separadas,
com interesses (inclusive econômicos) divergentes, olham uma para a outra como
se fossem estranhas. E são. Uma foi criada pelo pai (ativista político), a
outra pela mãe (atriz). E não se encontram em nenhuma das páginas do texto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A narrativa abusa das frases poéticas,
compondo um campo onírico e repleto de metáforas que levam a imaginação do
leitor para lugares que parecem estar distantes da linha narrativa principal –
que talvez não seja de fácil percepção porque <b>O Rei da Água </b>(Editora Peabiru, 2023) integra uma
trilogia (<b>Pichonas</b> e <b>El Ojo y la Flor</b>, as duas partes que o circundam não
foram traduzidas no Brasil). Em alguns trechos parece estar faltando (ou
sobrando) alguma informação. O estranhamento se faz presente.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O mundo está se tornando desertificado,
a água potável substituiu o combustível fóssil como a <b>commodity</b> mais importante.
A cidade de Tigre (Província de Buenos Aires, Argentina), aproveitando a riqueza
líquida que é o Aquífero Guarani, se transforma em uma das principais fornecedoras
mundiais. E isso, independente de outras questões, significa que a política, a
economia e as ações sociais são administradas pelo Estado (ou por seu
representante). O controle do consumo se torna um item essencial para extrair o
máximo de lucro de uma atividade que tem vida útil limitada. Água é poder –
segundo Tempe, o rei da água.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Como se fosse o abrir das comportas de
uma represa, o fluxo narrativo avança na descrição de personagens estranhos,
pouco críveis, como Tullio (o advogado) ou Cresta (o palestrante). São objetos
(abjetos) que não combinam com a decoração do cenário, que confundem o
desenrolar dos acontecimentos, que destoam de Galo e de Dalezio (os
companheiros de Andrea e Joana, respectivamente). Esses invasores parecem
querer encontrar <b>navios ancorados, destroços suspensos</b>, mas são incapazes de
entender a <b>topografia subaquática</b>, e então nada mais lhes resta senão
aparecerem e desaparecerem do texto como se fossem barcos à deriva no
torvelinho.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O livro apresenta algumas referências às ditaduras militares, às lutas ecológicas, ao feminismo. Mas, nada se
expressa de forma explícita ou panfletária, a fabulação prevalece e a narrativa
procura manter uma distância segura de todos esses temas, embora não faça
omissão de cada um deles. Exceto no momento mais simbólico. Entre 1976 e 1983, muitos
argentinos foram sequestrados pela polícia e o exercito. Depois de muitas
sessões de torturas, foram jogados em mar aberto. Calcula-se que cerca de 4.000
pessoas foram vitimas desse método de execução. Os corpos se dissolveram na
água e, portanto, nunca foram encontrados.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Juana, que trabalha com internet, navega
em outro tipo de águas. No entanto, estar atrás do computador não amplia a sua
imunidade aos predadores. A diferença está nos perigos e no medo que precisa
contornar. A vida é uma espécie de tsunami – não há diferença se é real,
imaginário ou virtual, porque a destruição é incontrolável. Nesse sentido, como
afirma o pai das irmãs, <b>Não leve a vida muito a sério; você não vai sair vivo
dela</b>.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhP59e1bT52hYHoQLkJPfUMqSc8z-ZLgREB73CHOBxFhO0Pn7HnuCcsHia3BV76war0pQKSxSuAi1PkGlSyF8-Lab4HRk_9o9T1nqNoTe4CkaCHszi1uXI7oWxGsEqdE15kii1G8SCixhG9vIL_2k-TdXVui0op_LSVr75Vx6F52xZZ8veH2jJ-ME0Sev2t/s1766/Claudia%20Aboef.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1766" data-original-width="1179" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhP59e1bT52hYHoQLkJPfUMqSc8z-ZLgREB73CHOBxFhO0Pn7HnuCcsHia3BV76war0pQKSxSuAi1PkGlSyF8-Lab4HRk_9o9T1nqNoTe4CkaCHszi1uXI7oWxGsEqdE15kii1G8SCixhG9vIL_2k-TdXVui0op_LSVr75Vx6F52xZZ8veH2jJ-ME0Sev2t/s320/Claudia%20Aboef.jpeg" width="214" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Alejandra Lopez</td></tr></tbody></table><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Claudia Aboef (Buenos Aires, Argentina, 1960), mora em Tigre, na Província de Buenos Aires, e publicou <b>Medio Grado de la Libertad</b> (2003), <b>Pichonas</b> (2014), <b>El Rey del
Agua</b> (2016), <b>El Ojo y la Flor</b> (2019). Escreve artigos sobre a literatura
argentina em diversas revistas. Também se interessa pela astrologia. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-32637005193122620082023-12-11T14:43:00.005-03:002023-12-20T19:50:17.175-03:00A CIDADE E OS SEUS ESPAÇOS VAZIOS<p><br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPmEr6O2oYFzF9TsrbwvX2FOaehqP_C6K5T7M9OMc9mf9l8d70jXVqJTYZTNIAswwR9V8tq2qwFlM8xVlQbFLbM8m5n5EZ6NgdsJ1hbgHtIVP_nH2ZSGN1BTnfkh1nmrCh5tn2M6Y5zdys1SvBZcD0tFDyi3Omc4VYuxGyJyCxtew3xvMv3zYO0h6bXAC3/s4128/833.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4128" data-original-width="3096" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPmEr6O2oYFzF9TsrbwvX2FOaehqP_C6K5T7M9OMc9mf9l8d70jXVqJTYZTNIAswwR9V8tq2qwFlM8xVlQbFLbM8m5n5EZ6NgdsJ1hbgHtIVP_nH2ZSGN1BTnfkh1nmrCh5tn2M6Y5zdys1SvBZcD0tFDyi3Omc4VYuxGyJyCxtew3xvMv3zYO0h6bXAC3/s320/833.jpg" width="240" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A decomposição arquitetônica da cidade ocorre
todos os dias. Pontos de referência somem. Árvores continuam sendo cortadas. Ruas
e avenidas surgem e desaparecem com rapidez. Todos os dias, demolição. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O novo
sempre vence. A nossa herança são os escombros – que raramente são recicláveis.
Através dos espaços vazios que são abertos no cenário urbano, o progresso (insaciável)
avança – sem compromissos com o passado, sem interesse no inventário das
perdas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O mercadinho de bairro, onde comprávamos
“de caderneta”, agora é um prédio de vários andares. As livrarias deixaram de
existir e, em seu lugar, inauguraram lojas que vendem mercadorias que ninguém
quer adquirir. Os cinemas foram substituídos por templos religiosos. As farmácias
se multiplicaram. As bancas de revistas oferecem milhares de produtos, exceto
revistas e jornais. Os supermercados ignoram as fronteiras nacionais e anunciam produtos de todas as partes do mundo. O mundo “gourmet” invadiu a
vida de todos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Esses empreendimentos, seguindo a ordem
geral das coisas, possuem vida efêmera – existem no intervalo temporal entre
duas crises econômicas. Nada é permanente – exceto a memória, esse lapso
melancólico de quem se apega ao passado e, teimosamente, recusa se adaptar ao
presente. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A selvageria se tornou norma, ou melhor,
normal. Seguindo a cartilha dos novos bárbaros, não existe interesse nas
histórias que deixaram de serem contadas, nas pessoas que são expulsas diariamente
dos locais onde depositaram as raízes familiares, no patrimônio cultural que
vai sendo soterrado lentamente, nos deuses domésticos que foram abandonados.
Tudo é mutável, porque o escambo silencioso tomou conta da paisagem e a
transformou em mercadoria.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Os espaços vazios de afeto dominam a
existência urbana. Os sentimentos não possuem valor comercial, não possibilitam
lucro ou acumulação. O mesmo se pode dizer das praças, desses locais onde as pessoas
param para descansar ou apenas respirar o ar da cidade onde moram. As praças
são lugares onde o choque e a resistência se encontram, separando a inocência e
a brutalidade de um mundo em transformação.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Os profetas do apocalipse detestam as
praças e afirmam que a imobilidade está na contramão do empreendimento. Discursam
no púlpito mercantil que o canto das sereias deve ser entendido como um mantra
religioso – as divindades monetárias acima de todas as coisas. Por isso, multiplicam
as vias expressas, os carros velozes e furiosos, e elegem a rapidez como
sinônimo de trabalho. Em nenhum momento conseguem perceber que esse tipo de
ação está envolto na tristeza. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Não há o mínimo sentido em acreditar que
a tristeza é o preço que devemos pagar pelo amor. A cidade precisa de alegria, de
luz, de parques, de esperanças, de políticas sociais, de moradias para todos. A
cidade precisa de pessoas que gostem dela e que estejam distantes dos vendilhões
do templo. Ninguém pode impedir as mudanças, mas o futuro não precisa estar ligado
aos que fazem da ambição uma profissão de fé.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Viver em sociedade difere de estar
preocupado com o preenchimento dos espaços. É algo diferente. É se sentir
acolhido pela beleza, ampliar o horizonte, impedir o isolamento. É desconfiar
das certezas e acreditar no humano. É ver o mundo com os olhos da poesia. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9puMeQRed1gx_IgdfksSi13UccR1g1Tc6JogjtMfV90B0y99xoHgqkowTvVTjJP4bhG8KtEUV0Q3nZ_LZAPodLEfSDrQ_HI8XyFrnBasIyJ-jlgDVm8IVcvJZ76jreWlZ71Hf_C9-5_-HhjfZF4Y1kkmIcgnnKsODZ_-1YQL9dWxYt5-4aBd-AOLdPioP/s3088/720.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3088" data-original-width="3088" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9puMeQRed1gx_IgdfksSi13UccR1g1Tc6JogjtMfV90B0y99xoHgqkowTvVTjJP4bhG8KtEUV0Q3nZ_LZAPodLEfSDrQ_HI8XyFrnBasIyJ-jlgDVm8IVcvJZ76jreWlZ71Hf_C9-5_-HhjfZF4Y1kkmIcgnnKsODZ_-1YQL9dWxYt5-4aBd-AOLdPioP/s320/720.jpg" width="320" /></a></div><br /><p><br /></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-39512544412112769462023-11-28T15:22:00.002-03:002024-03-08T19:51:47.252-03:00O ESCRIVÃO COIMBRA E OUTROS CONTOS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhKWtKEU3AnMs-YRsuvOUxjMPEkVH_-lLPouvHU-CywdFC7Ita-c_wWDT5oreI77_glF0ESj3LmkydOR8ix4lqc6ftfiNf4d8ZwuHCg_fBOLfmfQndbZp2n1sWMDaJdmqc3ZIsx1YrTcbR9Rf56AFeChWJWvwl5zvmMtWAlizta9zdEn-8sFFwGD-Kc3UO/s3825/IMG_20231125_111213_134%20(1).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3825" data-original-width="3060" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhKWtKEU3AnMs-YRsuvOUxjMPEkVH_-lLPouvHU-CywdFC7Ita-c_wWDT5oreI77_glF0ESj3LmkydOR8ix4lqc6ftfiNf4d8ZwuHCg_fBOLfmfQndbZp2n1sWMDaJdmqc3ZIsx1YrTcbR9Rf56AFeChWJWvwl5zvmMtWAlizta9zdEn-8sFFwGD-Kc3UO/s320/IMG_20231125_111213_134%20(1).jpg" width="256" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Passei os últimos quinze dias na
companhia do Machado. Sim, o Joaquim Maria, conhecido na província por muito
ter publicado nas gazetas do século XIX. Parece que tinha coceira nos dedos e
nas ideias, visto que tentou de tudo um pouco: crônicas, contos, romances,
poesia e, para o bem e para o mal, teatro. Não foi mau escritor,
definitivamente não foi, mas faltava-lhe um bom agente literário e tradutores
competentes. Sem isso nenhuma carreira literária prospera em um mundo onde a
propaganda substituiu o talento.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Os 17 contos selecionados pelo Luiz
Ruffato para <b>O Escrivão Caminha e Outros Contos</b> (São Paulo: Carambaia, 2021) não
devem ser lidos como se fossem os melhores textos de Machado, são apenas
aqueles que o organizador do livro considerou como seus preferidos. De minha
parte, incluiria no volume <b>Cantiga de Esposais</b>, <b>A Igreja do Diabo</b> e <b>As
Academias do Sião</b>. Mas essa objeção não tem a mínima relevância, tampouco reduz
a importância da seleção e do Mestre. A responsabilidade daquele que vai ao
pomar é a de tentar trazer as melhores frutas. Nunca está preocupado se algum
sabor desagrada.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O famoso <b>humour</b> de Machado aparece em
alguns dos contos. O cinismo, também. A última frase de <b>Pai contra mãe</b> mostra
uma faceta que poucos ensaístas consideram como importante. Ao admitir que <b>Nem
todas as crianças vingam</b>, o narrador (que exerce uma profissão pouco
recomendável) referenda a eugenia (e, em paralelo, a escravidão). Alguém há de
defender o sujeito alegando o <b>zeitgest</b> e outras patacoadas similares. A vida
é seletiva, como comprova o conto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O moralismo punitivo de <b>O Caso da Vara</b> assusta. A metáfora discriminatória usada em <b>Singular Ocorrência </b>não passaria
batida atualmente (<b>Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de
meninas; vá excluindo as profissões e lá chegará</b>). A tragédia burguesa, que
encontra na traição conjugal o seu ápice, mostra o maior de seus lugares comuns
em <b>A Cartomante</b>. A ingenuidade infanto-juvenil contrasta com o espelho da vida
adulta em <b>Umas Férias</b>.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Significativamente, <b>A Teoria do
Medalhão</b> não envelheceu. Os charlatães continuam sem originalidade, recitando
frases feitas, tentando impor soluções fáceis para problemas complexos e,
sobretudo, procurando levar vantagem em tudo. Assim como o pai de Janjão, são muitos
os professores da mediocridade. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A frase mais mentirosa da literatura
brasileira (<b>Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há
muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta</b>) ainda causa desconforto no
leitor. Que, aos dezessete anos, o narrador não tenha percebido as entrelinhas
do evento, qualquer um compreende; mas que essa ingenuidade perdure vários anos
depois, quando ele coloca no papel os acontecimentos... acredite quem quiser. São
vários os trechos problemáticos de <b>Missa do galo</b>: a conversa sussurrada, a
visão dos braços de Conceição, ou <b>Deu a volta à mesa e veio sentar-se do meu
lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a furto, o bico das chinelas; mas foi
só o tempo que ela gastou em sentar-se, o roupão era cumprido e cobriu-as logo.
Recordo que eram pretas</b>. Essa citação é suficiente para escrever uma tese de doutorado (na área da psicanálise). No final do conto, ao saber que Conceição, depois que
ficou viúva, casou com o escrivão juramentado do marido, o narrador parece
propor o patético como desfecho; todavia pode ser que isso seja apenas a negação
por não ter conseguido alcançar o que perdeu. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Dito isto e o que deixou de ser dito, ficou
belíssima a edição do livro: capa dura, projeto gráfico de primeira linha,
papel de qualidade. Fantástica homenagem ao gênio do Joaquim Maria. <o:p></o:p></span></p><br /><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNVjoEt9jtVTFM4Nwy5AfNVs6Jhmf2UuX4l9QvBv1PFD0hHIZT8Ej7Rs5cuRRs31sT4EOvUYn8zDCbQKUdShlj1PRt3FMhR8NzwAHHRQP_m5MMexPO6Dvq0q5nhg3XFRfHtOExnWm-bummYqtvNk9-hXSm6QjS8OOesHlQZNUhW4LCSYuUJm7XTtaJT5kY/s505/Machado.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="505" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNVjoEt9jtVTFM4Nwy5AfNVs6Jhmf2UuX4l9QvBv1PFD0hHIZT8Ej7Rs5cuRRs31sT4EOvUYn8zDCbQKUdShlj1PRt3FMhR8NzwAHHRQP_m5MMexPO6Dvq0q5nhg3XFRfHtOExnWm-bummYqtvNk9-hXSm6QjS8OOesHlQZNUhW4LCSYuUJm7XTtaJT5kY/s320/Machado.jpg" width="253" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Joaquim Maria Machado de Assis (1839 - 1908)</td></tr></tbody></table><br /><p><br /></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-63802194540907392002023-11-21T10:52:00.003-03:002023-11-21T14:30:13.430-03:00DEIXAR PARA AMANHÃ O QUE NÃO QUERO FAZER HOJE<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7s-X5PRqd05wsLs85i5s2QUHLcZVq9wDPBeOfto0qvPR_EkLnu5dokl0hWvPSJLipiyAqahozflSvrvidXdjykYrVNtrXAmK5SApFPG8Py7BxEi9J53nX5FCt7zCtliyxUHv1eG-C0Kk1knbuyyhmJWdnysKnodgk7F8X1hKghnlPgd4pdMgvwEjJsra9/s640/Mudan%C3%A7a.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="414" data-original-width="640" height="207" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7s-X5PRqd05wsLs85i5s2QUHLcZVq9wDPBeOfto0qvPR_EkLnu5dokl0hWvPSJLipiyAqahozflSvrvidXdjykYrVNtrXAmK5SApFPG8Py7BxEi9J53nX5FCt7zCtliyxUHv1eG-C0Kk1knbuyyhmJWdnysKnodgk7F8X1hKghnlPgd4pdMgvwEjJsra9/s320/Mudan%C3%A7a.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na última mudança de domicílio, quatro anos atrás,
encaixotei uma série de livros, cópias xerox, artigos de jornal, cartas,
documentos e outras bugigangas. A ideia era, na primeira oportunidade, fazer
uma faxina e jogar fora tudo o que tinha deixado de ter utilidade. O tempo
escorreu pelo vão dos dedos e a promessa perdeu o sentido e a direção. Quer
dizer, esqueci. Ou melhor, fingi que esqueci. Adoro postergar. E a verdade (que
nunca é agradável) precisa ser dita: não nasci para ser formiga ou abelha.
Gosto de viver sem as amarras funcionais. Adoro o improviso. Em outras
palavras, detesto as rotinas – exceto, óbvio, aquelas que construo para meu
usufruto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Recentemente, comprei várias pastas
arquivo. A ideia é tentar organizar alguns textos que publiquei em jornais e
revistas, além dos recibos dos boletos que – contra a vontade – precisei pagar.
Dizem que a gente deve guardar esse tipo de documentos por, no mínimo, cinco
anos. Por mais cuidadoso que for o sujeito, sempre aparece (como um passe de
mágica!) alguma fatura que foi esquecida. No mês passado quase fui atropelado
pelo condomínio. Consegui resolver o problema nos últimos dez minutos da
prorrogação do segundo tempo. Então foi aquele corre-corre para fazer um gol salvador,
digo, um pix. Se essa medida emergencial não funcionasse, talvez tivesse que
tentar sobreviver à disputa de pênaltis (ou a uma multa por falta de pagamento).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Enquanto o mundo ao redor se estrutura
com as coisas certas nos lugares certos, sou assombrado pelo espírito de
Macunaíma. Meu mantra favorito, <b>Ai! que preguiça!</b>, costuma me empurrar na
direção do sofá, onde posso ler um pouco, ouvir jazz, sonhar com
projetos que jamais se concretizarão, dormir. Deve ser algum tipo budismo
(inexistente) orientando para o sossego, para construir a serenidade no meio do
vendaval.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Comecei a limpeza das caixas lentamente.
Muito lentamente. Trabalho uma tarde e folgo quatro ou cinco. Não estou com
pressa. Com um mínimo de boa vontade, poderia terminar antes do ano novo.
Poderia. No entanto, para não atropelar os desígnios do universo, estabeleci
como meta o meu aniversário (em fevereiro). Provavelmente esse prazo será
estendido por mais uns dois meses (chuvas, calor, viagens, indisposição, alguma
outra desculpa não catalogada e que surgirá em caso de emergência).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Tenho o cansaço antecipado do que não
acharei</b>, escreveu Álvaro de Campos, lembrando que o esforço pela produção
exaustiva se opõe à simplicidade. Nesse
tipo de comportamento obsessivo não existe encantamento, graça ou charme. A tranquilidade
desaparece, o medo prevalece. Gosto de pensar que estou em lado oposto e que desfruto
da ligação amorosa que existe entre o lazer e o prazer (essa que encontramos em
uma boa refeição, cerveja gelada ou ao perceber que as nuvens formam desenhos
divertidos).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Só a poesia salva. Ou ameniza o
espetáculo contínuo da desumanização. A vida precisa ambicionar algo mais do
que ganhar dinheiro ou se realizar profissionalmente (essa ilusão induzida pelos
donos dos meios de produção). As pequenas glórias passam rapidamente – o que
permanece está em outra esfera. O bom mesmo é sentar na praça – sem um pingo de
culpa – e ficar vendo a banda passar. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoZ_sSOwjB6o0XrwTCnYdEXMQaRdlzRUAbqIsHt8c7zcDqPSX2tRaPKVRTnK4brBXtVPs0m0ZwHs80IxArBHSRlBAoeLIee0M6aka7vQLl9oBrVJ40eNbaR-mtBouheZzYGmKc8y0sM8u6bwpsnHM3SSFaaFbOVFqY7mqwAx2RNtdS0ZM6XeQMgpzFwoQm/s300/Pra%C3%A7a.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoZ_sSOwjB6o0XrwTCnYdEXMQaRdlzRUAbqIsHt8c7zcDqPSX2tRaPKVRTnK4brBXtVPs0m0ZwHs80IxArBHSRlBAoeLIee0M6aka7vQLl9oBrVJ40eNbaR-mtBouheZzYGmKc8y0sM8u6bwpsnHM3SSFaaFbOVFqY7mqwAx2RNtdS0ZM6XeQMgpzFwoQm/s1600/Pra%C3%A7a.jpg" width="300" /></a></div><br /><p><br /></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-82579657399507008272023-11-17T16:05:00.010-03:002023-11-18T16:09:25.395-03:00A CÓLERA DE AQUILES<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3uBU9gCUIV_1X1Ny_UJ8qt_mp39Yxu6XRZ1ON_biTpU2FUXidkP4sMDiJzUN8v6QE2bCAXYqMJNBD8vWV8inevzvFdAxv-xKF8a67S2vFo-Wk9FYe0QoZaEopt2m5NU3NY4TC-v2-oL9x3Qdw-8fkDH5puQz5lO1o-M8M4A-K-X_6GyJiHKa3-YB1Wcyl/s1024/Tr%C3%B3ia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="1024" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3uBU9gCUIV_1X1Ny_UJ8qt_mp39Yxu6XRZ1ON_biTpU2FUXidkP4sMDiJzUN8v6QE2bCAXYqMJNBD8vWV8inevzvFdAxv-xKF8a67S2vFo-Wk9FYe0QoZaEopt2m5NU3NY4TC-v2-oL9x3Qdw-8fkDH5puQz5lO1o-M8M4A-K-X_6GyJiHKa3-YB1Wcyl/s320/Tr%C3%B3ia.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Hybris</b> é um conceito grego que
significa, entre outras coisas, tudo aquilo que passa do limite.
Literariamente, está associado com as ações de Aquiles durante o cerco de
Ílion (Tróia) pelo exército grego. Quem conta essa história é Homero no poema <b>Ilíada</b>.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No décimo ano da guerra de Tróia, o destempero
de Aquiles se aproxima do absurdo. Primeiro, ele se desentende com Agamêmnon e,
num aceso de fúria, resolve entrar em greve. Ou seja, recusa continuar participando
da luta. Somente vai mudar de postura com a morte de Pátroclo. Heitor, o
herdeiro do trono troiano, arremessa uma lança contra o corpo do adversário,
que tinha sido ferido por Euforbo. Sem procurar entender que o primo violou as
regras de segurança ao roubar a sua armadura e substituí-lo no campo de batalha,
Aquiles exige vingança a todo custo. Apesar de ser avisado por Tétis (sua mãe)
de que se insistisse na fúria, morreria algum tempo depois, Aquiles enfrenta
Heitor em um combate épico.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Depois de matar o troiano, e mostrando
falta de compaixão, Aquiles recusa devolver o corpo do adversário e o arrasta pelo
chão durante nove dias. Esse é um dos momentos fulcrais da narrativa. Ao não permitir
as homenagens mortuárias para Heitor, e a trégua que isso acarretaria, Aquiles
rompe com as normas sociais e, tomado pelo ódio, vilipendia a honra grega – que
nunca mais poderá ser reparada. Essa brutalidade produz, nos homens e nos
deuses, desprezo ao soldado quase invencível.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Foi necessário que Príamo, rei de Tróia,
arriscando a própria vida, vá até o acampamento grego implorar pelos restos
mortais do filho. A morte está associada com alguns rituais culturais e ele
deseja que o corpo de Heitor tenha o funeral digno de um guerreiro. Também quer
obter algum tipo de conforto para aqueles que precisarão continuar vivendo – o
que não será possível enquanto o cadáver não for devidamente velado e pranteado
pelos pais, irmãos, esposa, filhos, todos os troianos.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Matar Heitor não trouxe Pátroclo de
volta e sequer permitiu alívio para as dores da perda de Aquiles. Ao contrário,
aumentou os tormentos do grego. Aquiles sempre se sentiu desconfortável em um mundo
onde era obrigado a ser agressivo a todo instante. Foi essa percepção que o imunizou
de sentimentos que poderiam torná-lo humano – e, consequentemente, um fraco.
Foi esse entendimento que motivou a barbárie insana.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Conforme estava previsto, logo depois
que os gregos conseguem entrar em Tróia (usando um ardil elaborado por Odisseu),
Aquiles foi morto por Páris (um dos irmãos de Heitor). A flecha certeira que
atinge o calcanhar do grego é guiada por Apolo (deus do Sol) – um dos muitos inimigos
de Aquiles.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Nas guerras, a loucura se impõe. Alimentada
pela amargura, a civilidade é profanada a todo instante e perde o formato de
regra comportamental. Deixam de existir as fronteiras entre o bem e o mal. Tudo passa a ser
permitido. É como se a selvageria fosse o impulso necessário para humilhar o
inimigo – e negar que o vencedor e o vencido são complementares (a morte de um
é a morte do outro).</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na modernidade, a cólera de Aquiles costuma ser reencenada diariamente. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvKleX627rXSHTeKVbpJhbhrgxZiTjvC22WfJDCjZnzu9w9Yo4Ui-K_otTrfB0XwtOWl_CNp3Puyg5k1AINbrtniZSl72ayWhneqU0jI0NSDlydZK5IDqZ9uyTT6hIwzJhqUEwE0VmQehUT50aXXThBMgdKkIeDWBvWG_kqU8NxkUpRrTcfoomP9jlQCC0/s650/iliada.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="422" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvKleX627rXSHTeKVbpJhbhrgxZiTjvC22WfJDCjZnzu9w9Yo4Ui-K_otTrfB0XwtOWl_CNp3Puyg5k1AINbrtniZSl72ayWhneqU0jI0NSDlydZK5IDqZ9uyTT6hIwzJhqUEwE0VmQehUT50aXXThBMgdKkIeDWBvWG_kqU8NxkUpRrTcfoomP9jlQCC0/s320/iliada.jpg" width="208" /></a></div><br /><p><br /></p><p><br /></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-16594171139509880462023-11-13T15:40:00.010-03:002023-11-13T17:43:22.512-03:00QUANDO OS LIVROS CAUSAM INCÔMODOS<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwgy_p4tvM6L8O0_UyiBbx49eGfuzQKv7sKns4_M9SbPHFnMBhhGLV_0gCbnldPcsgDlaRiGDDi4BOrhyphenhyphendEI6fFDQdk62PnSkuC5PKoZY23rEQ9UAP9EpexMg7q1T-YsIpPLg0Ya-Qn7YI2T3wXPwbDeh0X95Ch60L1jmsuM9qRTsfjJR-xkjR9xrn77iw/s275/Livros.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwgy_p4tvM6L8O0_UyiBbx49eGfuzQKv7sKns4_M9SbPHFnMBhhGLV_0gCbnldPcsgDlaRiGDDi4BOrhyphenhyphendEI6fFDQdk62PnSkuC5PKoZY23rEQ9UAP9EpexMg7q1T-YsIpPLg0Ya-Qn7YI2T3wXPwbDeh0X95Ch60L1jmsuM9qRTsfjJR-xkjR9xrn77iw/s1600/Livros.jpg" width="275" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Costuma-se
dizer que as más ações ocorrem porque alguém está procurando por boas ações.
Não é a regra geral, mas a incidência desses desastres ocupa posições elevadas
nas estatísticas. No entanto, o mais comum é que algumas catástrofes ocorram
por maldade – pura e simples. Possivelmente foi isso o que aconteceu quando um
segmento da Secretaria de Educação do governo de Santa Catarina, no dia 07 de
novembro, decidiu que alguns livros devem ser recolhidos das bibliotecas escolares estaduais. Ou seja, ficarão fora
do alcance de parte dos alunos catarinenses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Não
cabe discutir se os livros censurados (e este é um caso explícito de censura) são
apropriados (ou não) para os alunos. Esse é o aspecto secundário da contradição
principal – a liberdade de escolha. Ao leitor cabe a responsabilidade pelo que
ele escolhe ler. Não é tarefa estatal interferir nesse tipo de atividade. Além
disso, contraria uma das tarefas mais importantes da área educacional: garantir
que a leitura seja possível – e em todos os níveis. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Criar
um novo <b>Index Librorum Prohibitorum</b> nada mais é do que uma forma de gerar novos
leitores. Provavelmente esses livros estavam fora do radar de centenas de
alunos e adultos. A curiosidade move montanhas, excita e estimula na descoberta
de desejos e prazeres. Diante do buraco da fechadura, todos querem espiar (mesmo
que seja para encontrar a decepção).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Sintomaticamente,
os livros que estão sendo retirados das bibliotecas escolares tratam de temas
que oscilam entre a religião, a política, <b>bullying</b> escolar, os relacionamentos
afetivos e a violência juvenil. Quem se sente ameaçado por esses assuntos? Quem
quer impedir a discussão das questões abordadas nesses textos? Como ensina o
clássico <b>Fahrenheit 451</b>, de Ray Bradbury, os livros são perigosos e os
governos autoritários procuram combatê-los. Violentamente. Seja retirando-os do
alcance do leitor, seja destruindo-os. Exemplos históricos não faltam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Um
fato importante na situação está na visível desatualização do ato de censura. A
leitura do livro físico possibilita melhor compreensão do enredo narrativo, mas
(quando tentam impedir essa possibilidade) sempre se pode optar por alguma alternativa.
Além do acesso aos e-books, existem as versões cinematográficas e televisivas. Sem entrar na
discussão estética sobre as formas artísticas, cabe lembrar os três exemplos
mais relevantes na lista censurada: <b>Laranja Mecânica</b> (Dir. Stanley Kubrick)
foi filmado em 1971, <b>Coração Satânico</b> (Dir. Alan Parker) em 1987 e <b>It – a coisa</b> (Dir. Andy Muschetti) em 2017. Complementando, a Netfix está exibindo uma série baseada em <b>Os Treze Porquês</b>. Qualquer um que consiga acesso aos <b>canais de streaming</b> pode ver essas adaptações. E isso significa, de maneira simplificada, o quanto é inócuo o
esforço de quem quer impedir o fluxo de informações. A modernidade tecnológica
rompeu (para o bem e para o mal) com todas as barreiras moralistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Mário
Quintana escreveu que <b>Livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as
pessoas. Os livros só mudam as pessoas.</b> De certa forma isso ecoa a frase de
Oscar Wilde: <b>Os livros não se dividem entre morais e imorais: são bem escritos
ou mal escritos, e isso é tudo</b>. Então, para que possamos contribuir para um
mundo melhor (sem abdicar do senso crítico) precisamos de mais leitores e de muitos
livros. Quanto mais, melhor! <o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-63768251840292612652023-11-08T08:48:00.004-03:002023-11-10T19:11:21.192-03:00O CARRINHO, um conto de Mariana Enriquez<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoeJcz7jeCkxWgMf0kXX4fan4SwYh1T1ST0vS3Wfp72dzd2mTTO6gW69DEIeYTKWnBjXaWArOYQUJitqMpbvKdJoCa9vr_9yq0p2ynLvjNYzm2OFxUCfABZKWzlAW-fdGEnzCKYgQR8nd4AtgGJ3A6X9jdw5O86UrNfQ9qkUWWedfzU-6nYLllf7v7ftWa/s1000/Os%20perigos%20defumar%20na%20cama.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="653" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoeJcz7jeCkxWgMf0kXX4fan4SwYh1T1ST0vS3Wfp72dzd2mTTO6gW69DEIeYTKWnBjXaWArOYQUJitqMpbvKdJoCa9vr_9yq0p2ynLvjNYzm2OFxUCfABZKWzlAW-fdGEnzCKYgQR8nd4AtgGJ3A6X9jdw5O86UrNfQ9qkUWWedfzU-6nYLllf7v7ftWa/s320/Os%20perigos%20defumar%20na%20cama.jpg" width="209" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Existe alguma forma de punir o mal? Mais
do que um postulado filosófico, momento ideal para questionar conceitos e
interpretações, essa pergunta encontra na literatura algumas respostas
incômodas. Um exemplo é o conto <b>O Carrinho</b>, de Mariana Enriquez, que descreve
um incidente estranho em uma área urbana – possivelmente na Argentina.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Um morador de rua, completamente bêbado,
não consegue se controlar e defeca na calçada de um bairro pobre. Um dos
moradores da região, igualmente alcoolizado, considera que houve desrespeito e
vai tomar satisfação. Algumas pessoas ficam observando, rindo ou até
incentivando a violência. Diante de um possível linchamento, a mãe da narradora
intervém e consegue impedir um dano maior. O homem vai embora, mas é impedido
de levar o carrinho de supermercado, onde armazenava papelão, latas, garrafas e
outros itens recicláveis.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Mas antes de sair correndo em
zigue-zague, fugindo de Juancho que o perseguia aos berros, olhou para mamãe
com toda a lucidez e assentiu. Duas vezes. Disse mais alguma coisa, virando os
olhos, abrangendo todo o quarteirão e além. Depois desapareceu na esquina.</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O carrinho ficou esquecido em frente de
uma casa abandonada. A chuva e o tempo fizeram com que o papelão desmanchasse,
a comida que estava lá apodrecesse. Um cheiro ruim se instalou na região.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em algum momento, uns quinze dias depois
que o morador de rua foi espancado, começaram a ocorrer uma série de desgraças
no bairro: assaltos, pessoas perderam os empregos ou morreram, carros foram
roubados, as geladeiras do açougue queimaram, o mundo reconhecido como estável
começa a desmoronar, <b>Em dois meses, ninguém tinha telefone no bairro por falta
de pagamento. Em três meses, tiveram que puxar energia direto do poste porque
não podiam pagar a luz.</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Poucos associaram uma coisa com outra.
Exceto Juancho que, seja por paranoia ou porque precisava encontrar um
culpado, colocou fogo no carrinho, alegando que o morador de rua era o responsável
por tudo o que estava acontecendo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O fato mais paradoxal dessa situação foi a
imunidade da família da narradora. Na casa deles não faltava luz, telefone,
internet, comida. Era como se estivessem vivendo em algum lugar distante da
tragédia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Mais do que uma metáfora sombria (próxima
do terror) do que pode acontecer com aqueles que não reconhecem o outro como um
irmão (aquele que não pode ou não conseguiu escolher um caminho melhor), o
conto procura mostrar que existem forças no universo que não estão ao alcance
da razão. Como consequência auxiliar, a narrativa adverte que, durante a
catástrofe, os inocentes nunca estão a salvo. Não importa qual tenha sido a
escolha no momento crítico, todos são arrastados pela avalanche.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>Naquela mesma noite, papai nos reuniu
na sala de jantar para conversar. Disse que tínhamos que ir embora. Que iam
perceber que estávamos imunes. Que Mari, a vizinha do lado, estava um pouco
desconfiada, porque era difícil esconder o cheiro de comida, apesar de termos o
cuidado de vedar a porta para que a fumaça ou o aroma não passasse por debaixo.
Que a nossa sorte ia acabar, que tudo estava indo por água abaixo. Mamãe
concordava.<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNNAiTfVZ7tJArvxYGBBWl4SqJM3U3VyvYS09aShLhEYke3SLDCoul2TChiF6jrr_BU3R4fwIj75O22I_b3hPJbV3VZjH6R2GxEGKWrt2Y_6I3-1imItpVt330CGb1YIm9jCdeoWwbX6JzMfhOJ5vl5w4nt4vJIBrGyn7DGSI5zUkE7XQq1mSaQyVJwO7E/s1200/Mariana%20Enriquez.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNNAiTfVZ7tJArvxYGBBWl4SqJM3U3VyvYS09aShLhEYke3SLDCoul2TChiF6jrr_BU3R4fwIj75O22I_b3hPJbV3VZjH6R2GxEGKWrt2Y_6I3-1imItpVt330CGb1YIm9jCdeoWwbX6JzMfhOJ5vl5w4nt4vJIBrGyn7DGSI5zUkE7XQq1mSaQyVJwO7E/s320/Mariana%20Enriquez.jpg" width="320" /></a></div><br /><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">ENRIQUEZ, Mariana. <i>O carrinho</i>, in <b>Os
perigos de fumar na cama</b>. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2023. p. 31-39.
Tradução de Elisa Menezes.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-8314747750404114232023-10-25T15:27:00.009-03:002023-10-25T19:59:33.077-03:00CELSO AURÉLIO<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI2ry1XoKD23bdGji5qUkvpo-QaAwTPpAnBllcn0Fmm6Fk27dqGgAv8ENP3Fn3S5PfMWdm1dntbjeR4LkQIPeaqDnDtWpyoxEC5K6N_rPaXfARpjp2YNjIU-7egk3dNuewzyCCc03Kp-STSM4QydNfKY1B0TF5Xk7RSykrALzqwNRShFJ1zS3AXBri5_xR/s709/FB_IMG_1698191127712.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="709" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI2ry1XoKD23bdGji5qUkvpo-QaAwTPpAnBllcn0Fmm6Fk27dqGgAv8ENP3Fn3S5PfMWdm1dntbjeR4LkQIPeaqDnDtWpyoxEC5K6N_rPaXfARpjp2YNjIU-7egk3dNuewzyCCc03Kp-STSM4QydNfKY1B0TF5Xk7RSykrALzqwNRShFJ1zS3AXBri5_xR/s320/FB_IMG_1698191127712.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A notícia do falecimento de Celso Aurélio
Arruda Branco, no dia 24 de novembro, encerra parte da história do jornalismo esportivo do
Planalto Catarinense. Ele era presença obrigatória em quase todos os eventos do
esporte amador regional e nunca perdeu a oportunidade de incentivar as mais
diversas modalidades esportivas (e os atletas que se destacavam) nos veículos
de comunicação em que trabalhou. Ciente de que esse trabalho de “formiguinha” nem
sempre oferece resultados satisfatórios, e que a caminhada está repleta de
obstáculos, nunca desistiu. Cada dificuldade era um incentivo para continuar.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Como o viver está composto por fragmentos
(que vivenciamos ou que imaginamos ter acontecido), Celso Aurélio está presente
em dois episódios que lembrei ao tomar ciência de que ele desencarnou (os espiritas
não aceitam o fenômeno físico-químico de dissolução pura e simples da matéria orgânica
– acreditam que existe outro mundo e que a morte é apenas uma passagem entre um
estágio e o outro).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Esse dois momentos (que estão interligados)
não ajudam a compor um perfil bibliográfico, mas fornecem substância a um desses
personagens que compõem o cotidiano urbano (e que raramente são percebidos como
significativos para o pulsar da aldeia).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na segunda metade dos anos 80 e início dos 90 costumávamos frequentar o
<b>Bar Marrocos</b>, gerenciado pelo Heitor. A turma usualmente costumava ocupar a
mesa quatro, que permitia uma boa visão do calçadão. Esporadicamente, Celso
Aurélio se unia a aquele bando de professores, advogados, escritores e artistas
plásticos. Com calma, fazia o pedido:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">– Seu Heitor, por favor, um guaraná do
tipo champanhe.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Enquanto nós, muitas vezes com um tom de
voz pouco civilizado, queríamos salvar o mundo das inúmeras ameaças (reais,
simbólicas ou imaginárias), Celso Aurélio bebericava o refrigerante da
Antarctica com o dedo mindinho erguido, talvez imaginando participar de algum
grande evento social.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O tempo escorreu pelo vão dos dedos. O
Marrocos deixou de existir. Muitas daquelas pessoas que presenciaram a cena sumiram
nas dobras do tempo. Celso Aurélio continuou trabalhando com o esporte, seja
escrevendo para o <b>Correio Lageano</b> (depois em <b>O Momento</b>) ou participando de
programas de rádio. Em algum momento, alguém comentou que ele estava doente. Ao encontrá-lo, perguntei sobre isso. Ele respondeu que
tudo estava sobre controle e que não queria se preocupar com algo sem
importância. Mudei rapidamente de assunto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Cerca de um ano atrás, em um desses
momentos de jogar conversa fora, ele me disse algo que não estava no <b>script</b>:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">– Não sei como não virei comunista!</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Sem saber ao que ele estava se
referindo, pedi uma explicação. A resposta veio rápida, como se estivesse sido elaborada
de antemão:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 411.1pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">– Lembra aquele tempo
em que frequentávamos o Marroquinho? Então, vocês ficavam discutindo aquelas
coisas estranhas (luta de classe, mais-valia, colonialismo) e eu,
silenciosamente, me perguntava se aquilo estava certo. O tempo fez com que a
gente tomasse caminhos diferentes e foi isso que me salvou do comunismo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Rir foi inevitável. A ingenuidade sempre
causa espanto. Principalmente depois de o Brasil ter superado uma grande crise
institucional. Expliquei que, embora alguns sobreviventes daquele grupo mostrem
simpatia por posições políticas de esquerda, todos são capitalistas (uns mais,
outros menos). Não sei se ele acreditou nisso, inclusive porque a conversa
tomou outro rumo.</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">É isso. Celso Aurélio fará falta. Muita.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461587029980508701.post-58888792404978022382023-10-10T15:44:00.002-03:002023-10-10T22:07:29.494-03:00SOBRE O PRÊMIO NOBEL DE 2023<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha-hF-j8eddmGno3_T7tC6SaWM7fM8qToeUH-22JX_MK9ob4UffFKcKM5BIIFnSkRMTUBH87e6nIa7goCL9MhgFXWfghnKxKC3DarPiW5CzHp2tkuTNgxGqASxAK4wEzHR5hYzbXpfZ_J7MeUWfpu5GWhnV7Cds1z6oaX7voxhb5BTap1-shSrelVrY_TF/s1795/Fim%20dos%20homens.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1795" data-original-width="1163" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha-hF-j8eddmGno3_T7tC6SaWM7fM8qToeUH-22JX_MK9ob4UffFKcKM5BIIFnSkRMTUBH87e6nIa7goCL9MhgFXWfghnKxKC3DarPiW5CzHp2tkuTNgxGqASxAK4wEzHR5hYzbXpfZ_J7MeUWfpu5GWhnV7Cds1z6oaX7voxhb5BTap1-shSrelVrY_TF/s320/Fim%20dos%20homens.jpeg" width="207" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Os professores da Universidade da
Pensilvânia, que trabalham com o RNA mensageiro (mRNA), Katalin Karikó e Drew
Weissman ganharam o Prêmio Nobel de Medicina em 2023. A pesquisa coordenada
pelos dois cientistas contribuiu para que as empresas farmacêuticas Pfizer e
Moderna desenvolvessem uma vacina contra o Covid-19.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No romance especulativo <b>O Fim dos
Homens</b> (Verus Editora, 2022), escrito por Christina Sweeney-Baird, acontece
algo particularmente interessante e que, de certa forma, antecipa os
acontecimentos que envolvem Karikó e Weissman.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">No texto, o mundo precisa enfrentar uma
epidemia que somente afeta a população masculina. Por se tratar de uma doença
em que as mulheres estão imunizadas, cabe-lhes o protagonismo na tentativa de
descobrir quem foi o paciente zero (aquele que iniciou a transmissão do vírus)
e, consequentemente, como a doença se espalhou. Em paralelo, há o esforço
farmacológico para criar um antídoto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Os fatos narrativos ocorrem em 2025 e são
descritos em ritmo de thriller. Além do suspense, o livro apresenta inúmera características:
capítulos curtos, narradores múltiplos, notícias jornalísticas, plot twist e
personagens de caráter duvidoso. São ingredientes que garante a fluidez da
leitura e asseguram o interesse do leitor. Além disso, temas como o feminismo e
o cuidado com as questões ecológicas são estrategicamente discutidos em cada
uma das páginas do livro.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O paralelo com a realidade se apresenta
em uma das cenas finais do romance, quando três dos personagens (Elizabeth “Lisa”
Michael, Amaya Sharvani e George Kitchen), que estavam trabalhando para
encontrar uma solução para o problema, dividem o Prêmio Nobel de Medicina. Algum
leitor ingênuo provavelmente dirá que esta é uma daquelas situações em que a
arte antecipa a vida ou que a arte imita a vida. E (quase) ninguém o vai
censurar, porque impressiona saber que o mundo está à mercê de doenças e de
catástrofes que ninguém possui imaginação para prever – principalmente quando se
considera que a modernidade nos garante que “tudo” está sobre controle. Essa
arrogância implica em negar a necessidade de medidas preventivas. Ao somente se
preocuparem com os avanços tecnológicos, os cientistas (e os capitalistas)
esquecem que a natureza também está em transformação – e que nem sempre resulta em
benefício humano.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Depois que a epopeia literária termina e o vírus foi
debelado, a possibilidade de extinção da humanidade deixou de existir. Mas,
todos sabem que – mais cedo ou mais tarde – outra ameaça surgirá. E, quando
isso acontecer, todos os seres vivos do planeta estarão em perigo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Entre os livros que abordam doenças
epidêmicas (como <b>A Peste</b>, de Albert Camus, <b>O Enigma de Andrômeda</b>, de
Michael Crichton, e <b>Estação Onze</b>, de Emily St. John Mandel), ressalte-se que <b>O
Fim dos Homens</b> não obteve significativo destaque no mundo literário. Talvez
porque não acrescente muita coisa aos elementos que aborda, exceto a diversão
(o que não é pouco). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPGsh4bNWqnCg_4LHdvcuM4WjqzEDfVTCPlDUnASHDVgW5cMRyKIYduRxJaD01KPWEJPyEDFTldnSwEUtNTe7E2mw1jtF-seb52yrFAukdSmOUl_ismCl0b4WrcgcH4IQfY9Cnmffkk58_yuDQ8TKo8khT68wuZlYj0OIMt6aU54B3pmK8PJQKq6fvBSQw/s976/Fosse.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="549" data-original-width="976" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPGsh4bNWqnCg_4LHdvcuM4WjqzEDfVTCPlDUnASHDVgW5cMRyKIYduRxJaD01KPWEJPyEDFTldnSwEUtNTe7E2mw1jtF-seb52yrFAukdSmOUl_ismCl0b4WrcgcH4IQfY9Cnmffkk58_yuDQ8TKo8khT68wuZlYj0OIMt6aU54B3pmK8PJQKq6fvBSQw/s320/Fosse.jpg" width="320" /></a></div><br /><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><b>P.S.:</b> <i>Sobre o norueguês Jon Olav Fosse,
que ganhou o Nobel de Literatura, nada sei. Nunca li nada do que ele escreveu.
Aliás, da literatura da Noruega só conheço (salvo engano) um pouco do teatro
escrito pelo Henrik Ibsen, dois romances do Knut Hamsun (</i><b>Fome</b><i> e </i><b>Um Vagabundo
Toca em Surdina</b><i>) e o primeiro volume da hexalogia do Karl Ove Knausgård (</i><b>A
Morte do Pai</b><i>). </i><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Raul Arruda Filhohttp://www.blogger.com/profile/11156140393263637210noreply@blogger.com0