Com
cauda de serpente, garras, asas, cuspindo fogo e um corpo imenso, que lembra um
lagarto gigante, o dragão está presente no imaginário de muitas sociedades (mas,
esse formato físico não é universal, cada cultura o apresenta de forma particular).
O ano chinês 4722 terá vigência entre 10 de fevereiro de 2024 e 28 de janeiro de 2025 – e será regido pelo dragão, com características do elemento madeira e polaridade yang. Sem entrar em detalhes sobre essas características (que devem ser explicadas por quem entende do assunto), cabe dizer que o sistema de contagem do tempo na China obedece a um calendário que une os ciclos lunares e solares. Como os doze ciclos lunares anuais somam 354 dias, os chineses acrescentam um mês a cada três anos – mantendo a equivalência com o ciclo solar (365,25 dias). Isso significa que existem variações no início, fim e duração de cada ano lunissolar.
Na
mitologia chinesa, o dragão foi um dos quatro animais sagrados que participaram
da criação do mundo e é um símbolo da abundância e da fartura, do poder e da autoridade.
Sua aparência difere da imagem ocidental e possui inúmeras variações corporais:
tem olhos de tigre (ou de camarão ou do coelho), cabeça do camelo, corpo
(ou cauda) de serpente, patas de águia (ou de tigre), chifres de veado, orelhas de
boi, bigodes (ou escamas) de carpa, etc. Em uma das representações, talvez a
mais comum, o animal apresenta quatro patas (quatro dedos para frente e um para
trás) ou carregando uma pérola em uma das patas (Yoku). Ele vive nas águas
doces e salgadas, controla o clima, as chuvas, os ventos e as marés. No
passado, nas épocas de secas ou de enchentes, os governos regionais chineses
promoviam rituais religiosos para pedir chuvas ou para parar de chover.
Em
escavações arqueológicas na China foram encontradas várias representações do ser mitológico (desenhos e inscrições, amuletos de jade, vasos de argila). Esses
objetos servem para demonstrar que o dragão sempre esteve presente na cultura chinesa.
O
Festival das Lanternas, segundo a tradição milenar, é celebrado no 15º dia do
primeiro mês do calendário chinês. Ele anuncia o início da primavera. São
realizados desfiles de rua, queima de fogos de artifícios e danças. Costuma-se
consumir o yuan xiao (nián gão), um bolinho de farinha de arroz gelatinoso,
cozido no vapor, e que pode ter diversos recheios (doces ou salgados). A
televisão estatal apresenta eventos de gala, com shows musicais, ópera, artes
marciais e acrobacia. Algumas famílias costumam colar versos em rima acima ou
ao lado das portas para expressar o desejo de sorte e fartura no ano que
está se iniciando. Também é prática usual presentear as crianças com um
envelope vermelho (hóngbão) contendo uma quantia em dinheiro.
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Yuan xiao, prato tradicional chinês |
Na
Idade Média europeia o dragão era considerado um animal perigoso e associado
com Satanás. O imaginário popular o visualizava sobrevoando castelos e
catedrais e sempre disposto a mandar para o inferno aqueles que se entregavam
aos vícios condenados pela religião. Uma lenda bastante difundida entre os
católicos relata que um soldado romano salvou uma princesa que
estava prestes a ser oferecida em sacrifício para um dragão que atemorizava a
região. Desde então, nas hagiografias, Jorge, nascido na Capadócia (atualmente, parte da Turquia), e que provavelmente viveu no século III d. C., aparece montando um
cavalo branco e empunhando uma lança, pronto para derrotar o dragão, ou melhor,
o mal. Santa Margarida de Antióquia (275-290), que foi torturada durante o governo do imperador
Diocleciano, é apresentada enfrentando um dragão. No momento em que ela faz o sinal da cruz, o monstro desaparece.
Ao
longo do tempo, o mito do dragão foi sendo substituído por outras alegorias. Mas,
a literatura (principalmente no gênero fantasia) ainda conserva o animal como
uma força importante. Em romances como O Hobbit (J. R. R. Tolkien) e nas séries Guerra
dos Tronos (George R. R. Martin) e Harry Potter (J. K. Rowling), o dragão aparece para desequilibrar as
forças em combate. Em O Gigante Enterrado (Kazuo Ishiguro), uma fêmea de
dragão surge no caminho dos protagonistas, Axl e Beatrice. Jorge Luiz Borges
propõe uma leitura do mito em O Livro dos Seres Imaginários. No plano realista,
a protagonista da série Millenium (Stig Larsson), Lisbeth Salander, tem uma enorme
tatuagem de dragão nas costas. No romance erótico japonês Cobras e Piercings (Hitomi Kamechara), a personagem Lui Nakazawa pede ao amante que faça uma
tatuagem de dragão nas suas costas – no caso, um Kirin (o mensageiro dos
deuses, uma espécie de unicórnio asiático).
Os
filmes da saga Como Treinar o seu Dragão e o desenho animado Caverna do
Dragão continuam encantando jovens e idosos. O mesmo acontece com jogos de
tabuleiro como Dungeons & Dragons.
Enfim, os dragões, assim como os dinossauros, oferecem diversão para
todas as idades.
No
aspecto simbólico, a China está tentando usar um emblema nacional mais suave.
Em lugar do dragão (que possui uma conotação agressiva, militar), o governo
está propondo uma imagem mais suave, o panda gigante. Querem que o dragão seja
usado apenas como imagem decorativa em festividades (pandorgas, balões, lanternas
de papel, gravuras) ou como entidade regente do tempo e das águas.
Em sentido contrário, as peças publicitárias de Hong Kong usam o dragão para forjar uma representação internacional da cidade.
Carisma,
ambição e prazer por aventuras são algumas das características dos nascidos no
ano do dragão (os últimos são 1928, 1940, 1952, 1964, 1976, 1988, 2000, 2012, 2024). Segundo os astrólogos, o ano novo promete prosperidade, força, muitas energias e grandes realizações
nos campos profissionais, amorosos e sociais. Um mapa astral provavelmente
mostrará como isso será possível para cada signo do horóscopo convencional.