Bonsai retrata uma história similar a
tantas outras. Uma história de amor que termina mal. Como convém a todas as
narrativas que envolvem, em porção desmedida, paixão e decepção. Ou que sonham
em retratar a monumental opressão sentimental que se desfaz em fragmentos,
desencontros, quimeras e falsos juramentos.
Bonsai: haicai romanceado. A concisão
descritiva. Densidade de diamante lapidado. Pedra translúcida como água da
fonte ou a esperança de encontrar o horizonte. A linguagem economizando forças
e sentimentos. Amarga poesia, versos pronunciados à revelia, muito distante do
que se queria. Explosão estética, eclética, sintética.
Bonsai equivale a um susto. Descobrir
que o amor e a felicidade não combinam. Estão de lado opostos. Fazem apostas
diferentes. Como se estivessem falando línguas estrangeiras. A incompreensão
perpassando cada momento. Preenchendo a vida com mágoas terríveis, suplícios
mitológicos, tormentos intermináveis.
Bonsai: conjurar a carne, ignorando as
necessidades do espírito. As substâncias que compõem o desejo se volatizam em
rot(in)as desgastantes, f(r)ases equivocadas, toneladas de enganos. Demandas
difusas, confusas, obtusas.
Bonsai: eu te amo é a mentira mais
doce que um homem pode pronunciar diante de uma mulher, eu te amo é a mentira
mais deliciosa que uma mulher pode sussurrar em frente a um homem. Triste
constatação de que o amor não é justo. Hoje ou daqui a um lustro. A consciência
de que tudo tem um fim. A tragédia anunciando que a paixão tem prazo de
validade. Assim como a saudade.
Bonsai: a vida conjugal não é frugal,
não é fast food. Alegria que confunde. Desgaste emocional diário. Um pedaço da
vida amputado. Apesar da ânsia de desfrutar intensamente esse instante, em todos
os instantes. Viver a dois agora. Depois, nunca.
Bonsai revela a circunstância em que o
bambu se curva à força do vento. Mostra que a paixão se curva à força do lamento.
Lágrimas e sofrimento. Como nos melhores romances do século XIX. Aqueles que –
espalhados pela cama desarrumada por Julio e Emilia – ampliaram a excitação,
forneceram estímulos para acrobacias sexuais e beijos carinhosos. Em Gustave
Flaubert, Anton Tchekhov e Marcel Proust estão anunciadas, de uma forma ou de
outra, as farsas amorosas encenadas no século XXI. Fugir da solidão, procurar
pela ilusão.
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O chileno Alejandro Zambra possui meia
dúzia (ou um pouco mais) de admiradores no Brasil. Deveria ter mais. Muito
mais. Considerado pela revista inglesa Granta como um dos melhores escritores
de língua espanhola nascidos após 1975, escreveu três romances até o momento.
Dois foram publicados no Brasil: A Vida Privada das Árvores e Bonsai (Prêmio do Conselho Nacional do Livro do Chile, 2006). Além disso, no mínimo dois de seus contos foram
traduzidos para o português: Fantasia (revista Piauí nº 71, agosto de 2012) e Jeitos de Voltar para Casa (Granta em português, nº 7, dedicada aos Melhores
Escritores em Espanhol).
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