Segundo alguns depoimentos disponíveis
nas redes sociais, Vanessa Bárbara é a escritora com o maior grau de fofura da
literatura brasileira. Como não li O Verão do Chibo (narrativa que escreveu
em conjunto com Emílio Fraia) ou A Máquina de Goldberg (“graphic novel” compartilhada
com Fido Nesti) ou Endrigo, o Escavador de Umbigo (livro infantil, construído
a quatro mãos com Andrés Sandoval), faltam-me elementos (emocionais, literários
e aleatórios) para fazer esse tipo de afirmativa. Devo acrescentar que não
conheço o texto jornalístico O Livro Amarelo do Terminal (Prêmio Jabuti,
2008). Também não tive o prazer de ser leitor do elogiado romance Noites de
Alface, embora tenha “passado os olhos” (sem muito entusiasmo) no trecho publicado
na Granta nº 9.
Sou quase um ignorante no que diz
respeito à literatura produzida por Vanessa Bárbara. Triste constatação. A
culpa diminuiu alguns milímetros quando lembrei que costumo encontrar –
ocasionalmente – a produção (assinada) da moça na revista Piauí. Também li
alguma coisa na Folha de São Paulo. Não é muito. Uma meia dúzia de textos. Talvez
um pouco mais. De qualquer maneira, reencontrei alguns desses artigos em O Louco
de Palestra e Outras Crônicas Urbanas, um livro alegre, composto por trabalhos
escritos para diversos veículos jornalísticos, em diferentes momentos e tempos. Claro,
não me foi possível evitar uma ligeira sensação de déjà vu. Isso não atrapalha
em nada, pois a proposta literária de Vanessa se renova a cada leitura,
permitindo que o leitor esteja em contato com um bocado de nonsense e algumas
pitadas de ironia.

O ponto forte do livro está na tipificação dos indivíduos que encontram o ponto fulcral da Terra fazendo perguntas malucas em palestras. Para quem frequenta esse tipo de ambiente, impossível não soltar intermináveis gargalhadas quando ela descreve o sujeito que pede a palavras, fala durante dez minutos (ou mais), não diz nada de coerente e esquece o que deveria perguntar. Mais do que um clássico das relações confusas que constituem a vida acadêmica, o louco de palestra (des)caracteriza o mundo intelectual e garante um pouco de entretenimento para a plateia.
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Avenida Paulista |
Em outros momentos, Vanessa Bárbara
centraliza suas forças em temas difusos como as dificuldades e facilidades de
deslocamento nos ônibus urbanos e interestaduais, nomes de ruas, mochilas, celulares,
o cidadão exaltado, reuniões de condomínio, assistir televisão, morar junto, a
“queda do sistema”, as manifestações contra a Copa do Mundo e a proposição de
transformar o conclave cardinalício em um esplendoroso reality show. São boas abordagens, são momentos de criatividade.
Vanessa Barbara (ao lado de cronistas
clássicos como Aldir Blanc, Fernando Sabino e Luís Fernando Veríssimo) consegue
decodificar parte da maluquice que cerca o universo urbano. Com delicadeza e
talento, ao reunir os textos que compõem O Louco de Palestra, entregou ao leitor um
livro engraçado, “fofo”, com gosto de quero mais.
Raul, li a crônica de Vanessa Bárbara sobre "O louco da palestra" na Revista Piauí e morri de rir. Incrível como você consegue pontuar leituras e indicar o mel do melhor. Abraços !
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