Em 1955, durante as filmagens de Assim
Caminha a Humanidade, James Dean, para tentar controlar uma crise de
ansiedade, urinou na frente das quatro mil pessoas. Ford Madox Ford encontrou
Oscar Wilde completamente decadente, em 1899, bebendo absinto no bar de um
cabaré em Montmartre. Em novembro de 1969, Allen Ginsberg pagou um sanduíche de
queijo e alface para Patty Smith. Na única vez que Marcel Proust encontrou
James Joyce, em 1922, eles trocaram informações sobre os mútuos problemas de
saúde. Sem paciência para aguentar o péssimo desempenho como cantora da
Princesa Margareth, irmã da Rainha Elizabeth II, o pintor Francis Bacon a
vaiou, de forma veemente, em uma festa em Londres, em 1977.
Todas essas histórias, e muitas outras,
estão reunidas em um dos mais pitorescos livros publicado nos últimos anos: Um
Por Um – 101 encontros extraordinários, organizado pelo jornalista inglês
Craig Brown. Defendendo a tese de que são os fragmentos que fornecem substância
ao todo, o autor sugere (talvez por blague, talvez como um argumento “sério”)
que a história intelectual, cultural e política do Ocidente está resumida em
algumas piadas e uma meia dúzia de incidentes desagradáveis. Independente da
correção da ideia, que é – no mínimo – discutível, o que importa ao leitor é o entretenimento.
Psicanaliticamente, como ninguém resiste
a olhar pelo buraco da fechadura, sempre esperando descobrir algum segredo sórdido
das celebridades e subcelebridades, essa excitante expectativa se repete em
cada um dos relatos do livro. Basta abrir o volume e mergulhar na aventura. Há
diversão para todos os gostos. Principalmente porque todas as narrativas
possuem registro histórico comprovado e foram protagonizados por personagens
que – de uma forma ou de outra – se destacaram na cultura e na política internacional
![]() |
Craig Brown |
Simultaneamente, em uma percepção que passa
despercebida para muitos leitores, o texto está impregnado pelo resgate oblíquo,
transversal, de um tempo cronológico que desapareceu na poeira do tempo, mas
que deixou rastros indeléveis, absurdamente geniais e patéticos – comprovando
que a contradição caminha de mãos dadas com a História (com “H” maiúsculo).
Organizado de forma circular, tendo como
elemento-chave a rotação dos personagens, um encontro que puxa outro encontro, o
livro está escorado em uma característica muito peculiar: cada um dos 101
relatos foi escritos com exatas 1001 palavras, que somadas resultam em um
número absurdo: 101.101. Além de ser uma curiosidade matemática, o que isso
significa? Provavelmente, nada. No máximo é uma brincadeira idiossincrática do
organizador da coletânea.
Para resumir essa ópera bufa, pode-se afirmar que a leitura de Um Por Um – 101
encontros extraordinários provoca incontroláveis gargalhadas. Como é de conhecimento geral, nada é mais
divertido do que o Schadenfreude (palavra alemã que pode ser traduzida por
sentimento de alegria e/ou satisfação quando assistimos algum tipo de dano ou
infortúnio de alguém).
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