Envelhecer com delicadeza – esse deveria
ser o objetivo fundamental da vida. Infelizmente, há dificuldades, percalços,
problemas. E poucas pessoas (principalmente os mais jovens) conseguem entender o quanto de horror está presente na história daqueles que conseguiram
ultrapassar a barreira dos 65 anos. Como consequência desse equívoco cotidiano,
muitas vezes desnecessário, a tristeza costuma acompanhar a velhice.
No caso do romance curto Nossas
Noites, escrito por Kent Haruf, não há novidades, mas... Em apenas 157 páginas,
uma tempestade de emoções – que não se manifesta como uma exposição da devastação
física da velhice. Ao contrário, tudo se passa lentamente, agradavelmente, como
se fosse uma brisa.
Um dia, a viúva Addie Moore bate na
porta do viúvo Louis Waters e faz uma proposta singela: O que você acharia da
ideia de ir à minha casa de vez em quando para dormir comigo? Os dois estão
próximos dos 70 anos de idade e moram no condado de Holt, no estado do
Colorado. A cidade é pequena e todos sabem tudo sobre a vida de cada um dos
moradores. O que não sabem, inventam.
Louis, no início, fica apavorado.
É uma situação inusitada. Depois, aceita o convite. Um dia após o outro, eles deitam na mesma cama,
apagam as luzes e conversam. E assim, antes do sono surgir, vão contando um
para o outro (e para os leitores) os fatos mais significativos de suas vidas.
Addie fala sobre a morte da filha mais velha, que morreu atropelada aos 11
anos; ele relata sobre a vez que abandonou a esposa e a filha para ir viver com
outra mulher. São histórias cotidianas e que são narradas sem muita pressa. A
maior alegria do casal está no compartilhar da intimidade, no calor que um
corpo transmite ao outro.
Os problemas não tardam a surgir. Alguns
vizinhos começam a comentar a situação – que lhes parece incompreensível,
absurda, indecente. Salvo raras exceções, criticam a união, que – guardadas as
devidas proporções – poderia ser comparada com algum tipo de adultério, uma
traição com os mortos.
Kent Haruf (1943-2014) |
Depois, surge em cena Jamie, o neto de
seis anos de Addie. Os pais do menino estão prestes a se separar. No meio desse
tumulto, cabe à avó cuidar temporariamente da criança. Jamie muda a rotina do
casal. Ao mesmo tempo, os une um pouco mais. Na companhia do menino redescobrem
os pequenos prazeres de morar em uma cidade do interior: jogar softball, ir à
feira agrícola, visitar os amigos, acampar, sair para jantar, brincar com um
cachorro.
A poesia está presente em cada um dos 43
capítulos do livro, que utiliza a linearidade narrativa e diálogos ágeis e
fluentes. Mais do que uma leitura saborosa – apesar das páginas finais se
mostrarem ásperas –, Nossas Noites consegue tratar dois temas espinhosos (a solidão e a velhice) com
naturalidade. Bela narrativa.
muito interessante... e faz pensar, inevitavelmente, em nós mesmos e nas coincidências do que fizemos ...
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