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terça-feira, 17 de agosto de 2021

FERNANDO JOSÉ KARL (1961-2021)

 


Fernando José Karl morou em Lages nos anos 80 do século passado. Passou no vestibular para agronomia e imaginou a possibilidade de construiu uma carreira profissional cultivando árvores e flores. Trouxe na bagagem a esposa e um livro publicado – um catatau de quase 500 páginas, A ilha dos pássaros ao sol. Era muita coisa para um menino de 17, 18 anos.

Depois de uns dois semestres (talvez nem isso) abandonou o futuro e foi viver o presente. Montou um curso na Biblioteca Pública e saiu pelas ruas da aldeia procurando por gente doida o suficiente para gostar de poesia. Encontrou centenas de malucos. Infelizmente, todos do tipo errado. Mesmo assim, escravizou meia dúzia de aborígenes, vassalos que o seguiram fielmente durante muito tempo. O ponto alto dessa missão civilizatória ocorreu em 1984, quando ajudou a Sandra Andrade na organização de um concurso poético. A aventura teve como resultado um livro esquálido (atualmente relíquia de colecionador). 

Em paralelo, morou durante algum tempo com Beto Mondadori (no prédio da antiga Celesc, no entroncamento entre as ruas Coronel Córdova e Frei Rogério). Nesse período, a dupla compôs uma série de canções – Suco de Imaginação foi o grande sucesso da temporada. Também publicou Tema para romance (1984), livro quase artesanal que integrou um dos projetos literários do Departamento de Cultura do município. 

 


Um dia, depois de acumular cansaço e dívidas bancárias, Fernando arrumou as malas e sumiu em uma das curvas da rodovia que o levou na direção do litoral (a esposa tinha desaparecido de cena muito tempo antes).

Esporadicamente chegavam notícias das peripécias do nobre cavaleiro na arte zen de fabricar versos absurdos em quantidade e qualidade absurdas. Uma hora estava com o pessoal do jornal A Notícia (Joinville), em outra com a turma do suplemento cultural Nicolau (Curitiba), às vezes estava morando em São Francisco, às vezes procurava por novas terras para conquistar. Inquieto, queria sempre mais do que estava disponível.

Encontrei-o em dois ou três eventos literários, mas, nos últimos tempos, nosso maior contato era por e-mail ou por mensagem nas redes sociais. Várias vezes me pediu para escrever o prefácio de um de seus livros, tarefa que nunca executei, embora tenha lido o PDF que ele me enviou. A vida está repleta desses desencontros, desses olhares para diferentes horizontes.

A sua poesia oscila entre o erotismo sutil, o observar cotidiano e o misticismo oriental (o Japão e a Índia se confundem a todo instante). Outra característica importante de seus escritos é o surrealismo  que resulta em estranhamento, surpresa e beleza poética. 

Fernando José Karl faleceu em 16 de agosto de 2021, em Curitiba (PR). Deixa dois filhos (Shânkara e Matheus). 

 


 

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