![]() |
Anita Malfatti (1912) |
No final de 1914, Anita Malfatti (1889-1964),
financiada por seu tio, o arquiteto Jorge Krug (George Edward Krug, 1869-1939),
viajou para Estados Unidos. Matriculada na Art Students League, não
se adaptou ao ensino, que considerou muito apegado às representações realistas.
Depois de alguns meses desistiu da escola, passando a frequentar apenas as
oficinas de gravura.
Uma amiga lhe contou que um professor
de pintura e grande filósofo incompreendido (palavras de
Anita, na conferencia que apresentou, em 1951, na Pinacoteca do Estado de São
Paulo) estava reunindo um grupo de alunos para passar uma temporada em uma ilha
na costa do Maine.
Aluna de Homer Boss, Anita, que tinha
25 anos, passou o verão de 1915 na ilha de Monhegan (2,2 km² de extensão e, na
época, com população inferior a uma centena de pessoas). Foi o período mais
intenso, livre e transformador de sua vida (artística e social). A turma
passava o dia pintando – enquanto houvesse luz natural. No período da noite (a
ilha não tinha energia elétrica) conversavam, contavam histórias, dançavam.
Aos sábados, era realizada uma pequena mostra de trabalhos, onde Homer Boss
opinava e orientava os alunos. De certa forma, a Independent School of
Art era uma representação do paraíso.
Na metade de 1916, Anita estava de
volta a São Paulo, onde continuou pintando. Depois de visitar uma exposição da
artista, José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) fez uma declaração de
guerra no jornal O Estado de São Paulo, com o artigo A
Propósito da Exposição Malfatti (publicado em 20 de dezembro de 1917. Mais
tarde esse texto recebeu outro título: Paranoia ou Mistificação).
Nessa análise, Monteiro Lobato define as linhas básicas de uma luta que estava
apenas começando.
![]() |
Monteiro Lobato |
A histeria, promovido por Monteiro
Lobato, pode ser considerada como um dos momentos iniciais da grande revolução
cultural brasileira, a Semana de Arte Moderna (13, 15 e 17 de
fevereiro de 1922). O resto da história pode ser definida por esse embate entre modernistas e "passadistas".
Não há provas de que Anita Malfatti e Edward Hopper (1882-1967) tenham se encontrado em algum instante, embora ela tenha conhecido, em Nova York, Marcel Duchamps, Máximo Gorki e Juan Gris, entre outras personalidades do mundo artístico mundial. O que os une é a pintura. Mais precisamente os quadros que produziram em Monhegan (Hopper esteve lá em várias ocasiões).
![]() |
Edward Hopper |
Hopper ficou célebre por enfatizar,
de forma realista, a solidão contemporânea. Malfatti seguiu outro caminho. Depois
que conseguiu superar o figurativismo realista, através de cores vibrantes e
temas que quebram o estilo acadêmico clássico, introduziu uma nova perspectiva
pictórica nas artes plásticas do Brasil (influenciada pela pintura de ruptura
europeia – Pablo Picasso, Oscar Kokoschka, Gustav Klint, Fernand Léger, etc.).
![]() |
O Farol, de Anita Malfatti (1915). |
![]() | |
|
Passados tantos anos, sem fazer
comparações, pois os estilos das duas pinturas são inegavelmente diferentes
(técnica, cores, pinceladas, olhares sobre a luz) e eles estiveram na ilha em
momentos distintos, é interessante ver a maneira como pintaram uma das atrações
de Monhegan, o farol.
![]() |
Lighthouse Hill, de Edward Hopper (1927). |
Hopper também pintou o farol de Monhegan por outro ângulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário