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sexta-feira, 18 de julho de 2025

QUANDO ANITA MALFATTI (NÃO) ENCONTROU EDWARD HOPPER

 

Anita Malfatti (1912)

No final de 1914, Anita Malfatti (1889-1964), financiada por seu tio, o arquiteto Jorge Krug (George Edward Krug, 1869-1939), viajou para Estados Unidos. Matriculada na Art Students League, não se adaptou ao ensino, que considerou muito apegado às representações realistas. Depois de alguns meses desistiu da escola, passando a frequentar apenas as oficinas de gravura.

Uma amiga lhe contou que um professor de pintura e grande filósofo incompreendido (palavras de Anita, na conferencia que apresentou, em 1951, na Pinacoteca do Estado de São Paulo) estava reunindo um grupo de alunos para passar uma temporada em uma ilha na costa do Maine.

Aluna de Homer Boss, Anita, que tinha 25 anos, passou o verão de 1915 na ilha de Monhegan (2,2 km² de extensão e, na época, com população inferior a uma centena de pessoas). Foi o período mais intenso, livre e transformador de sua vida (artística e social). A turma passava o dia pintando – enquanto houvesse luz natural. No período da noite (a ilha não tinha energia elétrica) conversavam, contavam histórias, dançavam. Aos sábados, era realizada uma pequena mostra de trabalhos, onde Homer Boss opinava e orientava os alunos. De certa forma, a Independent School of Art era uma representação do paraíso.

Na metade de 1916, Anita estava de volta a São Paulo, onde continuou pintando. Depois de visitar uma exposição da artista, José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) fez uma declaração de guerra no jornal O Estado de São Paulo, com o artigo A Propósito da Exposição Malfatti (publicado em 20 de dezembro de 1917. Mais tarde esse texto recebeu outro título: Paranoia ou Mistificação). Nessa análise, Monteiro Lobato define as linhas básicas de uma luta que estava apenas começando.


Monteiro Lobato

A histeria, promovido por Monteiro Lobato, pode ser considerada como um dos momentos iniciais da grande revolução cultural brasileira, a Semana de Arte Moderna (13, 15 e 17 de fevereiro de 1922). O resto da história pode ser definida por esse embate entre modernistas e "passadistas". 

Não há provas de que Anita Malfatti e Edward Hopper (1882-1967) tenham se encontrado em algum instante, embora ela tenha conhecido, em Nova York, Marcel Duchamps, Máximo Gorki e Juan Gris, entre outras personalidades do mundo artístico mundial. O que os une é a pintura. Mais precisamente os quadros que produziram em Monhegan (Hopper esteve lá em várias ocasiões).


Edward Hopper

Hopper ficou célebre por enfatizar, de forma realista, a solidão contemporânea. Malfatti seguiu outro caminho. Depois que conseguiu superar o figurativismo realista, através de cores vibrantes e temas que quebram o estilo acadêmico clássico, introduziu uma nova perspectiva pictórica nas artes plásticas do Brasil (influenciada pela pintura de ruptura europeia – Pablo Picasso, Oscar Kokoschka, Gustav Klint, Fernand Léger, etc.).


O Farol, de Anita Malfatti (1915).




The Lighthouse at Two Lights, de Edward Hopper (1929).


Passados tantos anos, sem fazer comparações, pois os estilos das duas pinturas são inegavelmente diferentes (técnica, cores, pinceladas, olhares sobre a luz) e eles estiveram na ilha em momentos distintos, é interessante ver a maneira como pintaram uma das atrações de Monhegan, o farol.


Lighthouse Hill, de Edward Hopper (1927).

Hopper também pintou o farol de Monhegan por outro ângulo. 


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