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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

ALGUMAS LEMBRANÇAS SOBRE OS IRMÃOS ROMANO

Ivone, Dalva e Tia Têre. Raul e Mara
Nunca soube como se deve agir quando morre alguém que, em determinado momento, fez parte de nossa história. Imagino que algumas dessas reações estão conectadas com a intensidade do afeto e com aqueles momentos (engraçados ou trágicos) que vivem se perdendo na escuridão da memória. De qualquer forma, nada é suficiente para diminuir a tristeza.

Na manhã de uma segunda-feira, uma de minhas duas irmãs, Mara, me telefonou para informar que “Tia Têre” estava hospitalizada. Pediu notícias. Tão logo foi possível, telefonei para todos os hospitais. Não consegui obter informações. Era tarde demais. Tereza de Jesus falecera dois dias antes.

Tia Têre foi uma figura importante na história de minha família. Pensando bem, não foi só ela. Todos os irmãos Romano (Rogério, Sebastião, Ivone, Dalva e Terezinha) tiveram uma cota de participação na infância dos quatro filhos da família Arruda.

Fomos vizinhos. No bairro da Brusque. Um buraco na cerca que dividia os dois lotes invalidava fronteiras e fortalecia a amizade. Na casa ao lado da nossa, um sobrado de madeira, o cheiro de café moído no pilão contrastava com o aroma do pão, das bolachas, das roscas de polvilho e coalhada. No quintal, peras e uvas. Um universo de sabores. As melhores desculpas para esquecer, depois da escola, de voltar para casa.

Ivone ajudava minha mãe com os filhos menores. Tia Terê e Dalva eram empregadas domésticas. Não lembro em que trabalhavam Rogério e Sebastião, mas isso, naquele tempo, não me parecia importante porque eles eram leitores vorazes de livros de bolso, principalmente os de faroeste. Eu também. Nas tardes de domingo, depois do cinema, costumava comprar um ou dois desses livrinhos (que eram muito baratos). Dois ou três dias depois, após a leitura, costumava levá-los para os vizinhos. Rogério e Sebastião sempre tinham outros exemplares e que eu ainda não havia lido. Lembro que um dia, com uma pilha debaixo do braço, subi a escada que conduzia ao quarto de Sebastião. Ele me recebeu com um sorriso largo e me indicou uma pilha que estava encostada na parede. Leve o que quiser, me disse, enquanto olhava as capas dos que eu tinha deixado em cima de uma mesa. Voltei para casa com muito mais do que tinha levado!

Em 1969, mudamos para perto do Aeroporto Velho e para longe dos irmãos Romano. Não tenha certeza, mas Rogério, que era o mais velho, já havia falecido (doença pulmonar ou cardíaca).

De uma forma ou de outra, na medida do possível, os laços de amizade foram mantidos. Mas, à distância. Encontros ocasionais. Eles venderam a casa e também foram para longe. Ivone casou. Sebastião foi para o Mato Grosso. De qualquer forma, não voltou. Sua morte ainda é um mistério a ser resolvido. Logo depois (ou foi antes?), Ivone também faleceu. As datas se confundem na minha memória, falta precisão, sobram névoas.

As crianças de ontem se tornaram os adultos. Todos nós crescemos – de uma forma ou de outra. Mara casou. Foi morar no Mato Grosso. Ana, minha outra irmã, também casou. Foi morar no Paraná. Dispersos pelo mundo, perdemos o contato com a nossa própria história.

Foi no fim da década de 90 do século XX que as raízes voltaram a ter algum sentido. De vez em quando encontrava as duas remanescentes da família Romano pelas ruas da cidade. Descobri, por exemplo, que Tia Têre tinha casado e enviuvado. Fui feliz, me contou com aquela voz doce, sempre otimista.

Tia Têre era uma presença recorrente nas conversas – por telefone – que costumo ter com Mara. Minha irmã adora bisbilhotar a história de nossa família e gosta de “trocar figurinhas” sobre os tempos de antigamente. Isso significa que, invariavelmente, lembramos dos irmãos Romano – que sempre fizeram parte da nossa mitologia familiar.

Com a morte de Tia Têre, além da saudade, uma triste constatação: ficamos um pouco mais sozinhos. 

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