O futuro da equipe espanhola, na Copa do
Mundo de futebol, em 2014, foi determinado na partida contra os chilenos.
Depois de ter perdido para Holanda (5 x 1), Espanha precisava de um bom
resultado contra a ex-colônia. Os gols de Vargas e Aránguiz transformaram o
Maracanã no cemitério da seleção campeã de 2010. Só restou engolir o orgulho,
abaixar a cabeça e voltar para casa (a vitória contra a Austrália – 3 x 0 – não
teve a mínima importância). Ficar em terceiro, em um grupo de quatro equipes,
com apenas três pontos, caracterizou um dos momentos mais vergonhosos da
história futebolística de Espanha.
Nesse cenário improvável para
desenvolver uma narrativa de desencontro amoroso, Arthur Dapieve promoveu a complicada intersecção
entre literatura e futebol. A história de Victor e Violeta (evocando as figuras
míticas de Victor Jara e Violeta Parra) constitui o pano de fundo para dissecar
a tempestade que cada ser humano carrega dentro de si. Mas, não é somente isso. Há
outros ingredientes. O passado político dos dois países – e, consequentemente,
dos dois personagens – revela que as diversas camadas de violência não podem
ser superadas pelo resultado de uma partida de futebol. O breve momento de
glória em que aquele que foi oprimido supera o opressor constitui uma insignificante vitória em uma guerra perdida. Ganhar uma partida de futebol não apaga a
História, não reduz a violência dos colonizadores, não recupera o que foi
roubado, não elimina milhares de mortes.
Arthur Dapieve |
No dia 18 de junho de 2014, Victor está
sentado em uma cadeira do Maracanã, esperando o inicio da partida contra o Chile. Na companhia
de Guillermo e Juan Pablo, ele ainda tem esperanças de que a seleção de Espanha
se recupere no campeonato. Em dado momento, os acontecimentos em campo perdem a
importância quando a câmera do telão do estádio focaliza o local onde eles
estão. Ao lado dos espanhóis estão três garotas, duas brasileiras e uma
chilena. A última, tentando fugir da câmera, beija Victor. Esse é o estopim que
deflagra uma série de eventos pouco usuais e que somente terminam na manhã
seguinte, quando o homem e a mulher se separam – para nunca mais se
encontrarem.
Essa é uma síntese do enredo de Maracanazo, o mais extenso dos cinco contos que compõem o livro homônimo. As outras narrativas se desenvolvem em ritmos e temas bastante diferentes. Tempo
Ruim descreve uma situação inusitada, tendo como protagonistas dois surfistas. Fragmento
da Paisagem, através do relato histórico, se concentra em um concerto em
Viena, Áustria, antes da Segunda Guerra Mundial. Enquanto as pessoas ouvem a
música de Mahler, o mundo se transforma – e jamais será como antes. Inverno,
1968, que havia sido publicado anteriormente na coletânea Contos para Ler Ouvindo Música (Org. Miguel Sanches Neto, 2005), trata de um ensaio da banda
Pink Floyd, e focaliza um dos episódios mais estranhos da história do rock. Bloqueio,
por sua vez, narra as dificuldades de um cadeirante nas ruas do Rio de Janeiro.
Sergio Busquets, depois da derrota para o Chile |
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