Os cartões postais praticamente
desapareceram do universo afetivo, epistolar e filatélico. Não servem nem mesmo
como recordações de algum lugar bonito ou de tempo longínquo. Os meios de comunicação produzidos
pela modernidade se tornaram mais rápidos e eficientes – e aqueles pedaços de papel
cartonado foram reduzidos a objetos evanescentes que encontramos perdidos
dentro de algumas gavetas.
É isso. Ou quase isso.
A comparação entre alguns livros e os
cartões postais surge de forma natural. Ao escolher ambientar alguns textos em cenário
de filme hollywoodiano, vários escritores contemporâneos conseguem mostrar para
o leitor uma bela estampa. Mas, infelizmente, a qualidade do texto que acompanha
a fotografia não possui conexão eficiente com o que está sendo narrado.
Um exemplo dessa teoria pode ser
encontrado em Welcome to Copacabana & Outras Histórias, de Edney Silvestre.
Ao reunir 20 contos, de temas diversos e pouca unidade entre si, o autor ambienta
a sua ficção em lugares paradisíacos (Rio de Janeiro, Paris, interior da
Itália). Complementando a atmosfera, não há economia nos penduricalhos: hotéis
cinco estrelas, marcas de carros, culto às grifes comerciais, citações de cenas
de filmes ou de livros, lições superficiais de história e geografia. Desse
caldeirão, sobressai uma erudição pouco útil e que parece ter função decorativa.
Por isso, visando não comprometer a proposta estética, quase todos os contos
possuem um andamento narrativo água-com-açúcar. Os diversos narradores, como
se fossem jornalistas que procuram expor os fatos sem emitir qualquer tipo de
conclusão, evitam (sempre que possível) se comprometer com temas que possa
causar discussões. O livro, em lugar de oferecer transgressão ou um pouco de
humor, adota o clichê como característica fundacional.
O volume abre e fecha com a história que
une afetiva e comercialmente Regina e Olga (Welcome to Copacabana e Apenas
uma Mulher de Negócios). As mesmas personagens também aparecem no meio do livro
(Não Tocam Mais Edith Piaf em Paris). São facetas do curioso encontro entre a
viúva ressentida e a russa falsificada. A viúva tem como objetivo existencial ir
passear em Paris, a russa quer ajuda na administração de sua agência de
acompanhantes masculinos. Prostituição gourmet. Depois de superarem alguns
percalços, as duas mulheres conseguem encontrar um denominador comum. Ao som
das canções de Charles Trenet e Edith Piaf. Comprovação de que sem um pouco de
banalidade não se pode entender a união entre elegance avec decadence.
Os pontos altos do livro estão demarcados
nas narrativas Ben que Olhava o Trem, Dentro da Guerra, Uma Mulher no
Exílio e Noite no Texas. No primeiro conto, a história de um demiurgo.
Abandonado pela mãe, o menino se torna morador de rua. Vivendo com outras
crianças, atenua a situação de vulnerabilidade com alegria e poderes curativos.
Belo exemplo de realismo mágico, onde lirismo se opõe à perversidade urbana. No
segundo, ambientado em território conflagrado, o horror se manifesta de forma
explicita, sem grandes explicações sociológicas para o instinto selvagem que habita o
interior da miséria humana. Com uma didática impressionante, a protagonista vai
esmiuçando as perdas que acompanham as guerras. A terceira história tem sabor
de thriller, apesar do final previsível. O quarto conto se concentra na epopeia
de um homem que, ao tentar entrar em Estados Unidos, é confundido com um
matador de aluguel.
O restante do livro não convence,
inclusive por que em alguns contos nota-se um tom discursivo e uma aspereza que
talvez estejam no lugar errado. Por fim, há crônicas travestidas de contos e contos
que violam a regra básica: menos é mais. Também há uma narrativa de ficção científica e
duas sobre a ambiguidade sexual.
Em Welcome to Copacabana & Outras Histórias faltam histórias mais envolventes, sobram cartões
postais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário