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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

POEMA PARA SER LIDO EM VOZ ALTA (versão modificada)



Ruas são rios – escorrendo pelo corpo da cidade. Ruas são rios – escondendo o corpo da cidade. Ruas são movimentos, barulhos, contrastes, cigarros, memórias, trabalho, medos, cachaça, fome, café, enganos, automóveis, música. Ruas são portas, janelas e cortinas. Ruas são as distâncias que afastam o olhar. Ruas são ilusões urbanas, tribos desencontradas, emoções represadas, histórias dilaceradas, pacotes sem destino. Ruas são amigos que desaparecem sem avisar, casas demolidas, edifícios que surgem a todo instante.  Ruas são a escrita e a leitura, o sextante e a bússola, o leme e o velame, a água e o naufrágio. Ruas são prédios, marquises, calçadas, lojas e olhares. Ruas são formas de esconder a cartografia da solidão e do desejo. Ruas são as pessoas que caminham pelas ruas e as pessoas que moram nas ruas. Ruas são ausências com a consistência das cicatrizes. Ruas ambicionam superar os limites e a exclusão. Ruas são ofertas e apetites vendidos em suaves prestações mensais. Ruas são formas de brincar com mistérios insolúveis. Ruas são becos sem saída e escadarias. Ruas são bilhetes de loteria que nunca serão premiados. Ruas são mil e uma aventuras (abismo e paraíso). Ruas são mulheres, dessas que prometem o céu e o inferno, dessas que cumprem o que prometem. Ruas são homens angustiados (procuram pela felicidade e vivem com medo de encontrá-la). Ruas são rapsódias de amor, encantos reproduzidos na novela das sete. Ruas são a falta e o excesso. Ruas são equações algébricas. Ruas são o som dos passos, um ir e vir sem fim. Ruas são as astronômicas previsões astrológicas e o barulho da chuva. Ruas são vitrines, beijos de namorados, cartazes de cinema, latas de lixo. Ruas conjugam o tempo presente, o fracasso das palavras e o triunfo das imagens. Ruas são ritmos, ritos, gritos, corpos, gargantas, línguas, dentes, silêncio. Ruas, minhas e tuas.

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