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segunda-feira, 21 de abril de 2025

FUMAÇA BRANCA, FUMAÇA PRETA

 


O Papa está morto, viva o Papa! Mas, antes dos rituais fúnebres, antes do enterro, antes que todos os cardeais com direito a voto no Conclave se desloquem para Roma, urge iniciar os conchavos para eleger o sucessor de Francisco I (Jorge Mario Bergoglio). A Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana é uma entidade política – sempre foi.  E somente os tolos negam isso.     

A morte do Papa significa o fim de uma era e, consequentemente, o inicio de outra. Será inovadora ou tradicional? Ninguém arrisca um palpite, embora a tendência seja a da rotatividade de pensamentos e ações. O pastor que gostava do Evangelho de Mateus  (especificamente 25:35-40) e pregava a empatia por setores menos favorecidos da sociedade (pobres, mulheres e homossexuais), deve ter, durante o seu pontificado, criado cisões entre os inúmeros setores eclesiásticos. É possível que surja uma reação em favor de princípios mais austeros. Se isso resultará em algo bom ou ruim, somente o tempo dirá.  

O que deve ser entendido, neste instante, é que os sucessores no trono de Pedro (comando da Igreja Católica) nem sempre contribuíram para mais congraçamento entre os povos, as religiões, a moral e a ética. A história do Papado está repleta de indivíduos que, por uma razão ou outra, se mostraram contrários às Escrituras. A ambição não possui limites e precisamos entender que aquele que ocupa o cargo é, sobretudo, humano.

Literariamente, dois livros (e suas versões cinematográficas), As Sandálias do Pescador (Morris West) e Conclave (Robert Harris) retratam a luta intestina pelo poder de forma pouco auspiciosa. São muitas as questões em jogo. A ideia globalista de eleger um representante do terceiro mundo entra em choque com o isolacionismo europeu (italiano, principalmente). A corrente reformista costuma se contrapor aos tradicionalistas (que são contra o ingresso das mulheres no serviço religioso e negam o direito ao casamento de pessoas do mesmo sexo). Os que acreditam na acumulação de riquezas se opõem aos de inspiração franciscana. Além disso, as questões pessoais (rivalidades, cobiças e fraquezas) costumam ser um ingrediente bastante forte na disputa pelo papado.

Recentemente, o atual presidente dos Estados Unidos manifestou interesse estratégico no Vaticano, tanto que indicou um crítico do Papa Francisco, Brian Burch (cofundador do grupo reacionário CatholicVote), como representante estadunidense. A manobra teve resposta imediata com a nomeação do Cardeal Robert McElroy como arcebispo de Washington – um defensor dos imigrantes e crítico do primeiro governo do republicano. Resta saber se essa rusga vai influenciar na escolha do novo Papa.  

De qualquer forma, convém observar que vice-presidente de Estados Unidos, James David Vance, que é católico, encontrou-se com o Papa um dia antes de seu falecimento. Francisco manifestou, mais uma vez, em alto e bom som, o descontentamento com a política de deportação massiva de imigrantes e pediu respeito pela dignidade daqueles que deixaram seus locais de origem para construir uma vida melhor em terras estadunidenses. Também, em recado muito específico, o Papa Francisco, na mensagem de Páscoa, conhecida como a benção Urbi et Orbi, pediu paz para as áreas de conflito (Gaza e Ucrânia, especificamente), locais onde as potências políticas costumam desprezar as questões humanitárias.

É difícil saber que rumos a Igreja Católica vai seguir a partir de agora. Quando a fumaça branca surgir na chaminé da Capela Sistina o mundo terá que enfrentar o futuro. Ao conservador Bento XVI (Joseph Aloisius Ratzinger) sucedeu o progressista (com reservas) Francisco I (Jorge Mario Bergoglio). Ninguém esperava por essa surpresa. Talvez tenhamos outra. Se Deus quiser.


Cena do filme Conclave (Dir. Edward Berger, 2024)


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