
Contaminado pelo furor do cinema, depois desse primeiro trabalho, Moretti nunca mais parou. Dirigiu e atuou em 19 filmes, onde a política e humor estão sempre presentes – com efeitos devastadores.
Caro Diário (1994), O Quarto do Filho (2000) e O Crocodilo (2006) provavelmente são os mais conhecidos.
Os bastidores da igreja sempre resultaram em interessante tema literário. Basta lembrar alguns trechos do Decamerão (Giovanni Boccaccio, 1348-1353) ou de romances como Os Subterrâneos do Vaticano (André Gide, 1914), As Sandálias do Pescador (Morris West, 1963) e Anjos e Demônios (Dan Brown, 2000) – todos adaptados ao cinema. Isso para não mencionar milhares de páginas escritas (e filmadas) sobre a mitologia que envolve os nomes de duas das mais tradicionais famílias italianas: Médici e Bórgia.

O Papa está morto. Seguindo o protocolo católico, cabe designar o seu sucessor. O conclave se reúne. Depois de alguma indecisão e muitas votações, quando alguns dos favoritos vão sendo descartados, os cardeais decidem pelo nome do Melville (ecoando no horizonte o mantra de Bartebly, o escriturário: Prefiro não fazer).

O Papa que não quer ser Papa (interpretado pelo magistral ator francês Michel Piccoli), durante uma consulta médica, consegue fugir da Guarda Suíça e passa alguns dias no meio do povo. A solidão do poder é também a inquietação física. Sem ser reconhecido pela multidão, o Papa se hospeda em um hotel e passa a freqüentar lugares que, em situação normal, lhe seriam vetados: lanchonetes, loja de departamentos, um teatro (onde estão interpretando A Gaivota, de Anton Chekov).

Por fim, o Papa reaparece, mostra-se ao povo, no balcão do palácio e... Comprovando a triste metáfora do homem perdido na multidão, sem poder contar com a ajuda de Deus, renuncia ao cargo.
Humanista, Moretti retrata os cardeais como indivíduos cheios de falhas, incapazes de ultrapassar os impasses produzidos pela ética e pela moral. Não é pouco.
sensacional
ResponderExcluirCurioso, em algum momento tenho certeza que Freud sonhou não em psicanalizar o Papa, mas assumir o lugar dele..
ResponderExcluirAmei ter descoberto o seu blog... engraçado como uma coisa leva a outra... o fio das missangas... procurando a livraria do Unibanco Arteplex descubro o grupo "Lendo a gente se entende" e lá vejo vários posts seus e acabo descobrindo o seu blog... Cinema e literatura, meus dois amores, comentados com tamanho refino. Parabéns.
ResponderExcluirAndréia: Obrigado pelo carinho! Beijos!
Excluir