
A resposta para a pergunta não é fácil − embora os três anos vividos em França, depois de ter se graduado em Letras na Universidade de Columbia, ajudem a entender porque ele não economiza sofisticação em seus romances.
De qualquer maneira, para quem tinha duvidas sobre o seu talento, foram as publicações de No País das Últimas Coisas, Palácio da Lua e Leviatã que confirmaram o que não precisava de confirmação. Aos poucos, Auster criou uma pequena legião de fãs. Em 2004, quando esteve no Brasil, participando da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), trocou figurinhas com Chico Buarque. Depois de ler um trecho de Budapeste, ouviu Chico ler um trecho de Noite do Oráculo. O público aplaudiu de pé a dupla.

O enredo é de fácil entendimento – embora a carpintaria narrativa, constituída por fragmentos, forneça algumas complicações que talvez fossem desnecessárias. Cada um dos personagens significativos (Miles Heller, Big Nathan, Morris Heller) conduz uma das partes do romance – esses três capítulos deságuam em uma espécie de desfecho coletivo.
Sunset Park é um romance pessimista. Além disso, como um desses remédios amargos que é necessário engolir para prevenir doenças mais graves, não há humor. Contraditoriamente, seja pelo tom narrativo, seja pelo fluir suave das frases, não é leitura pesada, não é um tratado da angústia.
Cada um dos personagens fulcrais precisa lidar com tipos especiais de abandono. Ao mesmo tempo, todos eles precisam superar as regras de comportamento estabelecidas pela macroestrutura – e que, de uma forma ou de outra, lhes parecem incompreensíveis.

Morris Heller vive a transição entre duas gerações, a do seu pai e a do seu filho. Dentro deste hiato afetivo está a segunda esposa. Alguma coisa não encaixa bem. Parece faltar alguma peça do quebra-cabeças. Ou sobrar. Assim, precisa superar as crises da esposa, a morte do filho adotivo, a fuga do filho legítimo, o desamparo de quem perdeu as relações familiares.

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