Os Éguas, de Edyr Augusto, ganhou, na
França, o prêmio Camaleón para o melhor romance estrangeiro publicado em 2015.
Foi uma surpresa. Para o público. Para aqueles que estudam a literatura
brasileira. Mais do que uma prova de que parte da produção literária nacional
está contaminada pela influência dos preconceitos geográficos (a narrativa se
passa em Belém, no Pará), essa premiação evidencia que – no mundo contemporâneo – a
publicidade costuma ocultar tudo o que não controla. Ou seja, alguns eventos (independente
da relevância) desaparecem no meio da avalanche de superficialidades.
Provavelmente, estamos diante de um desses casos.
Os Éguas, publicado originalmente em
1998, mistura, em doses assimétricas, drogas, sexo e violência. Escrito sob o
signo do realismo visceral e abusando da linguagem coloquial, inicia com um assassinato e termina no mesmo tom. Mas não é – de acordo com as formulas prontas
da teoria da literatura – exatamente uma narrativa policial. No máximo, um romance
de costumes. Péssimos costumes, como
pode comprovar o leitor. Ao investigar a morte do cabeleireiro Johnny Lee,
pseudônimo de Percival Anthony Simms, o delegado Gilberto (“Gil”) Castro toma
contato com algumas das áreas mais sombrias do submundo de Belém. O morto foi
um predador sexual – desses que não respeitam nada, nem ninguém. Pela sua cama
passaram diversas crianças, além da escória burguesa. Uma coleção de vídeos
amadores documenta esses excessos.
Edyr Augusto |
Gil Castro está longe de ser um santo. A
soma de suas “qualidades” (alcoólatra, incompetente para resolver as questões amorosas básicas,
desrespeitoso com as regras institucionais) mostra que é incompetente para evitar os problemas. Quaisquer problemas. Semelhante ao estereótipo imortalizado nos romances de
Raymond Chandler e Dashiel Hammett mistura – de maneira instintiva – a violência
com a inocência. Ou seja, além de ser incapaz de perceber que a vida está
repleta de contradições, poucas vezes consegue elaborar uma imagem nítida dos
acontecimentos.
A morte de Johnny Lee não constitui um
grande enigma. O cara era viciado em cocaína e morreu de uma overdose
de heroína – é o que garante o laudo da perícia técnica. A hipótese de suicídio não pode ser descartada. E agradaria a quase todos. A única peça estranha nesse
quebra-cabeça é o delegado Gil Castro, que não passa de um pobre coitado, e que,
na falta de coisa melhor para fazer, resolve realizar a investigação com um
pouco de seriedade.
Uma morte violenta atrai outras mortes
violentas. A situação se complica. Poucas diferenças separam a alta sociedade
da ralé. No entanto, há algo que coloca todos no mesmo patamar: ninguém quer que
certos fatos sejam revelados. Comércio de drogas, vícios sexuais, incompetência
do serviço público – são muitas as razões para que alguns personagens sejam
retirados de cena. Ao final, sobra o cinismo e a corrupção. Qualquer semelhança
com fatos reais não é mera coincidência.
Estou lendo todo o Edyr Augusto. Ele é foda pra caralho!
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