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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

PAI E FILHO NO CINEMA (texto modificado)

 


Fomos assistir um desses desenhos da Disney. Despesas por minha conta, apesar do saldo bancário assinalar níveis próximos da falência. 


Como é de conhecimento geral, sair com filho pequeno implica em carregar mochila com o básico: muda de roupa, sandália, salgadinhos diversos e, talvez o item mais importante, um urso de pelúcia (no caso, o Godofredo, mundialmente conhecido como Godô). 

Em ritmo caracol (carregando a casa nas costas), estávamos quase chegando à bilheteria, quando... Um pequeno obstáculo: comida. Depois do “nutritivo” lanchinho, o cinema. Ingressos na mão, parada obrigatória na bomboniere (balde de pipocas, chocolate e refrigerante). 

Quando, finalmente, sentamos nas poltronas e joguei a mochila no chão, sobraram alguns segundos para olhar a plateia. Claro, dezenas de crianças. E... oba!, algumas mães. Uma pequena compensação para essa vida de pa(i)trocinador!

Nesse momento, o menino começou a me contar uma história comprida sobre alguma coisa que aconteceu na escola. Confesso que não prestei muita atenção. Meu pensamento estava distante, em um tempo já perdido, quando morávamos juntos e a dor era apenas um trecho tolo de um romance de segunda classe. 

A salvação veio com o apagar das luzes e o início da sessão. Ao mesmo tempo em que a tela era invadida pelas cores da projeção, fingindo limpar os óculos com lenço de papel, sequei os olhos úmidos. E - que remédio? - mergulhei nas pipocas, aquilo tudo estava me deixando com fome!

Uns quinze minutos de projeção e o primeiro problema: pai, quero fazer xixi!. Fomos procurar o banheiro. Na volta, ao tentar localizar o nosso lugar, não vi o pé de uma senhora. Constrangido, pedi desculpas. 

O segundo problema foi quase imediato: com o menino entupido de pipocas, a sede era uma questão de tempo. Fui buscar refrigerante. O que se seguiu pode parecer brincadeira. Não foi. Pisei, outra vez, no pé daquela adorável criatura. O palavrão que ela pronunciou foi ouvido no outro lado da cidade. Pedi perdão, novamente. Na volta, tomei o maior cuidado para não repetir a cena. Mas levei o troco, ou melhor, uma rasteira. Só não beijei o chão por pouco, muito pouco. Coisas da vida, pensei, enquanto tentava enxugar as mãos molhadas de refrigerante.

Depois disso, seguiu-se um período de assustadora tranquilidade. As aventuras da tela foram superiores às desventuras da vida. Com frio, ele pediu para sentar no colo e assim, deitado no meu peito, continuou se divertindo com as trapalhadas que estavam acontecendo na tela grande. Foi fantástico sentir os meus braços em torno do seu corpo, as mãos acariciando-lhe o rosto e os cabelos. 

Terminado o filme, fomos comer pastel, tomar sorvete, ver as lojas (na livraria demorei uma eternidade, reclamou o menino).

Quando voltamos para casa, estava escurecendo. No ônibus, abraçado ao Godô, o menino dormia. Desejei poder repetir aquele dia outras vezes.


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