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domingo, 22 de dezembro de 2024

KURT COBAIN E WILLIAM BURROUGHS: UM ENCONTRO

 


Em outubro de 1993, William Seward Burroughs II (1914-1997) morava na Learnard Avenue, nº 1927, em Lawrence, Kansas. Aos 79 anos, depois de uma vida agitada envolvendo todos os tipos de loucuras possíveis na face da Terra, ele não gostava de receber visitas. Mas não conseguiu resistir à insistência de um fã: Kurt Donald Cobain (1967-1994).

A estrela do rock Grunge queria dividir um projeto com uma das grandes celebridades literárias da época. Durante o período que frequentou a escola, embora não tenha se graduado na Aberdeen High School, Cobain conheceu a literatura de Susan Eloise Hilton (Vidas Sem Rumo – The Outsiders, 1967) e da Geração beat, principalmente William Burroughs. Ou seja, Cobain sempre foi um admirador de um dos ícones da contracultura estadunidense. Mas não foi fácil superar as inúmeras barreiras até encontrar o Mestre. Depois de vários desencontros e uma carta onde Cobain declara sua admiração por Burroughs (agosto de 1993), o autor de Naked Lunch aceitou participar da gravação de um vinil.

A história da gravação do compacto They Priest They Called Him (texto incluído coletânea The Exterminator, de 1973) está dividida em duas partes. Burroughs gravou a sua participação em 25 de setembro de 1993, em Lawrence, Kansas. Cobain acrescentou os solos de guitarra em novembro do mesmo ano, em Seattle, Washington State. Em um lado do disco estão a narrativa e a música; do outro, autógrafos dos dois artistas. Foram prensadas dez mil cópias, todas numeradas a mão. O lançamento nacional ocorreu em 01 de setembro de 1993. A foto da capa do encarte é de Gus van Sant.    

Em outubro de 1993, durante a primeira semana de uma série de shows do Nirvana, o gerente da turnê Alex MacLeod levou Cobain até Lawrence. Burroughs descreveu o encontro da seguinte forma: Eu esperei e Kurt saiu com outro homem. Cobain era muito tímido, muito educado e obviamente gostou do fato de eu não ter ficado impressionado ao conhecê-lo. Havia algo nele, frágil e envolventemente perdido. Ele fumava cigarros, mas não bebia. Não havia drogas. Eu nunca mostrei a ele minha coleção de armas.

 


Cobain presenteou o seu ídolo com uma biografia de Leadbelly (músico elogiado por Burroughs) e recebeu em troca uma pintura. Eles conversaram durante algumas horas. Cobain considerou o encontro como um dos momentos mais importantes de sua vida. Em uma entrevista, posteriormente, declarou: I’ve collaborated with one of my only Idols William Burroughs and I couldn’t feel cooler (Colaborei com um dos meus únicos ídolos, William Burroughs, e não poderia me sentir melhor).

Pouco se sabe sobre quais assuntos os dois conversaram. Pode ter sido apenas uma circunstância em que dois amigos se encontraram para relembrar alguma coisa do passado ou construir algum tipo de memória.  



Cobain se suicidou em 5 de abril de 1994, em Seattle, Washington State – o corpo só foi encontrado três dias depois. Burroughs faleceu em 02 de agosto de 1997, em Lawrence, Kansas.  

 


Para maiores detalhes sobre o encontro entre Kurt Cobain e William Burroughs, consultar: 

COBAIN, Kurt. Diários de Kurt Cobain. Osasco (SP): Editora Belas Letras, 2024; 

CROSS, Charles R. Heavier than Heaven – mais pesado que o céu. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2015; 

ROCHA, Servando. Nada es Verdade, Todo Está Permitido – el dia que Kurt Cobain conoció a William Burroughs. Barcelona, España: Ediciones Alpha Decay, 2015.


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