Robert Redford (nascido Charles Robert Redford, Jr.), 77 anos, continua em
forma. E, para o bem ou para o mal, mais próximo do Sundance Film Festival do que da
cerimônia de entrega do Oscar. Ou seja, segue pensando politicamente. Coerência, dizem
ser a expressão adequada para qualificar esse tipo de situação. O tempo não para
– as ideias permanecem.
Seu último filme, o thriller Sem
Proteção (The Company You Keep. Dir. Robert Redford, 2012), baseado em um
romance de Neil Gordon, não possui, por exemplo, a importância de Todos os Homens do Presidente (All the President`s Men, 1976) ou Leões e
Cordeiros (Lions for Lambs, 2008), mas serve de lembrança – para quem gosta
de cinema – de que a bandeira política ainda está tremulando, desafiando o
vento, marcando território.
Segredos são coisas perigosas, alerta James
“Jim” Grant, ou melhor, Nicholas “Nick” Sloan (Robert Redford) em uma conversa
com Benjamin Sheppard (Shia LaBeouf), um jornalista sem muitos escrúpulos. O que ele quer
dizer é que não existe mais segurança depois que alguém decide abrir as portas
da História. Ruínas passam a ocupar o lugar daquilo que havia antes, embora o
antes também não fosse algo digno de confiança – mas, por diversos motivos
estava escondido, hibernando. A questão nevrálgica, então, está em compreender
que o passado está predestinado a retornar e incomodar – porque, como uma
criança mimada, dessas que ficam criando joguinhos maldosos, só se satisfaz quando
recria tragédias.
A verdade (seja lá o que isso possa ser)
não consiste em somar dois eventos e uma conclusão. Poucos “leitores” conseguem
perceber que a História, aquela com “H” maiúsculo, está repleta de sutilezas. Em
outras palavras, no a-pós-o-moderno predomina a volatilização. Tudo que é
sólido desmancha no ar, dizia Marx, em um de seus momentos profetas do
Apocalipse, lá no cada vez mais distante século XIX. Pode ser, mas uma das
formas de reagir contra o horror do esvaecimento está em perceber que ideias (e
ideais) não são sólidas, não se desmaterializam.
O enredo de Sem Proteção parte de
um tema crucial: na década de 70 do século XX, o grupo político “Weather
Underground”, contrário à intervenção estadunidense na Guerra do Vietnam,
realizou diversos atos violentos contra o governo, inclusive assaltos
bancários. Muitas vezes essas ações resultaram em desastres e mortes.
A estrutura narrativa do filme revela
que, em um desses assaltos a banco, ocorreu uma fatalidade: a morte de um
guarda. Esse fato desencadeou uma série de ações igualmente violentas. Talvez a
mais significativa seja que todos aqueles que participaram do assalto foram
caçados pelo Federal Bureau of Investigacion (FBI).
Assumindo novas identidades, eles
conseguiram evitar a prisão durante trinta anos. Quando Sharon Solarz (Susan
Sarondon) foi presa, o passado voltou à tona. Quem realiza a intermediação
entre as diferenças temporais é um jovem jornalista. Ambicioso e sem
escrúpulos, além de ter faro para encaixar as peças do quebra-cabeça, Benjamin
Sheppard consegue estabelecer as ligações capazes de elucidar a história. Com
isso arrasta diversas pessoas e interesses para o olho do furacão. Nicholas
“Nick” Sloan (que durante anos se escondeu atrás de um nome falso: James “Jim”
Grant), injustamente acusado de ter participado do assalto, inicia uma fuga
insana. Quer encontrar um velho amor de juventude, Mimi Laurie (Julie
Christie), a única pessoa no mundo capaz de inocentá-lo.
Durante cerca de 90 minutos desfilam
pela tela inúmeras discussões: obtusidade política, abandono familiar e culpa.
Em contrapartida, a amizade se projeta como um dos grandes escudos contra o
horror. Mas, mesmo aqueles que conseguem sobreviver aos danos promovidos pelos
acontecimentos, precisam sobreviver ao passado. A política ensina que nem sempre isso é possível.
Robert Redford, ao lado de Paul Newman, em Butch Cassidy and the Sundance Kid (Dir. George Roy Hill, 1967) |
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