Aos 82 anos de idade, a escritora canadense
Alice Anne Munro (nascida Laidlaw) se tornou, na manhã do dia 10 de outubro de
2013, a décima-terceira mulher a receber o Prêmio Nobel de Literatura. O seleto
grupo das ganhadoras é composto por Selma Lagerlöf (Suécia, 1909), Grazia
Deledda (Itália, 1926), Sigrid Undset (Noruega, 1928), Peal Sydenstricker Buck
(EUA, 1938), Gabriela Mistral (Chile, 1945), Nelly Sachs (Suécia, 1966), Nadine
Gordimer (África do Sul, 1991), Toni Morrison (EUA, 1993), Wislawa Szymborska
(Polônia, 1996), Elfriede Jelinek (Áustria, 2004), Doris Lessing (Grã-Bretanha,
2007) e Herta Müller (Romênia/Alemanha, 2009).
Ao anunciar o nome de Alice Munro, a Academia
Sueca chamou-a de mestre dos contos contemporâneos. Essa afirmação ratifica a
opinião de Cynthia Ozick que considera Munro uma espécie de Tchekov da língua
inglesa. Aliás, muitos escritores e críticos significativos se curvam ao talento da canadense. Segundo David Homel, Ela escreve sobre mulheres e para mulheres, mas não amaldiçoa os homens. O eternamente midiático Jonathan Franzen, no ensaio De Onde Vem Essa Certeza de que Você Mesmo Não é o Mal?, que está incluído na interessante coletânea Como Ficar Sozinho (Companhia das Letras, 2012) não faz economia de elogios para descrever o quanto a literatura de Munro o impressiona: A leitura de Munro me deixa num estado reflexivo no qual penso sobre a minha vida: sobre as decisões que tomei, as coisas que fiz e que não fiz, o tipo de pessoa que sou, a perspectiva da morte. Ela faz parte daquele punhado de escritores, alguns vivos, a maioria morta, que tenho em mente quando digo que a ficção é a minha religião. Porque enquanto estou imerso num conto de Munro, estou atribuindo a um personagem totalmente fictício o tipo de respeito solene e de interesse enraizado que me atribuo em meus melhores momentos como ser humano.
Munro não costuma frequentar seminários, congressos literários ou eventos promocionais. Recentemente, em entrevista
ao jornal New York Times, anunciou a aposentadoria. Depois uma operação
cardíaca e de um câncer, quer se dedicar à família: parece natural fazer aquilo
que outras pessoas de 80 anos fazem, declarou.
Alice Munro nasceu em Wingham, província
de Ontário, em 10 de julho de 1931. Casou com Michel Munro, aos 20 anos de
idade, e foi morar em Vancouver. Separou-se em 1972 e voltou para Ontário.
Casou com Gerald Fremlin, em 1976. As três filhas são frutos do primeiro
casamento.
A carreira de escritora solidificou a
partir do segundo casamento. Publicou 14 livros de contos, sendo que, salvo engano, nove possuem tradução no Brasil: Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento (Editora Globo, 2004), Fugitiva (Cia das Letras, 2006), Felicidade Demais (Cia das Letras, 2010) e O Amor de Uma Boa Mulher (Cia das Letras, 2013), Vida Querida (Cia das Letras, 2013), A Vista de Castle Rock (Biblioteca Azul, 2014), A Amiga de Juventude (Biblioteca Azul, 2014), Falsos Segredos (Biblioteca Azul, 2015), O Progreso do Amor (Biblioteca Azul, 2017). O
filme Longe Dela (Away from Her. Dir. Sarah Polley, 2006) foi baseado nos
contos de Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento.
Um dos momentos representativos da prosa
escrita por Alice Munro está retratado no conto Ódio, Amizade, Namoro, Amor,
Casamento (que integra o livro homônimo). Para se livrar de uma vida opressiva
de empregada, Johanna decide mudar as regras do jogo. Iludida por cartas que
acreditava terem sido escritas por um admirador, Ken Boudreau, resolve
procurá-lo. Quer casar. Por isso, compra um vestido de noiva e despacha a mobília
por trem. Depois de uma viagem estafante, encontra o pretendente doente. Cuida
dele, limpa a casa, desfaz hábitos nocivos, impede a desordem financeira. E
permite que ele se apaixone.
A prosa descritiva, pouco afeita aos efeitos
modernosos dos fluxos de consciência e dos monólogos interiores, reconstrói
pacientemente a intimidade doméstica. As personagens femininas são fortes,
determinadas. Na busca de algum impulso vital, recusam o niilismo e o
puritanismo. São contos caudalosos, média de 50 páginas os mais concisos, repletos
de detalhes. O interesse do leitor se mantém por dezenas de páginas em função
do domínio absoluto do enredo e dos diálogos, que acrescentam – explicita e
implicitamente – dezenas de informações.
Alice Munro ganhou três vezes o Governor
General’s Literary Awards (1968, 1978, 1986) e o Man Booker International
Prize (2009), entre outros prêmios.
Lista dos livros de Alice Munro:
Dance of the Happy Shades, (1968)
Lives of Girls and Women (1971)
Something I’ve Been Meaning to Tell You (1974)
The Beggar Maid (antes Who Do You Think You Are?) (1978)
The Moons of Jupiter (1982).
The Progress of Love (1986)
Friend of My Youth (1990)
Open Secrets (1994)
The Love of a Good Woman (1998)
Hateship, Friendship, Courtship, Loveship, Marriage (2001)
Runaway (2004)
The View from Castle Rock (2006)
Too much happiness (2009)
Dear Life (2012)
(texto revisto em 03/05/2018).
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