A tristeza estampada no rosto magro. A
cabeleira altiva. O olhar concentrado no horizonte. O cigarro entre os dedos. O
uso contínuo do quimono como um escudo contra as adversidades do mundo. Yasunari
Kawabata era um poema em forma humana.
No dia 16 de abril de 1972, durante uma
crise de depressão, Kawabata se suicidou. A viúva, Hideko, negou essa hipótese.
Alegando que foi um acidente doméstico (inalação de gás de cozinha), lembrou
que o escritor havia se manifestado diversas vezes contra essa forma de
violência. Em contrapartida, alguns biógrafos destacam que dois amigos,
Ryūnosuki Akutagawa (1892-1927) e Yukio Mishima (1925-1970), também se
suicidaram – e que cada uma dessas mortes teve um significado psicológico de
difícil mensuração.
A orfandade sempre acompanhou Kawabata. As
mortes dos pais e dos avós na infância e no início da adolescência foram
traumáticas. Precisou ir viver com parentes. Depois foi estudar em um
internato. A escolha da literatura como profissão ampliou o isolamento. Aquele
que escreve elimina tudo o que está ao redor e constrói um mundo particular – e
que somente se torna acessível quando o escritor decide compartilhar o texto com
os leitores.
Durante o período em que estudou na
Universidade Imperial de Tóquio, participou do grupo que criou o jornal Bungei
Jidai (Anais Literários) – que procurava promover o movimento literário
Xinkankakuha (Sensações Literárias). A ideia era romper com o realismo japonês
e promover as vanguardas europeias e a objetividade científica. Foi nessa época
que se tornou amigo de Riichi Yokomitsu (1898-1947).
Kan Kikuchi, Yasunari Kawabata, Teppei Kataoka, Riichi Yokomitsu, Shinzaboro Iketani. (esq. para dir.) |
Entre 1935 e 1937 publicou, de forma
gradual, O País das Neves – que é considerada a sua primeira narrativa importante. A história de amor entre Shimamura e Komako, cristalizada nos
abandonos e reconciliações, na indecisão e no instinto, inaugura uma literatura
introspectiva, repleta de sentimentos complicados, e que procura projetar nos
personagens o turbilhão que dilacera o intimo de cada ser humano. Ao descrever
a passagem incontrolável das estações climáticas, a fúria do mar, as distâncias
que separam a vida urbana do mundo rural, também relatou os mistérios que estão
abrigados no interior de cada um dos personagens.
Yukio Mishima e Yasunari Kawabata |
Depois do final da II Guerra Mundial,
participou de diversas manifestações políticas conservadoras. Possivelmente foi
influenciado pelo estilo combativo e neofascista de seu grande amigo – embora
bem mais moço – Yukio Mishima.
Entre os seus livros mais conhecidos,
destacam-se O Mestre de Go (publicado entre 1951 e 1954), Mil Tsurus
(1949-1952), A Casa das Belas Adormecidas (1961), Kyoto (1962) e Beleza e
Tristeza (1964). A edição completa de Contos da Palma da Mão foi publicada
postumamente, em 1972.
Bungei Jidai: Shinzaburo Iketani, Yasunan Nakagawa, Kinsaku Ishihama, Yasunari Kawabata e Tadao Suga (esq. para dir.) |
Kawabata foi o primeiro escritor japonês
a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1968. Esse feito somente se repetiu
em 1994, com Kenzaburo Oe.
No plano estético, Kawabata esteve
próximo da perfeição. Em suas narrativas, o carinho e suavidade se destacam em
prosa poética e contrastam com os temas mais recorrentes: a solidão, a
filosofia oriental, a sexualidade e a beleza feminina. As tragédias humanas
(que não se separam da presença angustiante da morte) são uma constante. Simultaneamente,
a leveza e a delicadeza das histórias exigem atenção redobrada, pois os
detalhes são de crucial importância. A ação narrativa é lenta, ele gostava de
“pintar com as palavras” – como destacam alguns admiradores de sua literatura.
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