As feridas ainda não cicatrizaram – doze
anos depois da queda das torres gêmeas do World Trade Center. A nação que sente
prazer perverso em fazer violentas demonstrações de força e atacar territórios
estrangeiros, principalmente os indefesos, acumula um interminável ressentimento por
ter sido agredida pela primeira vez na história. A retaliação que se seguiu ao
ataque terrorista, inclusive inventando ameaças e perigos para justificar o
massacre que promoveu no Iraque e no Afeganistão, mostra que o ego estadunidense
é proporcional ao instinto predador.
Como a contemporaneidade estava carente
de “grandes narrativas”, a literatura e o cinema encontraram no 11 de setembro
um terreno fértil para a produção artística. Histórias de amor, thrillers
políticos, loucura social, crueldade humana, teoria da conspiração – a lista de
abordagens possíveis beira o interminável. Em contexto paralelo, diversas
histórias (filmes, romances, contos) abordam os acontecimentos (reais ou fictícios)
que sucederam a tragédia.
Amy Waldman, no romance A Submissão,
conseguiu encontrar um ângulo interessante – e, aparentemente, inédito. Vários
projetos concorrem para construir um memorial em homenagem às vitimas do 11 de
setembro. Ao ser aberto o envelope que identifica o autor da ideia vencedora,
descobre-se que o arquiteto é de origem muçulmana. Esse fato surpreendente
possibilita diversas reviravoltas na narrativa. Quem defendia o “jardim”,
passou a atacá-lo. Quem era contrário, reclama da não observância do
regulamento. Associações de defesa das vítimas do World Trade Center entram em
choque com organizações de proteção dos muçulmanos que possuem
cidadania estadunidense. Entre idealistas e oportunistas, todos lutam por
demandas que, em muitos momentos, divergem do ponto principal. Como somente é
possível nesse tipo de situação, há quem manipule o momento traumático e a
dolorosa lembrança dos mortos para obter algum tipo de benefício.
Típico romance de entretenimento, desses
que “grudam” na mão do leitor, A Submissão aborda com alguma profundidade a crueldade, o racismo, a intolerância política e religiosa, o
oportunismo jornalístico e o fascismo político – alguns dos temas mais relevantes
da modernidade. Ao mesmo tempo, o enredo está centralizado nos sentimentos (amor,
ambição, dúvidas, coragem, covardia) que (des)unem Claire Burwelll, Paul Rubin,
Mohammad Khan, Alyssa Spier e Sean Gallagher, além de outros personagens
menores. São esses momentos “humanos” que convencem o leitor que é necessário continuar a
leitura.
Reunindo algumas das principais características
de um pré-roteiro cinematográfico (linearidade narrativa, diálogos
significativos, elementos psicológicos e contundentes mudanças na ação
dramática), provavelmente será adaptado à tela grande. Enquanto isso não
acontece, A Submissão é uma leitura interessante – talvez em algum final de semana na
praia, talvez para fingir que nos importamos com o mundo.
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