Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908),
considerado como a figura mais emblemática da literatura brasileira, costuma
ser transformado em protagonista em diversas narrativas contemporâneas. Faz
parte do show (embora seja difícil saber se isso é bônus ou ônus). Basta
lembrar, entre outros, Memorial do Fim (1991), de Haroldo Maranhão, Por Onde
Andará Machado de Assis? (2004), de Ayrton Marcondes, e Machado (2016), de
Silviano Santiago.
A novela O Filho de Machado de Assis,
escrita por Luiz Vilela, pretende (na medida do possível) centrar as luzes dos
holofotes literários em uma dos muitas versões historiográficas que margeiam a
vida do “Bruxo do Cosme Velho”. Tentando desmentir a famosa frase que encerra Memórias
Póstumas de Brás Cubas (– Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
legado de nossa miséria), muitos ficcionistas (disfarçados de historiadores)
imaginam as possibilidades que justificariam a tese de que o DNA do célebre escritor
não foi extinto. Entre tantas maluquices, não falta quem atribua duvidosa paternidade ao
Mário de Alencar, que poderia ser o fruto de uma “ligação perigosa” entre
Joaquim Maria e Georgiana Augusta, esposa de José de Alencar. Como, até o momento,
ninguém conseguiu provar nada, as versões continuam adquirindo consistência.
Luiz Vilela |
A proposta da narrativa escrita por Luiz
Vilela parte de outra hipótese – embora similar. O professor de literatura Simão (Bacamarte?), em conversa com Telêmaco (mais conhecido como “Mac”), o seu discípulo favorito, relata uma descoberta. Durante uma pesquisa que estava fazendo na Biblioteca
Nacional, entre as páginas de inúmeros livros e revistas, Simão encontrou...
Encontrou algo que, se comprovado, poderia mudar a biografia de Machado de
Assis. A possibilidade de conjunção carnal, uma aventura da mocidade, do futuro
Presidente da Academia Brasileira de Letras com uma negra teria gerado um
descendente:
“Pois é. Negro da cor de azeviche. E esse – se não estou errado em minhas análises –, esse foi o principal motivo de ter o Machado ocultado, quem sabe até renegado por toda a vida, o filho.”
Descartada a discussão sobre o embranquecer
de Machado de Assis (uma questão notória – e pouco glamorosa – na biografia do
escritor), a ideia apresentada por Simão parece estar assentada em areia
movediça. Sem acrescentar um único fato relevante, praticando a nobre arte
da dissimulação, do uso das reticências e ambiguidades, o professor vai
enrolando. São 105 páginas de muito blábláblá e nenhuma ação. O aluno queria
estar na praia, na companhia da namorada, mas precisa ficar ali, no escritório
de Simão, ouvindo a suave música do delírio.
Joaquim Maria Machado de Assis |
As páginas finais da novela completam o
ciclo do previsível. Depois que os dois homens se despedem, o aluno parte em
uma viagem longa. Quando regressa, descobre que o Mestre faleceu.
A novidade, o filho de Machado, também
foi enterrada. Como se nunca tivesse existido.
O Filho de Machado de Assis é um livro divertido, porém inócuo. A melhor lição que o leitor obtém quando termina a
leitura é que, nos bons livros, não basta a habilidade de produzir diálogos de
qualidade. É necessário mais. Muito mais. O livro de Luiz Vilela fica devendo.
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