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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

OUTRAS CINQUENTA E CINCO MÁXIMAS E REFLEXÕES DO MARQUÊS DE MARICÁ

– Não é livre quem não tem suficiente inteligência para haver ou defender a liberdade.

– A razão no homem é como a luz do pirilampo: intermitente, pequena e irregular.

– A sabedoria é reputada geralmente pobre, porque se não podem ver os seus tesouros.

– É mais seguro escrever do que falar. Falando, improvisamos; para escrever, refletimos.

– Os sábios enganam-se pensando que são compreendidos por todos, os ignorantes presumindo que todos ignoram o que eles sabem.

– É fácil governar os homens pelo terror; mas é difícil fazê-lo por muito tempo e impunemente.

– O princípio das democracias não é a virtude, mas o ciúme ou a inveja: desejando cada um ser rei, todos se opõem e não consentem que o haja.

– Quem atraiçoa o seu rei não é leal a mais ninguém.

– Quando se faz da traição virtude, ela vegeta em toda parte e sufoca a lealdade.

– Sucede nas revoluções como nas loterias: a perda é de muitos, o ganho de poucos e, em geral, os mais indignos.

– Há verdades que é mais perigoso publicar do que foi difícil descobrir.

– Nos partidos políticos a calunia é moeda corrente que circula sem o menor escrúpulo nem reserva.

– Desprezamos ordinariamente as opiniões alheias quando se não conformam com as nossas.

– Os nossos inimigos contribuem mais do que se pensa para o nosso aperfeiçoamento moral. Eles são os historiadores de nossos erros, vícios e imperfeições.

– O silêncio ainda que mudo é frequentes vezes tão venal como a palavra.

– Vivemos como andamos, querendo guardar equilíbrio e escorregando frequentes vezes.

– A maledicência pode muitas vezes corrigir-nos, a lisonja quase sempre nos corrompe.

– A ignorância tem seus bens privativos, como a sabedoria seus males peculiares.

– Quando a consciência nos acusa, o interesse ordinariamente nos defende.

– Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca fortuna, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo.

– Há muita gente infeliz por não saber tolerar com resignação a sua própria insignificância.

– Como a luz em uma masmorra faz visível todo o seu horror, assim a sabedoria manifesta ao homem todos os defeitos e imperfeições da sua natureza.

– O prazer da vingança é semelhante a alguns frutos, cuja polpa é doce na superfície e azeda junto ao caroço.

– Os cortesões vivem sonhando e morrem de pesadelos.

– Os benfeitores imprudentes fazem beneficiados ingratos.

– A virtude remoça os velhos, o vício envelhece os moços.

– Há homens que de repente crescem e avultam, como os cogumelos, pela corrupção.

– A mocidade é temerária; presume muito porque sabe pouco.

A Sagração de Dom Pedro II,
óleo sobre tela de Araújo Porto-Alegre, 1840
– Em tese geral não há homem feliz sem mérito, nem desgraçado sem culpa.

– Há mentiras que são enobrecidas e autorizadas pela civilidade.

– Fingimos desprezar a morte para ocultar o horror que ela nos causa.

– Poucas mulheres se reconhecem feias; nenhum homem, tolo.

– As sociedades humanas deixam de existir ou se dissolvem quando os vícios e crimes sobrepujam as virtudes.

– O amor, como o menino, começa brincando e acaba chorando.

– Os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito.

– O pobre lastima-se de querer e não poder, o avarento se ufana de que pode – mas não quer.

– Ordinariamente tratamos com indiferença aquelas pessoas de quem não esperamos bens nem receamos males.

– Os homens se disfarçam– como as mulheres se enfeitam – para agradarem ou enganarem.

– Folgamos com os erros alheios como se eles justificassem os nossos.

– Há certos passatempos e prazeres ilícitos que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude.

– O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.

– Há homens que se tornam importunos, desejando laboriosamente parecer corteses.

– Quase sempre atribuímos os nossos revezes à fortuna e bem raras vezes aos nossos desacertos.  

– Todos se queixam. Uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza ou limitação dos bens de que gozam.

– Uma grande reputação é talvez mais incômoda que a insignificância pessoal.

– Quando a fortuna nos maltrata, recorremos à filosofia ou à religião para que nos console e conforte.

O Baile da Ilha Fiscal,
óleo sobre tela de Francisco Figueiredo, 1905
– Há muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso que o sofrimento dos males presentes.

– Os empregos que por intrigas e facções se alcançam, por facções e intrigas se perdem.

– Os maus queixam-se de todos, os bons de poucos, os melhores de ninguém ou de si próprios.

– Agrada mais o nosso amor-próprio a companhia que nos diverte que a sociedade que nos instrui.

– A ignorância nos empregados públicos é talvez mais danosa do que a sua improbidade. Em um jardim causa menos detrimento um ladrão do que um jumento.

– A nossa imaginação gera fantasmas que nos espantam em toda a nossa vida.

– Quando não podemos gozar a satisfação da vingança, perdoamos as ofensas para merecer ao menos os louvores da virtude.

– Não é raro aborrecermos aquelas mesmas pessoas que mais admiramos.


– Ordinariamente nos fingimos distraídos quando nos não convém parecer atentos.

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