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terça-feira, 29 de dezembro de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CLXXXII)

 

Study of Rachel Russel (oil on panel).
Edwin Henry Landseer (1802-1873)


No final de dezembro é comum fazer retrospectivas, resenhas e listas dos melhores livros do ano. Ou então, como prova de leitura, relacionar aqueles de que mais gostamos nos últimos 365 dias. Considerando que não me iludo com as boas intenções que envolvem (com papel de embrulho colorido) esse tipo de interação, deixarei a tarefa para outros. Além disso, gosto se discute – e a minha avaliação (que é bastante limitada) raramente coincide com qualquer coisa que poderia ser chamada de senso comum. 

Prefiro a contenção dos elogios – o de hoje pode ser a vergonha de amanhã. Acredito que o melhor juiz é o tempo, que não se curva à euforia que acompanha a precipitação.

Detesto listas. Não importa o critério adotado, esse exercício está centrado na ausência e seus sinônimos: falta, omissão, negação, exclusão. Muitas vezes também dão um passo na direção do equívoco. Afirmar que estes ou aqueles são os melhores livros do ano é de uma temeridade que assusta. Acaso o autor da classificação leu TODOS os que foram publicados no país? Obviamente que não. Ninguém tem tempo ou paciência para ler cinco mil livros (romances, contos, poemas). Talvez os leitores vorazes consigam ler uns cem. Ou menos. Bem menos.

E os livros premiados em concursos? Também não devem ser acolhidos como integrantes das listas dos melhores? Ora, ora! Cada concurso possui regras específicas e um corpo de jurados que... na falta de expressão mais civilizada, agem de acordo com interesses diversos daquele que os ingênuos chamam de qualidade (um conceito difuso, sem substância). Prêmios (salvo raras exceções) atendem aos interesses da indústria editorial.         

Prefiro continuar incentivando a leitura, sem declarar preferências, sem tentar cooptar seguidores e patrocínios. Quem trabalha com a cultura possui um inimigo muito poderoso: a comercialização (monetização). E, infelizmente, poucos “ativistas culturais” conseguem resistir ao canto da sereia. A sobrevivência sempre foi a desculpa perfeita para aqueles que Circe transformou em porcos.

A Internet está repleta de indicações literárias (vídeos e comentários escritos) que em nada diferem do marketing mais infame. Youtubers transformaram a literatura em carnaval (impulsionados por editoras amigas). Com uma linguagem que se aproxima do coloquial e se afasta da crítica literária, distribuem elogios como se fossem confetes e serpentinas. Em cerca de 80% é mais do mesmo, ignorando a regra básica do minimalismo: menos é mais.

Mas, por favor, não entendam que estou defendendo algum absurdo como a arte pela arte, literatura pela literatura. Nada disso. O que gostaria de destacar é que é necessário, na trincheira, saber o grau de credibilidade de quem está ao nosso lado. Os representantes da indústria literária (e seus vassalos) certamente não são confiáveis. Nunca foram. E não será agora que mudarão o roteiro da procissão. Inclusive porque o santo de devoção é outro.

Por fim, para que não restem dúvidas, qualquer leitura sempre será melhor do que nenhuma. Pouco importa se o leitor gosta dos clássicos ou da literatura erótica, dos dramalhões ou da ficção científica, dos ensaios ou das histórias em quadrinho. O importante é ler. Quanto mais, melhor.   

Que, em 2021, as bibliotecas públicas se multipliquem.   


sábado, 26 de dezembro de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CLXXXI)

 


Esta época do ano solicita alegrias, presentes, esperanças e orações. Lamento pelos que pensam assim. Vou quebrar a regra civilizatória do bom comportamento e dizer (escrever) que as festas de dezembro me deixam depressivo. 

O passado costuma costurar de forma descuidada as piores recordações. Em momentos de euforia (ou seja, de descuido), alguns remendos de péssima qualidade fogem das gavetas onde estavam guardados a sete chaves e desfilam pela passarela que chamamos de história pessoal.

Paradoxalmente, todas as complicações (e foram muitas) produziram um benefício: reforçaram a couraça – o suficiente para evitar a dose extra de medicação ou de álcool. Em outras palavras, choro pouco. Cada vez menos. Estou ficando desidratado de sentimentos. O que talvez confirme o que dizem os astrólogos: os aquarianos não possuem coração.   

Morador da aldeia, no alto de um planalto provinciano, longe de tudo e de todos, muitas vezes pensei em fugir. Para onde? Não sei. O canto da sereia tem os seus encantos, acena com recantos escuros e escusos, prazeres que poucos experimentaram. Arrumei as malas e fui (várias vezes). Insisti em deixar para trás as ruas que testemunharam brigas de família e conflitos variados. Pensava que ser adulto significava recusar o que oprime. Sem qualquer tipo de compromisso, sem olhar para trás, protagonizei aventuras em outras paisagens. Foi uma felicidade fria / daquele tipo de alegria, / triste como nostalgia, como definiu o João Mantuano em uma de suas canções.

Em determinado momento, cansado de trapaças e trapalhadas, percebi que mesmo quando alcançamos os lugares mais distantes, estamos sempre voltando para casa. Ninguém consegue resistir às forças ancestrais. Então tá, disse para mim mesmo, enquanto encaixotava livros e lembranças.  

Outra vez na capitania hereditária, fiz questão de manter ao redor do castelo um fosso com jacarés famintos. Só abaixo a ponte levadiça para uma meia dúzia de amigos e uma minúscula parcela da família. A vida é curta demais para perder tempo com quem adora causar aborrecimentos.

Quando me perguntam do porquê de tudo isso, didaticamente explico que não quero interpretar papel de vilão, mas, por preferência pessoal, tenho mais prazer na companhia das criaturas de papel do que nas de carne, osso, sangue e dor.

Abusando da liberdade poética, costumo dizer (para os fins que se fizerem necessários e a quem interessar possa) que foi a literatura que me salvou. Se não houvesse o mundo onírico da ficção e da poesia, provavelmente teria sido arrastado (arrasado) pelo vórtice da insensatez. Ou melhor, seria um desses sujeitos que prestam vassalagem às tabelas de Excel, que reduzem tudo aos percentuais de lucro capitalista e que apostam na pulsão da morte.

Quero distância dessa gente. Também quero ser vacinado. E não estou preocupado com a procedência do medicamento. A proteção da vida está acima dos interesses políticos.

Enquanto o entusiasmo (do grego, in + theos, estar com deus) não acontece, imagino o momento em que todos poderão caminhar pelas ruas e não ter medo.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CLXXX)

 


No ano um da pandemia (também conhecido como o ano em que ficamos em casa) me transformei no arroz de festa das lives (literárias, políticas, musicais e econômicas). Basta ver no Facebook ou no Instagram o convite para algum desses encontros que uma luz brilha no meu olhar. Depois de agendar o evento, fico ansioso para ver as performances e as surpresas – que são sortidas: conexões ruins e que “caem” a todo instante, cães, gatos e crianças que surgem inesperadamente na tela, interesses comerciais dissimulados ou explícitos, perguntas calculadas para não pisar nos calos dos convidados e respostas educadas (educadas demais para o mundo real). Todos jogando para a plateia. Uma nova forma de fazer teatro.

Como todo projeto de stalker, sofro uma espécie de síndrome de abstinência quando (ó céus, ó vida, ó azar) preciso passar dois ou três dias sem ter algum tipo de contato virtual com o pessoal que, na falta de palavrão mais qualificado, chamo de digital influencers. São eles que dão cor e sabor aos meus dias e noites de isolamento social.

Creio que – sem querer parecer exagerado – me tornei amigo intimo de algumas dessas pessoas. Elas não sabem disso, provavelmente nunca ficarão sabendo, mas as vi tantas vezes pela tela do computador que parece que somos colegas de infância. Em cada live, vou anotando mentalmente as histórias de fulano, as dificuldades de sicrano, o enredo do novo romance de beltrano. É causo pra mais de metro, como dizia célebre filósofo dos tempos de antigamente – aquele que ficava imaginando o mundo romântico das novelas transmitidas pelas ondas do rádio.

É isso, as lives me remetem ao tempo em que vivi no interior do município, onde uma das poucas formas de comunicação com o mundo exterior eram as transmissões diárias, ao meio dia, do Jornal Falado da Rádio Clube de Lages (Se a Clube não deu, é porque não aconteceu!). Junto com a Ave Maria (às seis da tarde) era horário sagrado. Silêncio absoluto. Sob pena de ser castigado severamente se algum “aviso” ou notícia fosse atrapalhado pela bagunça ou por algum comentário que poderia ser feito em outra ocasião.

A vantagem das lives sobre as transmissões radiofônicas anteriores aos podcasts é que as lives podem ser visitadas post mortem. Ou seja, ficam gravadas em lugar impreciso e não identificado e que, como se fossem zumbis, podem ser libertadas do “outro mundo” quando acessamos o Google, o YouTube, o IGTV ou outros dispositivos menos conhecidos. Não é a mesma coisa, pois parecem reprises ruins de programas de televisão, mas não vejo isso como um impedimento sério quando há coincidência de horários. 

(Quase) tudo é permitido quando é divertido, e, se as musas me perdoarem a indiscreta confissão, quero continuar passeando pelo planeta, defendendo intransigentemente a procrastinação, flâneur em um palco cenográfico que glorifica o empreendedorismo (essa mistificação das relações de trabalho). Nestes tempos horrorosos em que estamos vivendo, mil tragédias todos os dias, o fim do mundo em tecnicolor, diria o filósofo acima citado, assistir algumas lives deve ser entendido como uma forma de proclamar que quero continuar vivo. Como cantou Belchior, um dos reis magos da música popular brasileira, eu inda sou bem moço pra tanta tristeza.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CLXXIX)

 


Certa vez, em Paris, uma senhora garantiu para Julio Cortázar que ele, Cortázar, não era Cortázar. Para ela, o autêntico Cortázar era um senhor de cabelos brancos, que nunca saiu de Buenos Aires, e que era amigo próximo de um parente.

O estranhamento também está presente em um verso de Cecília Meireles, Em que espelho ficou perdida a minha face? A interrogação projeta um universo paralelo, onde as regras são outras – ou as mesmas, embora pareçam ser diferentes. Trata-se de jogo especular, destinado a perseguir os ingênuos e os cegos para que, em algum momento, possam alcançar a compreensão dos acontecimentos que ocorrem ao redor.

Diante do duplo, essa ilusão de ótica que embaralha o real e a miragem, o mundo onírico costuma fracionar os indivíduos. Muitas pessoas raramente conseguem se lembrar dos sonhos e pesadelos que perturbam as noites. Penso que isso é um alívio, um mecanismo de defesa contra os horrores diários. Nem sempre essa barreira funciona. Em um dos últimos sonhos, eu estava em um lugar que foi importante no passado, mas povoado por pessoas do presente e por alguns mortos. Era uma situação completamente inverossímil, mas que parecia estar estruturada em algo coerente. A angústia da travessia foi inevitável, não consegui me reconhecer naquele ambiente opressivo. Embora fosse eu, estivesse vestido com o meu corpo, usasse a minha voz, era outro, era um desconhecido. Despertei banhado em suor e espanto. Em seguida, tornei-me hóspede da insônia. Uma sensação áspera de tristeza.  

Não sei o que a psicanálise poderia dizer sobre esse tipo de desassossego. Provavelmente não será algo agradável. Nunca o é. Dormir não diminui as dores – muitas vezes, em lugar de congelá-las por algum tempo, deixa a porta aberta para que possam invadir a vida. E o que era para ser certeza se transforma em algo pastoso, desagradável meleca grudada nos dedos da humanidade.    

As notícias diárias sobre a morte de amigos, conhecidos e inimigos (sim, tenho alguns desafetos de estimação) me lembram de que a finitude da existência (que era apenas uma ameaça até ontem – quando me julgava jovem) adquiriu substância, perdeu a leveza, tornou-se um fardo. E parece estar ali na esquina, à espera de um momento de distração. Aqueles que cultivam saudável paranoia sabem que Cloto, Lakésis e Átropos continuam decidindo a extensão do fio da existência. As Moiras (Μοῖραι) nunca descansam.

Não tenho planos grandiosos para o futuro, mas também não quero ir embora. Prefiro continuar incomodando um pouco mais. Por isso, e um amontoado de outros motivos, torna-se difícil negar que sou um indivíduo com medo da própria sombra. 

Cortázar era múltiplo, mas não era o velhinho que a mulher imaginava. Aquele personagem não tinha densidade, não estava repleto de fantasmagonias. Era apenas uma figura do imaginário, um sonho ruim. A vida e a literatura exigem mais – de todos nós.


domingo, 6 de dezembro de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CLXXVIII)

 


Não sei se existe alguém no mundo que goste de lavar a louça. Talvez os nascidos no signo de virgem, que são pessoas certinhas, adoradores da ordem e da limpeza. Como nasci na outra ponta do zodíaco, tenho entendimento diferente, penso que essa tarefa pode e deve ser adiada o máximo possível, possivelmente para quando não mais existirem pratos e copos limpos.

Com a pandemia, o meu entendimento não mudou, mas tenho exercido o sacrifício com mais assiduidade, uma vez a cada dois dias, o suficiente para não ter a necessidade de desviar o olhar toda vez que vou à cozinha. Poderia culpar minha mãe, que, na infância e adolescência, não me avisou que o futuro estaria repleto de surpresas e que, muitas vezes, precisaria (munido de esponja, detergente e paciência) tentar limpar os detritos do viver. Não quero transferir responsabilidade. Seria uma injustiça com D. Vina, visto que recebi outras lições, talvez mais valiosas, sobre como sobreviver em um mundo hostil e repleto de armadilhas.

Passei parte do dia assistindo – outra vez – Stalker (Dir. Andrei Tarkovski, 1979). Foi uma sessão tumultuada e que se espichou até o início do entardecer. Em casa, diferente da sala de cinema, não me parece sensato aguentar duas horas e quarenta minutos sem algum tipo de interrupção. Sai para buscar chocolate, fazer chá, ir ao banheiro, assistir um pouco de futebol. Talvez, inconscientemente, estivesse criando pretextos para tomar fôlego, assimilar aquela lentidão narrativa, repleta de tensão, e que se multiplica nos momentos em que a câmera se demora no rosto dos personagens, forma brutal de mostrar a melancolia e a tristeza.     

O que isso tem a ver com a louça suja? Tudo. Ou nada. A escolha é do freguês. Fique à vontade!

Depois do filme, precisei encontrar uma atividade terapêutica que me afastasse da depressão. Pode parecer maluco (e talvez seja), naquele instante senti a falta de ver gente, de abraçar as pessoas de quem gosto (e que não são muitas!), beber cerveja, jogar conversa fora. Na ausência dessas atividades – e que são essenciais –, fui lavar a louça. Não era muita coisa: três pratos, dois copos, duas xícaras e meia dúzia de talheres.

Um pouco d’água quente ajuda muito. Inclusive para que o pensamento consiga voar para lugares outros, longe da filosofia da miséria e, claro, da miséria da filosofia que emoldura esses dias tumultuados pelas ameaças da indesejada das gentes (na expressão lírica do Manuel Bandeira – que provavelmente nunca reclamou de ter que lavar a louça).

Amanhã é outro dia. Talvez repleto de esperança. Por isso se torna necessário usar máscaras e álcool gel, tomar distâncias, superar o medo – ao mesmo tempo, ignorar a sensação de que o afeto está escorrendo pelo ralo da pia. 

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Stalker foi adaptado (mas não muito) do romance de ficção científica dos irmãos Arkady e Boris Strugátski, Piquenique na Estrada (São Paulo: Aleph, 2017). O roteiro do filme também é assinado pelos irmãos Strugátski.   


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

DIÁRIO DA QUARENTENA (CLXXVII)

 


No poema One art, Elizabeth Bishop escreveu que the art of losing’s not too hard to master / though it may look like (Write it!) like disaster, versos que podem ser traduzidos informalmente como a arte de perder não chega a ser mistério / Por mais que pareça [escreva isso!] um desastre.

Lembrei-me desse trecho do poema em uma das manhãs da última semana. Minha mãe, 81 anos, precisa fazer prova de vida no INSS. Ou seja, deve convencer o governo que não está morta. Ocorre que o seu estado de saúde é precário e o bom senso recomenda procurar por alternativas para cumprir com essa formalidade burocrática.

Liguei para o número telefônico 135 – conforme me foi recomendado na instituição bancária onde ela recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Depois da inevitável espera, a máquina que me atendeu solicitou o número do CPF da requerente e informou que deveria selecionar o tipo de atendimento desejado (números entre 1 e 9). Desliguei e fui procurar pela Carteira de Identidade da mãe. Lá consta o número do Cadastro de Pessoa Física.

Não encontrei. Revirei pastas e caixas de sapato onde guardo as quinquilharias familiares. Não sei o que a cédula identitária estaria fazendo naqueles lugares, mas revistei vários álbuns de fotografias. Lembranças voltaram a me assombrar, mas fingi que não era comigo, o que queria era encontrar o documento. Esvaziei duas gavetas – foi bom fazer isso, coloquei em um saco de lixo centenas de comprovantes de pagamento bancário e alguns panfletos comerciais; papéis inúteis que estavam fazendo volume e tinham perdido a utilidade.

Cansado, sentei no sofá do escritório e fiquei olhando para as estantes, na esperança de que os livros pudessem fornecer alguma pista do desaparecido. Esforço inútil. Nenhuma possibilidade de encontrar o que estava procurando. E agora?, perguntei para mim mesmo, misturando perplexidade e desespero.

Perder livros, documentos, chaves, cartão de crédito, dinheiro – tenho um dom natural para esse tipo de coisa. Se fosse contar quantas vezes isso aconteceu, escreveria um livro. Evidentemente, depois de algum tempo e grandes incômodos, recuperei quase todas as perdas. Posso até dizer que o estrago foi mínimo. O que sempre me incomodou foi o correr atrás do prejuízo, o medo de estar diante de um beco sem saída.

Edgar Allan Poe escreveu um conto mágico, A Carta Roubada. Várias pessoas procurando por algo que estava diante dos olhos. É um caso clássico de cegueira coletiva, ninguém consegue enxergar a obviedade. De forma similar, foi o que aconteceu comigo. Alguns meses atrás, em função de outro processo administrativo no INSS, precisei separar uma série de notas fiscais relacionadas com os gastos da mãe (remédios, fraldas, compras de supermercado, recibos de aluguel, água e luz). Coloquei tudo dentro de um envelope. Junto com a papelada, a Carteira de Identidade.

Esse envelope estava o tempo todo na minha frente, em uma das estantes, a dos livros de História. Eu não fui capaz de o ver. Tampouco lembrei que havia incluído a CI naquele grupo de documentos.

Ao alivio de encontrar a Carteira de Identidade, seguiram-se as inevitáveis confusões ao tentar agendar a prova de vida. Essas trapalhadas contarei depois.