Não
tenho plantas ornamentais. Faltam-me habilidades para cuidar de vasos e
folhagens. Ou seja, cultivo afastamento desse tipo de atividade. Creio que
resolver palavras cruzadas (uma forma de desespero silencioso) é mais
divertido. Ignoro bonsais, cactos, violetas e antúrios. A propósito, tive – no
segundo grau – uma professora de biologia que carregava o apelido
(depreciativo) de samambaia. Irreverência estudantil. Mas, obviamente, uma
coisa não pode ser relacionada com a outra. É apenas mais um elemento descartável
nessa conversa sem pé nem cabeça. Melhor voltar ao assunto principal.
Assim como me recuso a ser escravizado pelos gatos (cães,
nunca!), que exigem atenção e afeto em tempo integral, também não quero ficar
amarrado em certas tarefas cotidianas. Por exemplo, colocar as plantas no sol,
regar e/ou adubar os vasos, usar algum defensivo agrícola. Essas atividades não
me parecem saudáveis. Com o mesmo pensamento, ao visitar alguém, jamais vou
pedir mudas de flores ou de árvores. Muito menos comprar plantas ou sementes só
porque estavam na promoção do supermercado.
Com o devido pedido de desculpas para quem pensa diferente,
considero ridículo, além de ser uma
prova inequívoca de carência afetiva, usar o tempo livre conversando com as
plantas ou, para diminuir o estresse urbano dos vegetais, embalá-los, em volume
moderado, com uma playlist de músicas clássicas (Mozart, Bach, Liszt). Há quem
defenda esse tipo de ação. Como dizia minha avó, “para cada louco, uma mania”.
Resolver cubo mágico ou participar de concurso de pesca esportiva provavelmente
proporciona mais emoção.
Embora aprecie a beleza estética da flora, prefiro os
vegetais comestíveis. Decoração, só no prato. E nem precisa ser muito
exagerada. Uma folhinha de salsa muitas vezes é o suficiente. Basta dizer que
detesto cenouras, abóbora e rúcula. Costumo reagir de forma pouco educada
quando os vejo na mesa. Mas para que não digam que sou contra os vegetarianos,
esclareço que adoro ervilha, couve e repolho (refogados). Tomate e alface
também são tolerados – desde que estejam acompanhados de um bom e suculento
bife.
Ter um jardim particular pode resultar em grandes problemas.
Ou pequenos. Depende do ponto de vista. No caso das plantas carnívoras, em
substituição das moscas (ou outros insetos), um dedo corre o risco de ser
mordido. Ou devorado.
Recentemente, a namorada de um amigo foi viajar. Ele ficou
com a responsabilidade de conservar viva a minúscula selva que ela mantinha
dentro do apartamento. Ao telefone, em lugar distante, a moça exigiu um
relatório completo sobre o estado de saúde das suculentas, das petúnias, dos
lírios brancos. A saudade ou os problemas dele não mereceram a menor atenção.
As plantas caseiras eram mais importantes. Em outras palavras, a espada da
cólera estava pairando no ar, ameaça nada sutil de ceifar o relacionamento
amoroso. Não bastasse esse clima pouco amistoso, ela exigiu que o sujeito
postasse no Instagram algumas fotos das flores. Como um menino adestrado pelo
afeto, ele, docemente, sem a mínima vergonha, realizou a tarefa.
Psicólogos e psicoterapeutas costumam recomendar a jardinagem
e a horticultura. Dizem que desenvolver alguma tarefa relacionada com a
natureza pode levar (e elevar) a mente para um patamar próximo da paz. Tenho
dúvidas. Nesse sentido, o boxe me parece mais eficaz.
Como não tenho a vocação ecológica de Greta Thumberg, Peter
Singer e Ailton Krenak, tampouco me empolgo com a militância de Elizabeth Costello
(personagem literário criado por John Maxwell Coetzee), resta-me torcer para
que a humanidade sobreviva a si mesma, mantendo as florestas no lugar das
florestas e o meio ambiente inteiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário