Nos últimos anos, seja em conversas amenas, seja em discussões ásperas, muitas pessoas me recomendaram ir para aquele lugar. A ideia era me mandar para outro destino. Muito pior. Todo mundo sabe qual. No entanto, a educação inglesa das classes econômicas superiores aconselha o uso de moderação e de eufemismos. Então, adotando uma forma quase suave de estabelecer quem estava de lado de quem, citavam (como se estivessem mastigando o ódio) o nome do país que imaginavam ser uma espécie de inferno terrestre. Um conhecido, no auge da histeria, sugeriu várias vezes pagar a passagem. Somente a ida. Aceitei. Ele não honrou a promessa. Nenhuma novidade.
No início do mês de agosto, por um desses acasos que a vida nos presenteia, fui para Cuba. E, para desagrado geral, voltei. Cansado. E ciente de que fiz uma excelente viagem, conheci gente interessante, comi como um frade franciscano (de onde tirei isso?), bebi hectolitros de mojito, daiquiri, cerveja e limonada. Trouxe, na bagagem, alguns livros, uma sandália nova e várias histórias. Ah, antes que me esqueça, também comprei uma caixa de charutos. Como não fumo, compartilhei o tabaco entre amigos e inimigos. Foi uma forma de dizer para todos que, apesar dos pesares, a vida continua sendo um prazer inenarrável (como diria outro conhecido).
O calor de Cuba enlouquece os turistas – em vários sentidos. As pessoas que conhecemos eram todas calorosas, amistosas (mesmo aquelas que queriam vender alguma coisa – e todos pareciam ter vocação para fazer algum tipo de negócio). Para desespero dos que estão “do outro lado”, nos cinco dias que passei pela ilha, ninguém tentou me envelopar em questões políticas. Fiquei com a impressão que passei impune, se é que a ilha está envolta por algum tipo de tentação política indecorosa. Provavelmente fui imunizado pela vacina contra a febre amarela.
Leitor da alguns escritores cubanos – Nicolás Cristóbal Guillén Batista (1902-1989), Alejo Carpentier y Valmont (1904-1980), José Lezama Lima (1910-1976), Virgílio Piñera Llera (1912-1979), Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), Pedro Juan Gutiérrez (n. 1950), Leonardo Padura Fuentes (n.1955), entre outros – foi nas ruas de Habana Vieja que entendi a alegria que move os habitantes da ilha. Em qualquer bar, ou nas ruas, os ritmos caribenhos se misturam com o jazz e a música brasileira (adoram Djavan!!). Algumas vezes, a necessidade de contornar as altas temperaturas nos atraia para dentro de locais onde grupos musicais, ventiladores e cerveja (quase todas espanholas) constituíam o necessário refresco para quem queria continuar o passeio. E sempre era bom e trazia contentamento e conforto e felicidade.
Antes de viajar, um dos objetivos traçados era visitar La Bodeguita del Medio (Calle Empedrado), o bar/restaurante preferido de Ernest Miller Hemingway (1899-1961), que viveu na ilha por muitos anos. Um de seus livros mais famosos, O velho e o mar, foi escrito na Finca Vigia, propriedade localizada a 15 km de La Habana, e inspirado na história de Santiago, um pescador cubano. La Bodeguita é um lugar peculiar e qualquer tentativa de descrever o ambiente parecerá insuficiente. Lá comi excelente pescado, bebi mojitos (conta a lenda que Hemingway inventou a bebida naquele lugar), olhei as centenas de fotografias de personalidades que estão penduradas nas paredes, devorei “helados”.
Outro lugar de que guardei boas recordações foi o bar/restaurante Dos Hermanos, perto do Mercado San Francisco (Avenida del Puerto). O garçom me contou a história do estabelecimento (que remonta ao fim do século XIX e se chamava originalmente Two Brothers). Também relatou como Hemingway se tornou amigo de Santiago. Lá bebi os melhores mojitos de Cuba – um alívio para o calor, um contentamento para o corpo.
Depois de La Habana, fomos para Varadero
– mas isso é outra história e o que lá aconteceu tentarei contar em outro dia.
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