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segunda-feira, 14 de abril de 2025

MARIO VARGAS LLOSA

 


São seis os ganhadores latino-americanos do Prêmio Nobel de Literatura: Gabriela Mistral (pseudônimo de Lucila de Maria del Perpétuo Socorro Godoy Alcayaga), 1957; Miguel Ángel Astúrias Rosales, 1967; Pablo Neruda (pseudônimo de Ricardo Eliécer Neftali Reyes Basoalto), 1971; Gabriel José Garcia Márquez, 1982; Octavio Paz Lozano, 1990; Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, 2010.

O último nome da lista dos agraciados com a honraria (e o dinheiro) faleceu em Lima, Peru, no dia 13 de abril de 2025. Tinha 89 anos. O axioma machadiano, Está morto. Podemos elogiá-lo à vontade serve perfeitamente para entender as múltiplas manifestações de pesar.

As redes sociais estão vertendo lágrimas. É como se um rio Amazonas de dor estivesse atravessando a vida de leitores, editores, familiares e admiradores. Um desses fãs (espanhol, se não estou enganado), pediu para que não se misture vida e obra, política e literatura. É difícil fazer essa separação. Inclusive porque o escritor é a mesma pessoa que se manifestou ideologicamente na manutenção do colonialismo capitalista de extrema direita nos países de América Latina. De qualquer forma, independente de absolver ou condenar o escritor, assim como Ezra Pound (1885-1972), Pierre Drieu La Rochelle (1893-1945) e Louis-Ferdinand Céline (1894-1961), o nome de Vargas Llosa sempre será lembrado pelo caminho que preferiu trilhar nas questões econômicas e políticas. A história não perdoa certas escolhas.     

Alguns dos livros de Vargas Llosa são maravilhosos: Tia Julia e o escrevinhador (uma das narrativas que mais me divertiram em toda a minha vida de leitor), A festa do bode (fantástica denúncia sobre a ditadura na República Dominicana), Pantaleão e as visitadoras (sátira brilhante sobre o militarismo e o machismo latino), Conversas no Catedral (um painel da vida burguesa em Peru nos anos 50/60), A cidade e os cachorros (alguns adolescentes em uma academia militar), A guerra do fim do mundo (uma recriação da Guerra de Canudos), Casa verde (o submundo da prostituição analisado pelo microscópio literário). Soma-se a esses romances um ensaio, A orgia perpétua, onde disseca a obra de Gustave Flaubert (1821-1880), apontando a força transformadora da ficção.

O talento literário não impediu certas aventuras. Há uma história muito mal explicada com Gabriel Garcia Márquez, onde os contendores (que antes eram inseparáveis) foram às vias de fato. Alguns boatos citam um episódio extraconjugal, mas ninguém confirma. De qualquer forma, a vida amorosa de Vargas Llosa parece ter sido intensa, com direito a eventos rocambolescos, que resultaram em ameaças de maridos enfurecidos, entre outras peripécias.

Em 1990, Vargas Llosa não conseguiu controlar a vaidade e concorreu à presidência de Peru. Embora tenha vencido no primeiro turno, perdeu na segunda fase eleitoral para Alberto Kenya Fujimori (1938-2024). Essa experiencia (da qual se arrependeu) serviu de base para o romance Cinco esquinas, onde relata a corrupção governamental e a violência produzido pelo Sendero Luminoso, grupo guerrilheiro peruano de inspiração maoísta.

Desgostoso, mudou-se para a Europa em 1993, depois de obter a cidadania espanhola. Em 2011, foi nomeado por Juan Carlos I, rei de Espanha, 1º Marquês de Vargas Llosa.

Quando surgiram notícias, em 2021, do esquema fraudulento Pandora Papers, descobriu-se que Vargas Llosa estava entre aqueles que visavam, entre outras coisas, sonegar impostos. Como compete nessas situações, declarou que nunca tentou fraudar o fisco. Mas, diante das acusações, confirmou a existência de uma offshore.

Vargas Llosa foi o último dinossauro de uma geração talentosa. O titulo de seu último livro é premonitório: Dedico a você meu silêncio.  


Vargas Llosa e Garcia Márquez

P.S: Alguns dos livros de Vargas Llosa foram adaptados para o cinema (Pantaleão e as visitadoras, Tia Julia e o escrivinhador, A cidade e os cachorros, A festa do Bode, etc.). São filmes ruins. 


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