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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

OS FANTASMAS DO 11 DE SETEMBRO


 As feridas ainda não cicatrizaram – doze anos depois da queda das torres gêmeas do World Trade Center. A nação que sente prazer perverso em fazer violentas demonstrações de força e atacar territórios estrangeiros, principalmente os indefesos, acumula um interminável ressentimento por ter sido agredida pela primeira vez na história. A retaliação que se seguiu ao ataque terrorista, inclusive inventando ameaças e perigos para justificar o massacre que promoveu no Iraque e no Afeganistão, mostra que o ego estadunidense é proporcional ao instinto predador.

Como a contemporaneidade estava carente de “grandes narrativas”, a literatura e o cinema encontraram no 11 de setembro um terreno fértil para a produção artística. Histórias de amor, thrillers políticos, loucura social, crueldade humana, teoria da conspiração – a lista de abordagens possíveis beira o interminável. Em contexto paralelo, diversas histórias (filmes, romances, contos) abordam os acontecimentos (reais ou fictícios) que sucederam a tragédia.

Amy Waldman, no romance A Submissão, conseguiu encontrar um ângulo interessante – e, aparentemente, inédito. Vários projetos concorrem para construir um memorial em homenagem às vitimas do 11 de setembro. Ao ser aberto o envelope que identifica o autor da ideia vencedora, descobre-se que o arquiteto é de origem muçulmana. Esse fato surpreendente possibilita diversas reviravoltas na narrativa. Quem defendia o “jardim”, passou a atacá-lo. Quem era contrário, reclama da não observância do regulamento. Associações de defesa das vítimas do World Trade Center entram em choque com organizações de proteção dos muçulmanos que possuem cidadania estadunidense. Entre idealistas e oportunistas, todos lutam por demandas que, em muitos momentos, divergem do ponto principal. Como somente é possível nesse tipo de situação, há quem manipule o momento traumático e a dolorosa lembrança dos mortos para obter algum tipo de benefício.

Típico romance de entretenimento, desses que “grudam” na mão do leitor, A Submissão aborda com alguma profundidade a crueldade, o racismo, a intolerância política e religiosa, o oportunismo jornalístico e o fascismo político – alguns dos temas mais relevantes da modernidade. Ao mesmo tempo, o enredo está centralizado nos sentimentos (amor, ambição, dúvidas, coragem, covardia) que (des)unem Claire Burwelll, Paul Rubin, Mohammad Khan, Alyssa Spier e Sean Gallagher, além de outros personagens menores. São esses momentos “humanos” que convencem o leitor que é necessário continuar a leitura.

Reunindo algumas das principais características de um pré-roteiro cinematográfico (linearidade narrativa, diálogos significativos, elementos psicológicos e contundentes mudanças na ação dramática), provavelmente será adaptado à tela grande. Enquanto isso não acontece, A Submissão é uma leitura interessante – talvez em algum final de semana na praia, talvez para fingir que nos importamos com o mundo.

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