Quaisquer eventos humanos projetam uma espécie de sinuca de bico. Ou seja, uma situação difícil, dessas que exigem alguma habilidade especial ou, em caso de desespero, tirar coelho da cartola.
Ao mesmo tempo, pode ser motivo para grandes comemorações, fogos de artifício, garrafas de espumante e bolo de três camadas. Pasteizinhos variados também serão bem recebidos.
Mas, como nem tudo que reluz é ouro, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. As decepções estão incluídas nesse cardápio variado que chamamos de vida e – atenção, senhores passageiros! – a alegria costuma rimar com a ilusão. Criar expectativas é uma das formas mais terríveis de abraçar a frustração.
Deixando de lado as frases de autoajuda e a noção de que estar em contradição faz parte da brincadeira, o dia a dia confirma que a rapadura é doce, mas não é mole. Enfim, devagar se vai ao longe e não se deve cantar de galo no terreiro alheio. Estatisticamente, as chances de dar com os burros n’água supera as probabilidades de ganhar na Mega-Sena.
Nada mais significativo do que um dia depois do outro – com uma noite no meio. De grão em grão, a galinha enche o papo. E fugir de qualquer assunto espinhoso pode ser uma estratégia racional, gato escaldado tem medo de água fria – ou, em outra versão, se for do agrado do freguês, cachorro mordido por cobra foge até de linguiça.
Pois é, encher linguiça é uma arte e o mundo está repleto de arteiros. O que faz falta são os artistas, aqueles que criam tempestades em copos d’água e mostram que, em casa que possui chaminé, há possibilidade de existir fogo. Mesmo que seja fogo-fátuo. Por isso, urge ter cautela quando puxar a brasa para a sua sardinha. É uma das melhores maneiras de ser queimado (cancelado, em linguagem castiça, porém contemporânea).
De qualquer forma, nas palavras de um filósofo que está destinado ao esquecimento, a corda arrebenta do lado mais fraco, águas passadas não movem moinho, a ignorância flerta com a virtude e, quando nevar em janeiro, surgirá nos céus sinais do apocalipse.
A física quântica e o metaverso explicam (ou complicam) muitas coisas, confirmando que os grandes espetáculos não passam de dramas farsescos. Por isso, cuidado, meu bem / Há perigo na esquina / Eles venceram, e o sinal está fechado pra nós.
Há males que vêm para bem, afirmava o vilão, em um daqueles seriados que passavam na televisão nos sábados pela manhã, em tempos idos e vividos – muitas vezes sofridos. A esperança do espectador sempre foi a de que, ao final do episódio, acontecesse algum plot twist, o abracadabra perfeito, a extinção do mal e a vitória do bem. Na ficção, tudo bem. Na vida real, o buraco é mais embaixo. Sem esquecer que esperar milagre rezando para santo de devoção talvez seja um exagero – embora, convenha-se, o que não mata, engorda.
A soma da experiência humana revela que o tempo – compositor de destinos / tambor de todos os ritmos – costuma indicar que não é possível fazer omelete sem quebrar os ovos. A pressa é a inimiga da perfeição. Como ninguém está matando cachorro a grito, querer mais do que isso é colocar a carroça diante dos bois.
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