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terça-feira, 10 de outubro de 2023

SOBRE O PRÊMIO NOBEL DE 2023

 


Os professores da Universidade da Pensilvânia, que trabalham com o RNA mensageiro (mRNA), Katalin Karikó e Drew Weissman ganharam o Prêmio Nobel de Medicina em 2023. A pesquisa coordenada pelos dois cientistas contribuiu para que as empresas farmacêuticas Pfizer e Moderna desenvolvessem uma vacina contra o Covid-19.

No romance especulativo O Fim dos Homens (Verus Editora, 2022), escrito por Christina Sweeney-Baird, acontece algo particularmente interessante e que, de certa forma, antecipa os acontecimentos que envolvem Karikó e Weissman.

No texto, o mundo precisa enfrentar uma epidemia que somente afeta a população masculina. Por se tratar de uma doença em que as mulheres estão imunizadas, cabe-lhes o protagonismo na tentativa de descobrir quem foi o paciente zero (aquele que iniciou a transmissão do vírus) e, consequentemente, como a doença se espalhou. Em paralelo, há o esforço farmacológico para criar um antídoto.

Os fatos narrativos ocorrem em 2025 e são descritos em ritmo de thriller. Além do suspense, o livro apresenta inúmera características: capítulos curtos, narradores múltiplos, notícias jornalísticas, plot twist e personagens de caráter duvidoso. São ingredientes que garante a fluidez da leitura e asseguram o interesse do leitor. Além disso, temas como o feminismo e o cuidado com as questões ecológicas são estrategicamente discutidos em cada uma das páginas do livro.

O paralelo com a realidade se apresenta em uma das cenas finais do romance, quando três dos personagens (Elizabeth “Lisa” Michael, Amaya Sharvani e George Kitchen), que estavam trabalhando para encontrar uma solução para o problema, dividem o Prêmio Nobel de Medicina. Algum leitor ingênuo provavelmente dirá que esta é uma daquelas situações em que a arte antecipa a vida ou que a arte imita a vida. E (quase) ninguém o vai censurar, porque impressiona saber que o mundo está à mercê de doenças e de catástrofes que ninguém possui imaginação para prever – principalmente quando se considera que a modernidade nos garante que “tudo” está sobre controle. Essa arrogância implica em negar a necessidade de medidas preventivas. Ao somente se preocuparem com os avanços tecnológicos, os cientistas (e os capitalistas) esquecem que a natureza também está em transformação – e que nem sempre resulta em benefício humano.

Depois que a epopeia literária termina e o vírus foi debelado, a possibilidade de extinção da humanidade deixou de existir. Mas, todos sabem que – mais cedo ou mais tarde – outra ameaça surgirá. E, quando isso acontecer, todos os seres vivos do planeta estarão em perigo.

Entre os livros que abordam doenças epidêmicas (como A Peste, de Albert Camus, O Enigma de Andrômeda, de Michael Crichton, e Estação Onze, de Emily St. John Mandel), ressalte-se que O Fim dos Homens não obteve significativo destaque no mundo literário. Talvez porque não acrescente muita coisa aos elementos que aborda, exceto a diversão (o que não é pouco).

     


P.S.: Sobre o norueguês Jon Olav Fosse, que ganhou o Nobel de Literatura, nada sei. Nunca li nada do que ele escreveu. Aliás, da literatura da Noruega só conheço (salvo engano) um pouco do teatro escrito pelo Henrik Ibsen, dois romances do Knut Hamsun (Fome e Um Vagabundo Toca em Surdina) e o primeiro volume da hexalogia do Karl Ove Knausgård (A Morte do Pai).


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