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sábado, 11 de janeiro de 2025

A PACIÊNCIA TEM LIMITES; A BURRICE, NÃO

 

Galilée devant le Saint-Office au Vatican. 
Joseph-Nicolas Robert-Fleury (1797-1890).
Óleo sobre tela,1847. Museu do Louvre.


Qualquer pessoa com um mínimo de sensatez está com dificuldade para entender algumas coisas. No espetáculo diário (exposto em vídeos, jornais, televisões e internet), o desfile de bobagens parece não ter fim.

Por exemplo, aqueles que se caracterizam por babar na gravata, como diria Nelson Rodrigues, fazem questão de passar vergonha em público sempre que possível. Seguem, bovinamente, pastando a ignorância como se fosse o elixir da vida eterna. Gostam de ostentar a falta de conhecimento como se fosse uma medalha de guerra. São contra a ciência (principalmente nas questões relacionadas com a crise climática); contra os avanços sociais, econômicos e políticos; contra qualquer tipo de expressão artística que rompa com os cânones do bom-mocismo; contra a diversidade (racial, sexual); contra a mínima alteração na relação dominadores/dominados.

Enfim, a intolerância está ressuscitando a Idade Média. Aqui e agora. Basta olhar para os tribunais virtuais da Inquisição – que seguem produzindo notícias falsas e massacrando todos aqueles que divergem. Na outra ponta da narrativa, alguns setores pouco criativos estão praticando o saudosismo. Imaginam que o passado era melhor. Não percebem que o processo de seleção efetuado pela memória elimina as partes ruins e celebra apenas o que lhe interessa. Esse tipo de pensamento (falsa consciência) produz um mundo artificial, sem qualquer conexão com a realidade.    

Diante de tanta bufonaria, há quem recomende, como salvo conduto, praticar uma espécie de zen-budismo particular. Uma medida profilática contra a loucura. Mas, antes de adotar a posição de lótus, indeciso entre o incenso de canela e o de sálvia, deve-se acender os dois. Trata-se de um procedimento básico para afastar as energias negativas. Abrir as janelas para abraçar as forças da natureza constitui um procedimento básico para evitar a intoxicação pulmonar. Em seguida, como recomendam os melhores manuais de meditação, deve-se adotar o silêncio e procurar pelo satori. Infelizmente, a iluminação divina adora brincar de esconde-esconde. Difícil alcançá-la. Talvez porque o Nirvana e o Tibete estão longe, muito longe. Na modernidade, está cada vez mais difícil alinhar os chakras.

Mesmo assim, uma voz interna (Grilo Falante?Tinker Bell?) sussurra no ouvido: Calma, cara-pálida, ser gauche na vida não te dá o direito de se insurgir contra os néscios. Deve-se concordar, discordando (inclusive da linguagem: quem é que usa as palavras insurgir e néscio nos dias de hoje?). De qualquer forma, para que não surjam dúvidas, cabe lembrar que a paciência tem limite; a burrice, não. Ser imbecil é mais fácil, diria Sergio Porto (vulgo Stanislaw Ponte Preta).

O uso diário (e em determinas circunstancias) de um conjunto de palavras amáveis com certos interlocutores se faz necessário. Pela falta de educação burguesa (ou seja, hipócrita), cabe pedir desculpas antecipadamente. No entanto, o importante é manter o foco. Então, quando se remete a boiada ensandecida para aquele lugar (de onde não deveriam ter saído), a vida atinge um estado de satisfação inigualável. Isso não tem preço.  

Se os reacionários não querem brincar de namastê, tudo bem, a lição é simples: não há espaço para tréguas nesse combate.


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