Ainda estou aqui (I'm still here, em inglês) recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Essa é a maior conquista da história da indústria cinematográfica brasileira e servirá de alavanca para que outras produções nacionais possam obter visibilidade mundial.
Na longa lista de filmes que concorreram na categoria Melhor Filme Estrangeiro, apenas quatro representantes da América do Sul conseguiram a estatueta: em 1986, La historia oficial (A história oficial. Dir. Luis Puenzo, 1985 – Argentina); em 2010, El secreto de sus ojos (O segredo de seus olhos. Dir. Juan José Campanella 2009 – Argentina); em 2019, Una mujer fantástica (Uma mulher fantástica. Dir. Sebastián Lelio, 2018 – Chile) e, em 2025, Ainda estou aqui (Dir. Walter Salles, 2024 – Brasil).
Acrescente-se que o músico argentino Gustavo Alfredo Santaolalla obteve dois Oscar na categoria Melhor Trilha Sonora Original: em 2005, por Brokeback Mountain (Dir. Ang Lee, 2004), produção estadunidense, e, em 2006, por Babel (Dir. Alejandro Gonzales Iñarritu, 2005), produção mexicana e estadunidense.
Além das fronteiras territoriais, quatro filmes “quase brasileiros” foram premiados:
a) Orphée Noir (Orfeu negro. Dir. Marcel Camus, 1959), produção ítalo-franco-brasileira, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1960;
b) Kiss of the spider woman (O beijo da mulher aranha. Dir. Hector Babenco, 1985), produção estadunidense e brasileira, Oscar de Melhor Interprete Masculino para Willian Hurt;
c) Howards End (O retorno a Howards End. Dir. James Ivory, 1992), produção britânica e japonesa, Oscar de Melhor Direção de Arte (atualmente denominado de Melhor Design de Produção) com Luciana Arrighi (que nasceu no Rio de Janeiro, em 1940);
d) em 2005, a canção Al otro lado del rio, do uruguaio Jorge Abder Drexler Prada, que integra o filme Diarios de motocicleta (Diários de motocicleta. Dir. Walter Salles, 2004), produção franco-germana-brasileira-chilena-argentina-estadunidense, venceu na categoria Melhor Canção Original.
E, salvo engano, isso é tudo o que temos ao sul da floresta amazônica. É pouco, mas convém lembrar que o Oscar tem como prioridade dar visibilidade para a cinematografia estadunidense. E que a categoria Melhor Filme Estrangeiro é uma espécie de concessão para que o resto do mundo se sinta incluído na festa que é deles, para eles e que, como compete aos anfitriões, somente aceita uns poucos e seletos convidados.
Para obter uma premiação importante como o Oscar é preciso entender que são necessários muitos investimentos. O cinema é uma forma artística que custa muito dinheiro. Ninguém sabe exatamente qual foi o orçamento total de Ainda estou aqui. Estima-se US$ 1,5 milhão (dependendo do câmbio, mais ou menos R$ 9 milhões). Mas, esse número parece fora da realidade e há quem aposte em valores próximos dos R$ 50 milhões (incluindo os custos de marketing e a campanha de visibilidade do filme junto ao colégio eleitoral do Oscar). Os maiores gastos foram feitos com a direção de arte (recriação de época) e a filmagem em 35mm (sem o uso de câmeras digitais). O filme ficou pronto depois de quatro meses e meio de filmagens e cinco meses de pós-produção. Mas o projeto levou sete anos para ser executado (o livro em que o filme é baseado foi publicado em 2015).
Considerando que, somente no Brasil, o número de pagantes nos cinemas superou cinco milhões de espectadores, isso significa uma renda de cerca de R$ 104,7 milhões, então pode-se dizer que o filme já está sendo exibido com lucro (que será dividido entre os diversos produtores e investidores).
Ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro significa, entre outras coisas, que atores como Fernanda Torres e Selton Melo podem, em futuro próximo, atuar em grandes produções internacionais e, quiçá, obter outros prêmios para o cinema brasileiro. Walter Salles, por sua vez, já possui uma carreira consolidada no mundo cinematográfico mundial.
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Walter Moreira Salles Júnior |