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segunda-feira, 3 de junho de 2013

1Q84 – UM ÉPICO DE HARUKI MURAKAMI (PARTE I)

Haruki Murakami talvez seja o mais conhecido escritor japonês contemporâneo. O seu último romance, 1Q84, dividido em três volumes, não foi muito bem recebido pela crítica. A Internet está entulhada de comentários depreciativos. Muitos desses registros estão impregnados pelo saudosismo de quem queria repetir a experiência literária nos moldes de Norwegian Wood, Minha Querida Sputnik ou Kafka à Beira-mar. Houve até quem dissesse que a chama da criatividade está se extinguindo. E isso, de uma forma ou de outra, afastou alguns leitores.

Apaixonado por jazz, gatos e atletismo, Murakami, manejando a voz narrativa pop, conseguiu equilibrar o antigo e o moderno sem fazer muitas concessões ao banal. Ao contrário do que possa parecer, isso não deve ser entendido como ofensa. Trata-se de um elogio. O Japão, depois de 1945, está vinculado com o modo de vida do Ocidente. E a literatura, por diversos motivos, não pode perder o vínculo com a História. Ou seja, embora as narrativas épicas sobre o xogunato, junto com os dramas que envolvem a decadência do Império, não possam ser descartadas, cabe entender que nobres, camponeses, samurais e gueixas transitam por um universo em decomposição. E que a cultura europeia e estadunidense (para o bem e para o mal) está impregnada no modo de viver das novas gerações nipônicas. 

O primeiro volume de 1Q84 transita pelo diferente, pelo estranhamento. O texto realista, sedimentado no verossímil, vai se transformando lentamente em ficção-científica (gênero que não é estranho a Murakami: Crônica do Pássaro de Corda, edição portuguesa). 

A história de Aomame e Tengo vai se desenvolvendo em paralelo. Ela é professora de educação física e trabalha em uma academia com musculação e artes marciais – disfarce perfeito para encobrir algumas ações que executa com agilidade e competência: matar homens que maltratam mulheres. Ele ganha a vida como professor de matemática em uma escola preparatória. Amante de uma mulher mais velha, está se esforçando para se tornar escritor profissional. Tengo e Aomame estudaram na mesma sala durante o ensino elementar. Depois, por motivos alheios ao entendimento das crianças, perderam o contato.

Komatsu, que é uma espécie de mentor de Tengo, o convence a reescrever um romance enigmático, que irá concorrer a um prêmio literário importante. Crisálida de Ar foi escrito por Fukaeri (pseudônimo de uma adolescente protegida do professor de filosofia Ebisuno). A série de situações pouco convencionais que surgem como consequência da visibilidade alcançada pelo livro resulta em pessoas desaparecidas, assassinatos, pedofilia, grupos políticos radicais e seitas religiosas.

Como esse conjunto de questões será encaixado na narrativa é o grande mistério que somente o segundo e o terceiro volume do romance conseguirão esclarecer. Junto, há a possibilidade de Tengo e Aomame se encontrarem em algum ponto da história.


P.S.: Uma característica que merece consideração nos romances de Haruki Murakami é a absoluta incapacidade para descrições intimas. Em algumas situações, não há como negar que algumas atividades em cima de uma cama fazem parte do enredo amoroso. Murakami, em lugar de superar o problema com o uso elementar de elipses, prefere utilizar frases mecânicas, artificiais – e que destroem o andamento narrativo.

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