– Mulheres não são como homens. Conseguem amar mesmo quando sofrem. (O Altar dos Mortos)
– “Eu aprecio muito os médicos. Meu pai
era médico” – disse a Sra. Freer. – “Mas eles não se casam com filhas de
marqueses”. (Lady Barberina)
– O crítico não é um homem comum: se
fosse, o que estaria ele fazendo no jardim dos outros? (O Desenho do Tapete)
– Era fácil ir parar num deserto – era o
que as cartas previam, era a lei da vida; mas era um acidente raro tropeçar
numa fonte cristalina. (A Lição do Mestre)
– Sua aparência normal era como uma
cortina que ela podia suspender para apresentar um espetáculo memorável. (A
Coisa Autêntica)
– “Ela é extraordinariamente, fantasticamente
literária!”. Uma vez comentou que ela sentia em itálico e pensava em
maiúsculas. (O Desenho do Tapete)
– Uma mulher com o meu passado sabe
muito bem como as paixões alheias podem ser insuportáveis! (A Vida Privada)
– Era uma força cega, violenta, à qual
seria tão impossível vincular a ideia de responsabilidade quanto o seria
responsabilizar o vento pelo ranger de uma placa. (A Morte do Leão)
– Uma ignorância vale tanto quanto outra
qualquer! (O Desenho do Tapete)
–Se ele a enganava era porque em seu desespero
ela estava determinada a ser enganada. (A Vida Privada)
– Minha intimidade com o escritor é para
mim um troféu; empresta-me uma importância que eu não teria de outra forma, e
tento privá-lo de distrações sociais para evitar que, ao conhecer pessoas mais
desinteressantes, ele venha a descobrir meu verdadeiro motivo. (A Morte do
Leão)
– (...) encantadora mulher que era bela
sem beleza e perfeita com dúzias de defeitos. (A Vida Privada)
– (...) dava a entender que o encanto
desta experiência, o desejo de bebê-la, em todo o seu frescor, até a última
gota, era o que o mantinha lá, junto à fonte. (O Desenho do Tapete)
– (...) sempre tinha pena das pessoas
que eram publicamente solicitadas a ser simpáticas e divertidas. (A Lição do
Mestre)
– Por essa época ele já havia, claro,
atingido a idade da renuncia; mas ainda não ficara vívido para ele que
estivesse na hora de desistir de tudo. (O Altar dos Mortos)
– Inventava histórias a metro, porém era
incapaz de escrever uma página decente. Morreu sem sequer desconfiar que,
embora tivesse contribuído com tantos volumes para o divertimento de seus
contemporâneos, não contribuíra com uma única frase para o idioma inglês.
(Greville Fane)
– Ao ver-me, ela brandiu um papel de tal
modo que me fez descer num átimo: é assim que, nos melodramas, se brandem
lenços e comutações de penas ao pé do cadafalso. (O Desenho do Tapete)
– Quando um homem atingiu seu
quinquagésimo segundo ano sem estar, materialmente, gasto – quando tem boa
saúde, uma fortuna razoável, uma consciência limpa e uma completa ausência de
parentes embaraçosos –, suponho que está inclinado, por delicadeza, a se julgar
feliz. (O Diário de um Homem de Cinquenta)
– Este episódio viveria por anos em sua
memória, juntamente com a sensação de deslumbramento que o acompanhou; havia
nele aquela substancia de que a sorte só destila uma gota de cada vez – e que
serve para lubrificar muitas fricções subsequentes. (A Lição do Mestre)
– Para uma pequena mentira contada sob
pressão, um lugar conveniente geralmente pode ser encontrado, como, por
exemplo, uma pessoa que, em uma estreia de uma peça, se apresenta com um recado
do autor. Mas, a mentira exagerada é como o cavalheiro sem um ingresso que se
acomoda com um banquinho no meio da passagem. (O Mentiroso)
–A sagacidade e o ciúme eram meus; eram
dele as impressões e as anedotas. (A Morte do Leão)
– Haviam desfrutado uma rara extensão do
ser e me haviam arrastado em seu voo; só que eu não conseguia respirar em tal
atmosfera e logo pedi para ser devolvida ao chão. (Os Amigos dos Amigos)
– Ele tinha um traje para cada função e
um motivo para cada traje; e suas funções, trajes e motivos sempre constituíram
uma parte das alegrias da vida – uma parte, pelo menos, da beleza e do romance
da vida – para um imenso círculo de espectadores. Para seus amigos mais
íntimos, na verdade, essas coisas eram mais que um prazer: eram um tópico, uma
contribuição social e, naturalmente, além disso, um tema para um suspense
especulativo. (A Vida Privada)
– (...) começara a posar para um jovem
artista que se propusera a pintar seu retrato, (...), cuja jogada, como
dizíamos (...), era ser o primeiro a empoleirar-se no ombro da fama. (A Morte
do Leão)
– (...) com a expressão petulante de
sempre, que nem a dor, ainda que provavelmente sincera, conseguia disfarçar.
(Greville Fane)
– Disse que seria perfeitamente capaz de
casar com uma moça pobre, mas que a primeira qualidade necessária, em qualquer
jovem que pensasse, seria, no mínimo, a posse de um rosto que sentisse
realmente prazer em contemplar. (A Roda do Tempo)
– Aqueles que um dia amamos... São os que
mais podem nos magoar. (O Altar dos Mortos)
– (...) elas distorciam minha
despretensiosa intenção com uma perfeição admirável, que eram absolutamente
idênticas tanto quanto me davam tapinhas nas costas como quando me chutavam as
canelas. (O Desenho do Tapete)
– Faz um ano que ela o presenteou com
uma menina, em cujas feições Jackson já procura vislumbrar os traços da alta
linhagem – se com esperança ou com medo, na verdade, minha musa não revelou.
(Lady Barberina)
– Se o crédito é um grande bolso vazio
onde de vez em quando se ouve um tilintar, é preciso que o tilintar seja ao
menos audível. (A Coisa Autêntica)
– De modo geral, ele sentia pouca
inclinação pelo passado como parte de sua própria história; em outros momentos
e em outros lugares esse passado quase sempre lhe parecia uma consideração
lamentável, algo impossível de reparar; mas naquelas ocasiões ele o aceitava
com um sentimento que lembrava aquela alegria positiva com a qual a pessoa se
adapta a uma dor que está começando a ceder ao tratamento. (O Altar dos Mortos)
– Que eu me comportasse, pois, e não
tentasse espiar atrás da cortina antes da hora de o espetáculo ter início: se
ficasse quietinho agora, eu me divertiria muito mais depois. (O Desenho do
Tapete)
– (...) adorava a aristocracia, que era
para ela o que de mais romântico havia no mundo e – mais importante – a
matéria-prima da ficção. (Greville Fane)
– Sua felicidade o torna muito esperto.
Espero que dure! Quero dizer, sua esperteza, não sua felicidade. (O Diário de
um Homem de Cinquenta)
– Eu não sabia se era uma lembrança
imperfeita ou uma perfeita mentira, e a senhora Wimbush compreendeu muito bem o
meu comentário silencioso a respeito de seu entendimento acerca de tais coisas.
(A Morte do Leão)
– (...) desde o tempo mais remoto de que
podia se lembrar, aconteceram coisas ao seu redor que o tinham feito sofrer,
quando outras pessoas nada sofreram; e ele tinha guardado a maior parte deste
sofrimento para si mesmo – o que o havia ensinado, de certo modo, como sofrer, e como quase gostar disto.
(O Banco da Desolação)
– Ele viu no meu gabinete apinhado, no
meu dia destroçado, no meu rosto entediado e no meu gênio azedado – é
embaraçoso, mas é preciso dizê-lo – a ameixa que coroava meu pudim, o próprio
esplendor de minha glória. E viu na minha saciedade e no meu “renome” – pobre
inocente iludido! – aquilo que em vão almejava. (O Grande e Bom Lugar)
– De sua personalidade eu tivera apenas
relances e vislumbres, como uma canção cantada aos pedaços, mas agora a via à
minha frente num largo e róseo fulgor, como se estivesse a pleno volume de som.
Ouvi a canção inteira, e a sua música era doce e inédita que dali por diante eu
a iria cantarolar com frequência. (Sir Edmund Orme)
– Ela andou em sua direção, chegou até
ele, ficou parada de pé ali, sentou-se perto dele, ele meramente passivo e
assombrado, “impressionado” sem ressentimento, surpreso e absorvendo aquilo – e
tudo como se com uma concessão aberta da parte de cada um, para que se
encontrassem positiva e bastante intimamente, na impertinência de seu caso,
este caso que os colora de novo, depois de anos horríveis, face a face, da
vaidade da profanação, da impossibilidade de qualquer coisa entre eles exceto o
silencio. (O Banco da Desolação)
– Teve, naquela noite, uma rica, quase
feliz sensação de que só ele, em um mundo sem delicadeza, tinha o direito de
erguer a cabeça. (O Altar dos Mortos)
– Ele talvez não tivesse tido mais
perdas do que a maioria dos homens, mas havia contado mais as suas perdas; não
vira a morte mais de perto, mas de certa forma senti-a com maior profundidade.
(O Altar dos Mortos)
– A vida do artista é a sua obra, e é
nela que devemos observá-lo. O que ele tem a nos dizer, ele o faz com a
perfeição que se encontra “aqui”. Meu caro, o melhor entrevistador é o melhor
leitor. (A Morte do Leão)
– A gente hesita em destruir uma ilusão,
por mais perniciosa, quando ela é tão deliciosa enquanto dura. (O Diário de um
Homem de Cinquenta)
– Eu perdera não apenas os livros, mas
também o homem: obra e autor haviam se estragado para mim. Além disso, sabia
também qual das perdas mais me doía. Eu gostava do homem mais ainda do que dos
livros. (O Desenho do Tapete)
– (...) e deixamos a questão de lado
como assente; abstivemo-nos de continuar a discuti-la. O que eu sabia, entretanto, é que ele se
abstinha mais para agradar-me do que ceder às minhas razões. Não cedia –
mostrava-se apenas indulgente; apegava-se à sua interpretação porque a
preferia. Preferi-a, a meu ver, porque falava mais de perto à sua vaidade. (Os
Amigos dos Amigos)
– (...) como se sua longa onde de
infortúnio o tivesse arrastado muito além de tudo e então visivelmente se
retraísse, foi assim encalhado pela ação da maré, depositado no vazio solitário
do seu destino, sentiu que até mesmo manter o orgulho não representava nada e
não sentiu nenhum desafio quando velhas mistificações, insinuando-se na
penumbra de um dia de trabalho, arranhavam a porta da especulação e pairavam,
ao alongo das horas ociosas, numa irritada presença. (O Banco da Desolação)
– Por trás das cortinas cerradas do seu
gabinete de trabalho, a chuva era audível e de certo modo misericordiosa;
lavando a janela num fluxo contínuo, inculcava-se a coisa certa, a coisa que
retardava e interrompia, a coisa que, se durasse, poderia limpar o terreno
levando consigo até o oceano infinito os inúmeros objetos entre os quais seus
pés tropeçavam e se transviavam. Ele tinha efetivamente deposto a pena como se
cônscio de uma amistosa pressão da parte dela. O branco silvo soava na vidraça
quando ele apagou a lâmpada; deixara inacabada a frase e os papéis espalhados,
como se para que a enchente os levasse consigo no seu ímpeto. Mas ali sobre a
mesa ainda estavam os ossos desnudos da sentença – e não todos; a única coisa
que fora levada embora e que ele nunca poderia recuperar era a metade faltante,
a qual poderia tê-la completado, gerando uma figura. (O Grande e Bom Lugar)
– Os principais alvos de minha raiva
eram talvez os redatores-chefes das revistas que haviam lançado novos
“destaques”, e que sabiam que o maior “destaque” de todos seria fazer o
escritor trabalhar para eles, expondo suas opiniões a respeito das questões do
momento e participando da garrulice jornalística a respeito do futuro da
ficção. (A Morte do Leão)
– Ela produzira em torno de si paixões
com a mesma regularidade com que a lua provoca as marés. (O Altar dos Mortos)
– As pessoas não eram pobres, afinal, quando tinham tantas perdas a superar; eram positivamente ricas por terem tanto a que renunciar. (O Altar dos Mortos)
– (...) o ardor do admirador era às vezes
ainda mais voraz que o apetite do escrevinhador. (O Desenho do Tapete)
– Eu devia ter imaginado que seria mais
satisfatório saber-se partícipe de um desses acontecimentos inexplicáveis que
são narrados em livros emocionantes e discutidos em doutos congressos; não
podia conceber, por parte de um ser recém-engolfado no infinito e ainda
vibrante de emoção humana, nada mais sutil e puro, nada mais elevado e augusto
do que tal impulso de reparação, de admonição ou até mesmo de curiosidade. Aquilo era belo, se se quiser assim
chamar, e eu, se estivesse no lugar dele, me envaideceria de haver sido de tal
modo distinguido e escolhido. (Os Amigos dos Amigos)
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