Quando se diz que o cinema argentino
está anos-luz de vantagem da indústria cinematográfica do Brasil, sempre surge
no horizonte empoeirado do nacionalismo algum ingênuo (ou mal-intencionado) a
dizer que não é bem assim, que isso é um exagero e que, mesmo que não haja
reconhecimento do público, estão sendo produzidas boas comédias nos estúdios
brasileiros. Ao ler esse tipo de declaração ufanista, nada mais resta senão
reconhecer que o Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País) continua em
uso, apesar de seu criador, Stanislaw Ponte Preta (também conhecido como Sergio
Porto) ter falecido em 1968.
Basta uma visita a qualquer locadora de
filmes (ou à Internet) para se perceber que o Brasil foi superado pela Argentina
– e faz tempo! Não bastassem os dois Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, La Historia Oficial (Dir. Luiz Puenzo, 1985), El Secreto de Sus Ojos (Dir. Juan Jose Campanella, 2009), ainda
há belezas de diversos matizes como Nueve Reinas (Dir. Fabián Bielinsky, 2000), Plata Quemada (Dir. Marcelo Piñeyro, 2000), El Hijo de la Novia (Dir. Juan Jose Campanella, 2001), El Abrazo Partido (Dir. Daniel Burman, 2004), El Hombre de al Lado (Dir. Gaston Duprat, Mariano Cohn, 2009), Un Cuento Chino (Dir. Sebástián Borensztein, 2011), Medianeras (Dir. Gustavo Taretto, 2011), Relatos Savajes (Dir. Damian Szifrón, 2014), entre outros.
Para exemplificar essa tese, cabe uma
análise superficial de Sétimo (Septimo. Dir. Patxi Amezcua, 2015), que, embora
não seja um filme espetacular, consegue captar o ritmo hollywoodiano dos
melhores filmes de suspense.
Em um dia que poderia ser considerado como comum, o advogado Sebastián (Ricardo Darin) precisa comparecer a uma audiência importante no fórum de Buenos Aires. Antes, passa no edifício em que mora Délia (Belén Rueda), a ex-esposa. É o seu dia de levar os filhos, Luca e Luna, à escola.
Em um dia que poderia ser considerado como comum, o advogado Sebastián (Ricardo Darin) precisa comparecer a uma audiência importante no fórum de Buenos Aires. Antes, passa no edifício em que mora Délia (Belén Rueda), a ex-esposa. É o seu dia de levar os filhos, Luca e Luna, à escola.
A atmosfera dramática, misturando
angústia e mistério, se torna aguçada. A sensação é ampliada pelo uso de um
ambiente fechado. Quase todas as cenas estão centralizadas dentro do edifício –
entre o sétimo andar, o térreo e a garagem.
Acossado pelo telefone – que não para de
tocar –, Sebastián precisa estabelecer qual é a sua prioridade. Entre o futuro
profissional, ajudar a irmã que pede socorro (vítima da violência do ex-marido)
e o desaparecimento dos filhos, o grau de tensão psicológica se multiplica.
Diante do pedido de resgate (cem mil
dólares), urge tomar medidas extremas. A violência urbana, que havia se
manifestado intramuros, se expande na direção da vida coletiva. A vida de Sebastián
entra em colapso. Nada mais será como antes.
O desfecho do filme une as diversas
pontas soltas e surpreende pela forma com que a racionalidade combate a
crueldade humana. No último instante, tudo se torna transparente. E assustador.
Para completar o raciocínio inicial, cabe
perceber que um filme parecido com Sétimo provavelmente não seria realizado
no Brasil. Entre os inúmeros problemas fáceis de localizar (atores competentes,
financiamento para a produção, distribuição, imaginação para criar um roteiro decente, etc.), na primeira oportunidade, o(s)
roteirista(s) incluiria(m) alguma piada idiota sobre a “esperteza” carioca ou
sobre a ausência de humor dos paulistas, atitude instintiva de quem não
consegue conviver com a aura que identifica a tragédia. Logo depois,
confirmando que o brasileiro vive em constate contradição, tudo seria resolvido
com gritos, tiros e algumas vítimas de “balas perdidas”. A “idolatrada salve
salve” detesta a sutileza e a elegância.
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