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terça-feira, 28 de novembro de 2017

FANNY ABRAMOVICH



Talvez tenha sido em 1997. Não tenho certeza. Foi em uma dessas feiras do livro que não possuem continuidade. Creio que a organização era do SESC. Pelo menos foi lá que aconteceu o evento. Quer dizer, os livros estavam expostos no Ginásio do SESC, mas, salvo engano, algumas palestras e vários debates ocorreram no auditório do Centro Educacional.
 
Fanny Abramovich era uma das convidadas. Em um final de tarde, diante de uns duzentos estudantes, ela falou – de forma suave e divertida – sobre a leveza que acompanha o escrever para o público infantojuvenil. Ao final da aula, provocado por alguma coisa que ela disse, fiz algum comentário sobre o poder de sedução da... do... Por maiores que sejam os esforços, não me lembro do que estava tentando dizer naquele momento. Alguma coisa se perdeu nesses vinte anos.

Na tarde do dia seguinte, fui visitar a feira. Fanny estava lá, passeando entre as estantes, conversando com os organizadores, autografando os livros. Ao me ver, exclamou: “Que bom te encontrar outra vez!” Entre a surpresa e o ceticismo, estendi a mão para ela. “Foi você quem fez o aparte ontem, não foi?”, disse, enquanto apertava minha mão. Confirmei – incrédulo que uma escritora conhecida nacionalmente se lembrasse de uma intervenção inócua.

Foi o inicio de um diálogo longo, desses que emendam um assunto no outro, quase duas horas de conversa fiada. Creio que começamos com a literatura e terminamos falando sobre a vida pessoal. Algumas amenidades, um pouco de realidade. O básico.

Nunca mais a vi exceto umas três vezes em algum programas de televisão. Ela continuava jovial, cheia de vida, envolta em júbilo como me pareceu naquela tarde de 1997. 

Por que estou lembrando essa história boba? Li, em algum lugar, que Fanny faleceu. Tinha 77 anos. E isso, de alguma forma, trouxe à tona um acontecimento que estava destinado a ser esquecido. 

Além disso, sempre que perdemos um escritor a tristeza se espalha pelo mundo. Quero lembrar de Fanny de uma maneira mais alegre, menos aflitiva.  

Retirei da estante o meu exemplar autografado de Tem Carta para Mim?, lembrança física da tarde em que passamos juntos. A letra miúda, quase ilegível, têm aquele tom de delicadeza que a pressa cotidiana e as necessidades de "ganhar" a vida transformaram em uma ideia ultrapassada.

Requiescat in pace, Fanny Abramovich!           
 




 

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