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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

WALTER BENJAMIN (o anjo da melancolia)




Walter Benedix Schöenfliess Benjamim nasceu no dia 15 de julho de 1891 e morreu na noite entre os dias 26 e 27 de setembro de 1940. Transpondo as fronteiras que existem entre a filosofia, a sociologia e a literatura, ele formulou uma série de críticas agudas contra o capitalismo.

Tímido, infeliz no amor, intelectual de esquerda, incapaz de gerenciar economicamente a existência, sem sucesso na carreira acadêmica, filósofo, cercado de amigos às vezes mais complicados do que ele (Bertolt Brecht, Gershon Scholem, Theodor Wiesengrund Adorno, Louis Aragon, André Breton,...), colaborador do Institur fűr Sozialforschunf (Instituto de Pesquisas Sociais, também conhecido como “Escola de Frankfurt”) – são muitas as tentativas de defini-lo. Nenhuma delas parece ser suficiente.   

Jeanne Marie Gagnebin diz que Benjamin foi um fracasso exemplar. Susan Sontag acreditava que ele viveu sob o signo de Saturno. Hannah Arendt o chamou de pescador de pérolas. Theodor Adorno escreveu um artigo onde o coloca distante de todas as correntes.


O que faz desse judeu errante, nascido em Berlim, o alvo de tantas atenções? Filho de um abastado comerciante de artes (antiguidades), Benjamin estudou filosofia em Freiburg-im-Breisgau e passou parte da vida acreditando que o seu destino era ingressar em uma universidade para ensinar estética ou crítica literária. Para que isso se tornasse mais do que uma possibilidade, defendeu em 1919, em Berna, a sua tese de doutorado, O Conceito de Crítica de Arte no Romantismo Alemão. Infelizmente, o seu projeto de ingressar no mundo acadêmico sofreu um grande revés em 1925. Depois de ter passado dois anos redigindo o texto de livre docência na Universidade de Frankfurt (A Origem do Drama Barroco Alemão), ouviu do seu orientador um pedido no mínimo desagradável. O professor e seus colegas simplesmente não entenderam o trabalho e pediram para que ele retirasse a candidatura, pois não queriam reprová-lo.

Nesse ínterim, Benjamin conheceu a mulher de sua vida, a atriz e revolucionária russa Asja Lacis. Foi na ilha de Capri, em 1924. Mesmo sendo casado, Benjamim se viu envolvido nas tramas do amor. No início, Asja, que também era casada, não corresponde. Depois,... Parte desse namoro está contado em Diário de Moscou.

Ninguém escapa impunemente desse tipo de relacionamento. Ficaram muitas mágoas. Para vários dos amigos de Benjamin, notadamente Gershon Scholem, Asja Lacis contribuiu para que ele ficasse contaminado pelo marxismo.

No campo das reclamações, não era só Scholem que tinha queixas. Bertolt Brecht via na amizade entre Benjamin e Scholem uma complicação e que misturava marxismo com misticismo, metafísica e judaísmo (Scholem foi um dos maiores especialistas na Cabala, o livro básico da religião judaica). Além disso, se irritava com a maneira lenta com que Benjamim jogava xadrez e, não menos pior, no seu diário deixou escritas diversas passagens corrosivas contra o Instituto de Pesquisas Sociais.

Theodor Wiesengrund Adorno, às vezes com alguma inveja, às vezes com um pouco de razão, e sempre fiel ao seu papel de crítico marxista (ou seja, de fiscalizador ideológico da cultura), considerava que Brecht e Scholem eram os responsáveis pela falta de dialética e pelo materialismo um pouco cru de determinados ensaios benjaminianos. Provavelmente terá sido também por isso que a cobrança muitas vezes foi excessiva. Não é possível ignorar a célebre história em que Adorno – na categoria de um dos diretores do Instituto de Pesquisas Sociais – aconselhou Benjamim a escrever uma segunda versão de A Paris do Segundo Império na Obra de Charles Baudelaire, sob a alegação de que o ensaio não estava suficientemente dialético, visto que, na ótica de Adorno, não efetua uma análise da totalidade social! Precisando pagar as contas, Benjamim desistiu de reclamar e escreveu um novo texto.

Com o fracasso do seu projeto intelectual em Frankfurt, com a bancarrota de seu pai (que durante muito tempo financiou seus estudos), com a separação da esposa (que ficou com todos os bens do casal), Benjamim se viu em uma situação inusitada: precisou “trabalhar” (e o que é pior, no sentido mais abjeto do termo). Colaborando com alguns jornais e revistas, escrevendo para o rádio, e, esporadicamente, morando de favor com alguns amigos (com Brecht, na Dinamarca, em 1934 e 1938; várias vezes com a ex-esposa em San Remo, Itália; ou então com diversos amigos – e em condições precárias – na ilha de Ibiza, Espanha), foi levando a vida como dava. Adorno, que talvez tenha sido o seu único discípulo (que, ao mesmo tempo, era o seu chefe!), o ajudou algumas vezes – nunca o suficiente.

Morando em Paris desde março de 1933, Benjamim cumpre um exílio voluntário. Com a ascensão do Nacional Socialismo não havia mais ambiente para um intelectual judeu na Alemanha. Nesse período os problemas financeiros se multiplicaram. Se não fosse a caridade de alguns amigos, passaria fome. Além disso, para ampliar os seus problemas, com o início da guerra, foi internado, entre setembro de novembro de 1939, em Nevers, com outros refugiados alemães, em um “campo de trabalhadores voluntários”. Como estratégia de sobrevivência, tenta organizar com os prisioneiros uma revista literária – quer, de fato, mostrar para as autoridades francesas o seu nível intelectual. Outro experimento foi um curso de filosofia que tentou ministrar – cada participante precisava pagar três gauloises (cigarros franceses). No final de novembro, graças a intervenção de vários amigos, particularmente Adrianne Monnier e Jules Romain, é libertado.

De volta à Paris, escreve um dos seus mais importantes textos, as teses Sobre o Conceito de História. Desafortunadamente, o mundo está em convulsão e diante da invasão da França pelo exército nazista em maio de 1940, Benjamim, às raias do desespero, tenta fugir para Estados Unidos. A rota de fuga mais sensata é atravessar os Pirineus, a Catalunha e, em Lisboa, conseguir um voo para atravessar o Atlântico. De maneira pouco lógica, vai para Marseille – ali, por acaso, encontra Arthur Koestler, que divide com ele alguns tabletes de morfina. Depois, na companhia de várias pessoas em situação similar a sua, inicia a viagem à Espanha. Na cidade fronteiriça de Port-Bou, as autoridades alfandegárias do governo de Vichy negam passagem ao grupo. Informado que, no dia seguinte, seria recambiado à França – em outras palavras, para um campo de concentração – Benjamim, durante a noite, ingere os tabletes de morfina. Pela manhã, 27 de setembro de 1940, o grupo de viajantes obtém permissão para continuar a viagem.

Contemporaneamente, seus críticos e admiradores destacam como característica marcante em Benjamim o modo precário como ele escolheu viver. A solidão sempre o acompanhou. Quase todas as suas fotografias revelam um rosto cansado, o olhar sempre distante, a melancolia como projeto estético. Há uma espécie de revolta (e, simultaneamente, de culpa) em Benjamim, talvez produzida pelo romantismo que o envolvia, talvez porque alguns analistas fazem questão de identificar a sua vida com um conjunto de desastres (se valer o ponto de vista capitalista). A desilusão amorosa, as dificuldades financeiras, a conjuntura política do período em que viveu, o irracionalismo cultural – esses elementos contribuíram para que o seu temperamento fosse triste e repleto de reflexões sobre o sentido das coisas e da vida.    

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