The economy, stupid! Em tempos de pandemia, o projeto econômico brasileiro transformou o pensamento de James Carville (popularizado por Bill Clinton) em um mantra multiuso. Para qualquer motivo (isolamento social, compra de vacinas, queda de rendimentos nas estruturas comerciais, reformas no serviço público, etc.) a frase ressurge no horizonte com o poder destruidor que caracteriza o movimento das placas tectônicas.
Pisando em degrau inexistente, a equipe econômica que trabalha para o governo está usando de argumentos etéreos para explicar que algumas verbas precisam ser deslocadas de setores essenciais (saúde, educação) para prioridades difusas. A possibilidade de satisfazer a voracidade do deus mercado e o alto custo de manter o poder (todos os dias uma nova fatura é emitida, valores elevadíssimos, o agiota tem pressa em receber, os cofres públicos estão vazios) estão se impondo às necessidades da população. Na falta de metáfora de melhor qualidade, os economistas asseguram que a boa saúde financeira evita que o país se aproxime da beira do precipício.
A razão econômica neoliberal – baseada na acumulação privada dos bens – considera descartável o ser humano e está alicerçada em um projeto social de exclusão. As tabelas de Excel, nas colunas que mostram as variações entre o custo e o benefício, indicam que os programas de privatização são a solução redentora para qualquer desequilíbrio nas contas públicas. Sintomaticamente, não avisam que existem interesses pouco transparentes por trás dessa ideia. E que grandes fortunas se formam quando mercenários tomam de assalto os bens públicos.
Nada escapa da voracidade predatória das áreas parasitas que, através da destruição, pretendem sanear as finanças públicas com uma versão moderna da fábula da galinha dos ovos de ouro. Ao exterminar a máquina burocrática e, simultaneamente, o contribuinte (aquele que paga as contas) os sicários acabarão desempregados – mas isso não os preocupa de imediato, o trabalho sujo sempre rende bom pagamento.
Em outra chave de leitura, o número de mortes relacionadas com o Covid-19 no Brasil parece ser de agrado do pessoal que finge entender de finanças. Estudos recentes mostram que a Previdência Social pode ser beneficiada com a pandemia. Deixar de pagar aposentadorias e serviço médico (procedimentos, medicação) para cerca de 400 mil pessoas representa um volume financeiro considerável. Esse raciocínio possui vários nomes, a lista é enorme, depende do gosto do freguês: genocídio, eugenia, extermínio, aniquilamento, chacina, necropolítica, aporofobia, “melhoramento social e econômico”, etc.
Em tempos sombrios, a morte é companhia constante. A esperança do prolongar a vida está depositada dentro de um frasco de vacina. O governo federal está ciente dessa situação e parece não ter pressa em resolver o problema. As dificuldades para compra do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) e os constantes insultos aos parceiros comerciais internacionais fazem parte da rotina governamental.
De um lado, a ameaça constante de
reduzir a máquina estatal ao mínimo; de outro, o negacionismo científico. O Brasil
está caminhando no fio da navalha e são poucas as chances de sobreviver. Como se isso
não bastasse, cabe lembrar que, sem permitir um tubo de oxigênio para quem está
sendo asfixiado pela política econômica governamental, isto é, um auxílio emergencial
temporário com valores significativos, a incompetência administrativa do governo não passa
de uma forma de apagar o brilho no olhar daqueles que amamos.
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