Louise Lucena, Daniel Lucena, Francisco José Soler de Matos e Valéria Lucena em algum festival estudantil de música. |
No passado distante, talvez entre 1975 e 1977, fui colega
do Daniel Lucena no Colégio Industrial de Lages (CIL). Não posso dizer que
éramos amigos. Embora estudássemos na mesma sala,
conhecidos me parece mais adequado. Mas isso provavelmente é culpa minha, sempre
fui arredio a certas demonstrações de afeto. Além disso, conversávamos muito
pouco, provavelmente porque tínhamos preocupações divergentes. Ele demonstrava
grande interesse pela música (fazia parte de uma banda, dessas que se
apresentavam em festivais) e eu passava todo o tempo livre na Biblioteca
Pública, lendo e escrevendo.
Estivemos próximos em uma ocasião em especial.
As professoras de português do CIL, Vânia Albuquerque e Célia Regina Ranzolin,
inventaram um concurso literário. Não sei se desejavam movimentar a vida dos
estudantes ou se estavam entediadas com o esquema quadro-negro e decoreba que
caracterizava o ensino formal da época. Nós dois, além de dezenas de outros
alunos, nos inscrevemos na competição – que foi realizada no Salão Nobre do CIL
(que também era a sala de recreação). Convidaram o Nereu de Lima Goss (1924–2004)
para ser um dos jurados. Talvez outras pessoas, além das professoras, fizessem
parte da banca julgadora, mas não me recordo de ninguém.
Daniel apresentou uma proposta muito diferente
da minha. Ele apostou em uma crônica satírica sobre o ensino profissionalizante.
Eu escrevi um poema que defendia a consciência social em um mundo que (na minha
visão) estava em ruínas. Felizmente, para o bem da literatura, as duas “obras
de arte” não existem mais.
A parte chata da programação estava na
apresentação do trabalho. A vítima precisava subir em um estrado e ler o texto
diante de quase toda a escola. Exigia-se boa dicção e simpatia. Nisso nós
também nos diferenciamos: ele era um sujeito extrovertido, que não tinha medo
da plateia; eu, tímido, mal consegui ler o poema, queria era fugir daquele
lugar o mais rápido possível.
Depois de deliberarem sobre a qualidade do
material apresentado, os jurados resolveram premiar os nossos escritos. Não
lembro qual foi o prêmio. Talvez um ponto a mais na média mensal. Tenho certeza
que não foi dinheiro. Também fomos publicados no jornalzinho da escola (editado
pelo Centro Cívico), que era uma folha A4 dobrada ao meio, mimeografada a
álcool.
Uns dois ou três semestres depois, deixei o
CIL no meio do ano e fui tentar resolver minhas crises pessoais em outro lugar.
Possivelmente, Daniel terminou o curso
secundário no CIL.
Fiquei muito tempo sem ter notícias dele. Em algum momento, vários anos depois, e não sei precisar quando, descobri que era o vocalista e o principal compositor do Expresso Rural (provavelmente o grupo musical mais importante da história de Santa Catarina). Mas, quase nada sei sobre como isso se tornou possível.
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Fui, dia 20 de novembro, ao lançamento de Algum caminho que me leve ao sul, a biografia autorizada de Daniel Lucena, escrito pelo psicólogo Felipe Rigon Borba. O evento aconteceu no Casarão Juca Antunes (esquina das ruas Benjamin Constant e Coronel Córdova) e contou com grande público. Aos poucos a vida cultural da cidade vai retomando o seu rumo.
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