A aventura protagonizada pelo
Capitão-mor António Correa Pinto de Macedo (1719-1783), sob as ordens do
Morgado de Matheus, Luiz António de Souza Botelho Mourão (1722-1798), teve
inicio em 22 de novembro de 1766. Nessa data foi fundada a Freguesia de Nossa
Senhora dos Prazeres das Lagens (elevada à condição de Vila em 1768), situada
nas margens do rio Carahá, e próxima do rio das Caveiras. A vila foi
desmembrada da Capitania de São Paulo em 1820. Mais tarde se transformou em
cidade. A população se multiplicou.
Mas, até que isso acontecesse foi
necessário superar muito perigos: animais selvagens, assaltantes e a resistência
indígena. As ameaças de invasão das tropas do reino de Castela e Aragão (mais
tarde, Espanha) também eram uma preocupação. Foram tempos difíceis para aqueles
que desbravaram a região. O sucessor do fundador, Capitão-mor Bento do Amaral
Gurgel Annes (1730-1812), que administrou a Vila entre 1787 e 1802, precisou
ser enérgico e corajoso. O mesmo se pode dizer dos governantes seguintes.
Muitos anos depois, a cidade que,
em certo momento, esteve dividida entre Colorados e Guarani “até debaixo
d’água”, entre quem gostava de Crush ou de Capilé, entre quem ia ao cinema no
Tamoio ou no Marrocos, foi unificada por Plínio Lürsen (aquele que deixava os
adversários “comendo poeira”), Agostinho Malinverni Filho, Nereu Ramos,
Vidalzinho e muitos outros. Sem esses personagens, a história de Lages seria
mais pobre. Foram eles, os herdeiros dos desbravadores, que testemunharam a
evolução do município e um de seus momentos mais emblemáticos, o ciclo da
madeira (que misturou as palavras pinheiro e dinheiro). O que aconteceu
depois ainda está para ser contado pelos historiadores e ficcionistas.
No aspecto geográfico, assim como
Roma, Lages está cercada por sete colinas. Era isso o que dizia o escritor
Marcio Camargo Costa, citando o Morro Grande, o Morro do Posto, o Morro do
Sabão, o Morro do Tributo, o Morro do Juca Prudente, o Morro da Curva da Morte
e o Morro que leva aos (atuais) bairros Ipiranga e Petrópolis. Talvez essa
afirmação precise de correção, talvez ele tenha esquecido alguma coisa. O que
importa saber é que a planície é uma ilusão – e, assim como a vida, está cheia
de altos e baixos.
Há compensações em morar no interior de Santa Catarina. Poder olhar para o horizonte, um azul que parece pintado à mão, uma diversão da natureza, o sol multiplicando as cores, as flores e as nuvens (um convite para brincar de adivinhação), é um prazer que não se repete em outros lugares. E que se soma com outras qualidades, como a pureza da água e do ar. A vida, neste canto do mundo, é um encanto. O progresso e a tecnologia não eliminaram as delícias que são andar descalço na grama, visitar os familiares, namorar na praça, comer pão feito em casa. Tampouco excluíram o uso de expressões regionais como "homi du céu", "djáoji", "trezantonte" e "bombiá". Lages é o que é e há certo orgulho em ser assim.
Nesses 255 anos de existência de
Lages, unindo a nostalgia, a saudade daqueles que não mais estão aqui, os
amores, os amigos, as histórias complicadas, sobrou a sorte de morar em uma
cidade que sempre conseguiu superar as adversidades, que nunca teve medo do
futuro.
Bonita homenagem!
ResponderExcluirAbraço,
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