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quinta-feira, 28 de julho de 2022

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Capicua (cabeça e cauda, em catalão) é a sequência de algarismos que permanece a mesma se lida na ordem direta ou inversa. Palíndromo (termo inglês, criado a partir do grego palin, πάλιν, "para trás, novamente" + dromos, δρόμος, "caminho, rua" – que corre em sentido inverso) se refere às palavras que não se alteram se lidas de trás pra frente. Costuma-se confundir as duas denominações – como se uma fosse o equivalente à outra, dando preferência à segunda em detrimento da primeira. Calma lá! Não é bem assim. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, como dizem alguns dos grandes filósofos contemporâneos.

Quando este blog foi criado, a ideia era reunir alguns textos antigos, todos escritos para jornais. Procurava-se evitar que acontecessem perdas e danos. Principalmente, porque, no desdobrar dos dias, as novidades tecnológicas eliminaram a utilidade dos jornais físicos. Quase tudo o que foi produzido anteriormente (e foi considerado importante) foi transportado para os espaços virtuais. Mas, muita coisa ficou para trás. Uma rápida pesquisa na Internet revelou que alguns textos estavam no ostracismo. Esses também precisavam ser recuperados. Isso foi feito. Mas, logo em seguida, como se fosse um vício ou uma maldição, o monstro voraz precisou ser “alimentado” incontáveis vezes. Agora, depois de alguns anos, ultrapassaram-se as mil publicações.

Por motivos que exigiriam investigações de alto grau pericial, algumas publicações conseguiram atingir um nível razoável. Exceções. A regra geral contempla o trivial variado, sem grandes surpresas, sem grandes emoções. O que se pode afirmar é que escrever faz bem, talvez seja uma forma de terapia, a necessária válvula de escape para as neuroses cotidianas. Na medida do possível – e sem esquecer uma das lições de Machado de Assis. Em crônica de 10 de outubro de 1864, o Mestre afirmou que A primeira condição de quem escreve é não aborrecer.

Crônicas, resenhas literárias, contos, alguns poemas ruins – o exercício de todas as formas de escrita. Na escala literária isso implica em superar alguns tropeções. O que não é fácil, porque a realidade costuma ser mais surpreendente do que a ficção. Todos os dias o verossímil é colocado em xeque. Todos os dias.    

Sim, as noites também assombram. Embora o desassossego tenha outra origem. Ninguém consegue controlar o inconsciente – que adora abrir aquelas gavetas que gostaríamos que permanecessem hermeticamente lacradas. Não se consegue fugir de Nêmesis, essa deusa antipática.

Seja quando os fantasmas escolhem conversar com o passado, seja ao observar o cotidiano, escrever consiste em interpretar o que é visível aos olhos – omitindo muito e inventando bastante. Incontáveis lacunas precisam ser preenchidas para que se possa dizer que a tessitura literária (espelho da existência humana) possui resistência e significado.

Além disso, mas talvez isso não seja importante, escrever (muitas vezes) se confunde com a diversão. A ideia de que é possível transportar uma história para o papel, ops, para a tela do computador, expande a imaginação. Produz, em alguns instantes, satisfação; em outros, frustração. Viver em outros mundos pode ser uma forma de viver outras vidas – e, em alguns casos, entender (ou não) as razões que movimentam o Outro.   

Por fim, escrever não é o fim em si, mas o começo da aventura.  


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