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sábado, 10 de setembro de 2022

LUTA DE CLASSES (texto modificado)

 



Futebol era o jogo, mas se alguém pensasse em guerra seria a mesma coisa.

De um lado, meninos de excelentes famílias, vestindo calções e camisetas de boa qualidade; do outro lado, um bando que parecia desconhecer água e sabão, além de estarem usando um jogo de camisas que, francamente, já havia conhecido melhores dias. A idade média dos jogadores era de 11 anos e a partida estava valendo por uma rodada do campeonato citadino infantil.

Nas arquibancadas, torcidas desorganizadas. No grupo que apoiava o time dos meninos bonitinhos, alguns pais roíam unhas, faziam gestos desesperados e, para não parecerem que estavam próximos da loucura, falavam mal da mãe do juiz. Pela outra equipe, uns cinquenta (ou mais) garotos que pareciam ameaçadores – seria injusto deixar de registrar aqui que alguns pais dos meninos de bons uniformes ficaram apreensivos com os “pivetes”; a gente nunca sabe o que essa piazada de bairro pode fazer, não é mesmo?

Dentro de quadra, empurrões e caneladas. Ao mesmo tempo, o placar mudava com uma velocidade irritante: um a zero, um a um, dois a um. Multiplicavam-se os chutes a gol, erros de passes e meninos caídos em quadra. E, para completar a festa, gol: quatro a um, cinco a um. Fácil, fácil. Nove a um foi o placar final.

Ele estava sentado na arquibancada e ficou alegre com cada um dos gols. Bem feito! Quem mandou esses riquinhos se meterem a jogar conosco?, falou para si mesmo. Ao ver o jogo dos meninos, ele se sentiu transportado para o passado: naquele instante também tinha 11 anos e estava em quadra, jogando, fazendo gols. Foi estudante de escola pública: era através do esporte que superavam as barreiras sociais, econômicas e emocionais. Vencer as equipes dos colégios particulares podia não resolver as carências, mas era o incentivo necessário para continuar resistindo.

Ele estava sentado na arquibancada e torcendo pelo lado errado! Só entendeu que estava contradição total quando viu o filho quase sem fôlego, tomando dribles, se esforçado para que o vexame fosse menor: o menino estava jogando no time que perdeu!

Depois do jogo, abraçado ao filho, pensou em pedir desculpas por, de certa forma, tê-lo abandonado. Não conseguiu – um anjo torto, desses que vivem na sombra parecia lhe dizer que os gols do time adversário simbolizavam uma espécie canhestra de justiça social.

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