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terça-feira, 28 de março de 2023

A ÚLTIMA TRAVESSIA

 


Os países nórdicos (Dinamarca, Suécia, Noruega, Islândia e Finlândia) surpreenderam o mundo literário nos últimos 30 anos. Isso não quer dizer que eles não escrevessem/publicassem antes. Os leitores é que não tinham acesso à produção literária contemporânea daquela parte do mundo. Atualmente é possível encontrar, no Brasil, romances policiais, autoficção e dramas de diversos matizes. Também existem narrativas de terror (que atendem a demanda crescente pela literatura gótica). A Editora Morro Branco publicou, em 2018, A Última Travessia, de Matts Strandberg, considerado o Stephen King sueco.

Com esse livro é fácil constatar que não existem vampiros como os de antigamente. Aquele ar ligeiramente melancólico de Drácula se perdeu em noites sem luar. A transgressão sexual de Carmilla e da dupla Louis de Pointe du Lac e Lestat de Lioncourt não causa o mínimo escândalo. A aristocracia esnobe da família Cullen desapareceu sem deixar vestígios. A barbárie venceu. É o que se percebe com o texto de Strandberg.

A ação narrativa ocorre em um cruzeiro marítimo entre a Suécia e a Finlândia. Viagem curta de apenas 24 horas pelo Mar Báltico. Cenário ideal para milhares de conflitos. Inclusive porque 90% dos 1200 passageiros pagaram a viagem para se divertirem. Isto é, ficar bêbados e fazer o máximo de sexo que for possível. Os 10% restantes enfrentam outros tipos de problemas. Ou seja, são os funcionários do navio e dois passageiros diferentes de todos que o navio já viu.

O ambiente de trabalho dentro do navio está longe de refletir uma colônia de férias. Existem tensões que se escondem atrás da aparente tranquilidade. O cansaço e o estresse constituem a rotina de cada viagem (além da ameaça de desemprego que parece ser constante).

Até as proximidades do arquipélago Åland tudo transcorre como era esperado. Em determinado momento, esse cenário de alegria artificial sofre uma mudança radical. Como se fosse uma tempestade que surge inesperadamente, o horror se instala e a vida humana perde a importância.

É nesse ponto que surgem os vampiros. A diferença é que eles não se contentam em apenas beber sangue, querem dominar o mundo. Clichê típico da literatura de segunda ordem. A narrativa, que era ruim, torna-se pior. Nesse momento, o leitor com um mínimo de senso crítico pode abandonar o livro sem o menor constrangimento. O que se segue é inimaginável e patético. Aqueles que são mordidos, depois de um tempo, se transformam em zumbis. A carnificina se instala. Corpos despedaçados e cenas de violência absurda constituem as descrições (que são muitas) e que se sucedem com a mesma exatidão da linha de montagem de um frigorífico. Se o livro tivesse umas 150 páginas a menos, o leitor ficaria agradecido.

Um incêndio resulta em naufrágio do navio. Alguns personagens conseguem baixar botes salva-vidas e fugir do pesadelo – embora precisem superar incontáveis desafios antes que isso aconteça. Nesse enredo sem a mínima originalidade, cansativo em algumas cenas, salvam-se aqueles que precisam se salvar e desaparecem quase todos os que precisam desaparecer. A ameaça permanece. O mundo não está a salvo – essa é a mensagem final.          

P.S.: A Última Travessia merecia uma revisão mais apurada. Nas primeiras páginas existem algumas palavras grafadas de maneira inadequada.


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