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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

QUANDO OS LIVROS CAUSAM INCÔMODOS

 


Costuma-se dizer que as más ações ocorrem porque alguém está procurando por boas ações. Não é a regra geral, mas a incidência desses desastres ocupa posições elevadas nas estatísticas. No entanto, o mais comum é que algumas catástrofes ocorram por maldade – pura e simples. Possivelmente foi isso o que aconteceu quando um segmento da Secretaria de Educação do governo de Santa Catarina, no dia 07 de novembro, decidiu que alguns livros devem ser recolhidos das bibliotecas escolares estaduais. Ou seja, ficarão fora do alcance de parte dos alunos catarinenses.

Não cabe discutir se os livros censurados (e este é um caso explícito de censura) são apropriados (ou não) para os alunos. Esse é o aspecto secundário da contradição principal – a liberdade de escolha. Ao leitor cabe a responsabilidade pelo que ele escolhe ler. Não é tarefa estatal interferir nesse tipo de atividade. Além disso, contraria uma das tarefas mais importantes da área educacional: garantir que a leitura seja possível – e em todos os níveis.  

Criar um novo Index Librorum Prohibitorum nada mais é do que uma forma de gerar novos leitores. Provavelmente esses livros estavam fora do radar de centenas de alunos e adultos. A curiosidade move montanhas, excita e estimula na descoberta de desejos e prazeres. Diante do buraco da fechadura, todos querem espiar (mesmo que seja para encontrar a decepção).

Sintomaticamente, os livros que estão sendo retirados das bibliotecas escolares tratam de temas que oscilam entre a religião, a política, bullying escolar, os relacionamentos afetivos e a violência juvenil. Quem se sente ameaçado por esses assuntos? Quem quer impedir a discussão das questões abordadas nesses textos? Como ensina o clássico Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, os livros são perigosos e os governos autoritários procuram combatê-los. Violentamente. Seja retirando-os do alcance do leitor, seja destruindo-os. Exemplos históricos não faltam.

Um fato importante na situação está na visível desatualização do ato de censura. A leitura do livro físico possibilita melhor compreensão do enredo narrativo, mas (quando tentam impedir essa possibilidade) sempre se pode optar por alguma alternativa. Além do acesso aos e-books, existem as versões cinematográficas e televisivas. Sem entrar na discussão estética sobre as formas artísticas, cabe lembrar os três exemplos mais relevantes na lista censurada: Laranja Mecânica (Dir. Stanley Kubrick) foi filmado em 1971, Coração Satânico (Dir. Alan Parker) em 1987 e It – a coisa (Dir. Andy Muschetti) em 2017. Complementando, a Netfix está exibindo uma série baseada em Os Treze Porquês. Qualquer um que consiga acesso aos canais de streaming pode ver essas adaptações. E isso significa, de maneira simplificada, o quanto é inócuo o esforço de quem quer impedir o fluxo de informações. A modernidade tecnológica rompeu (para o bem e para o mal) com todas as barreiras moralistas.

Mário Quintana escreveu que Livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas. De certa forma isso ecoa a frase de Oscar Wilde: Os livros não se dividem entre morais e imorais: são bem escritos ou mal escritos, e isso é tudo. Então, para que possamos contribuir para um mundo melhor (sem abdicar do senso crítico) precisamos de mais leitores e de muitos livros. Quanto mais, melhor!


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