A audição pública anual da Orquestra Sinfônica de Lages, que ocorreu na noite de sábado, dia 10 de novembro, confirmou a velha receita para o sucesso: convidar meia dúzia de parentes (principalmente aqueles que não entendem de música), multiplicar esse número por algumas centenas, lotar o teatro e inflar o ego com aplausos protocolares (algumas vezes, como compete à lageanidade, fora de hora).
A Orquestra Sinfônica de Lages continua descompassada. A programação do concerto de 2012 reflete um amontoado de músicas aleatórias, embora este ano – se considerarmos o evento anterior – mostre uma significativa evolução. O lixo popularesco diminuiu. Não o suficiente para banir totalmente as músicas de filmes e os temas fáceis.
Na ausência de orquestração para o tema da novela das nove, vários arranjos majestosos, típicos de quem ambiciona encobrir deficiências instrumentais, tentaram torturar o público. Em alguns momentos, (Sanctus, de Gounod, por exemplo), as pobres criancinhas que foram arrastadas para aquela tortura por pais insensíveis não agüentaram a pressão e abriram o berreiro. O choro dos infantes, acompanhado do som produzido por alguns celulares, se mostrou mais afinado do que o barulho produzido no palco.
A noite iniciou com um grupo chamado Catarinense Cello Ensemble. Tocaram seis peças – que, somadas, não ultrapassaram quinze minutos. Esse minimalismo temporal, difícil de ser entendido, incluiu picotar uma sinfonia de Mahler, quase destruir uma das composições de Astor Piazzola e provocar bocejos com o risível e tolo James Bond Theme.
Superado esse suplício, somente os ingênuos acreditaram que alguma coisa mudaria com a presença de toda a Orquestra em cena. O arranjo de Conquest of Paradise, talvez ligeiramente diferente do apresentado no ano passado, serviu para acordar quem estava ficando entediado. De qualquer forma, continuou igualmente ruim, exceto para tentar fingir que a reunião de todos os instrumentistas em cena resulta em algo que lembra – mesmo que vagamente − música.
Depois de várias peças sacras, todas muito chatas − mas que não podem ser evitadas, porque a Orquestra está ligada a um grupo religioso −, muitos expectadores pensaram em se levantar e ir embora. Quem não rompeu a inércia se arrependeu no ato. Não foi fácil suportar o arranjo arrastado da valsa Danúbio Azul, de Johann Sebastian Strauss. Um pouco mais (muito mais!) de vivacidade não faria mal.
Compreensivelmente, a peça seguinte não se caracteriza por brilhantismo, grau trezentos de dificuldade, como Jesus, Alegria dos Homens (Johann Sebastian Bach). O regente optou por uma dessas tolices regionalistas, popularizadas em anúncios de sorvete ou em cantorias familiares ao redor de algum garrafão de vinho. O diferencial desse momento italianíssimo esteve sob a responsabilidade do barítono Samuel Vargas, uma voz com boa extensão, que arrancou alguns aplausos depois de executar, literalmente, O Sole Mio. Como esse tipo de canção se adapta melhor à voz dos tenores, o desastre não demorou a acontecer. Na segunda vez que subiu ao palco, cantando Con Te Partirò, Samuel derrapou. Acontece. Principalmente em Orquestras provincianas.
Típico final com anticlímax, o desfecho da noite ocorreu com um trecho chocho de Puccini, que não conseguiu entusiasmar o público.
Acabou? − perguntaram algumas pessoas, depois dos últimos acordes. Felizmente − responderam outras, confirmando que o concerto continua sem conserto.
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