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quarta-feira, 20 de outubro de 2021

RUA JERÔNIMO COELHO

 

Foto: Antônio Agostinho Vieira/PML

Quando escrevo sobre Lages tenho medo de ser sentimental. Algo me diz que é necessário adotar uma postura lógica, equilibrada, evitando a sensação de que os ossos, a carne e o sangue estão contaminados por um passado que insiste em voltar à memória como se ele ainda estivesse presente e que – infelizmente – não cansa de ser diluído na confusão que envolve a vida.

Um exemplo é a recente notícia de que, em breve, iniciar-se-ão (perdão pela temerosa mesóclise) as obras de revitalização da Rua Jerônimo Coelho. Parte de minha história pessoal está relacionada com aquela região da cidade.

Na Jerônimo Coelho moravam meus avós, Silvano e Henriqueta Guimarães. Na época, todos os proprietários rurais tinham uma casa na cidade e outra no interior (onde viviam).  Em algum momento impreciso, meu avô teve um "derrame”, ficou com o lado esquerdo paralisado, então, sem muita escolha, o casal decidiu viver, a partir daquele instante, na cidade. Uma de minhas irmãs morava com eles (muitos anos depois, ela comprou moradia na mesma rua, ao lado da antiga Panificadora Cinelândia). Nos fundos do terreno residia Selma, irmã de criação da mãe, com o marido e as filhas. Lembro que costumava visitá-los (avós, irmã, tia, primas), sempre de olho no café da tarde, que era o ponto alto desses encontros.

No lado direito da casa dos Guimarães morava Dona Maria Schmidt, famosa professora de matemática dos anos 70. Tive aulas com ela no Centro Educacional Vidal Ramos Júnior.

Em turmas e momentos diferentes, minhas duas irmãs foram alunas do Flordoardo Cabral, colégio estadual situado na esquina entre as ruas Jerônimo Coelho e João de Castro. E, salvo engano, todos os filhos da família Arruda nasceram com ajuda de parteira, no Hospital e Maternidade Teresa Ramos.  

Em determinado período, morei (com minha mãe e meu irmão) na Rua Irmã Laurinda – que é a continuação da Jerônimo Coelho. Naquele tempo o Clube Juvenil (que ficava quase em frente da casa em que morávamos) era frequentado pelo pessoal sem muito poder aquisitivo e que, por qualquer motivo, ia “às vias de fato”, como diria o repórter policial do O Momento – jornal que, mais tarde, por alguma razão que desconheço, transformou aquele prédio em sede. Durante um bom tempo (e em vários períodos) trabalhei no hebdomadário, dividindo tarefas e reportagens com Francisco (Chico) de Assis, uma das (poucas) pessoas por quem sempre tive imensa e intensa admiração.

Por uma dessas sincronicidades que dispensam explicações, o Brigadeiro Jerônimo Francisco Coelho (1806-1880), nascido em Laguna (SC), foi o fundador, em 28 de julho de 1831, de O Catharinense, o primeiro jornal de Santa Catarina.

Não bastassem todas essas histórias desencontradas, na primeira década do século XXI fui funcionário (pela segunda vez) do Facvest – que também estava localizado na Rua Jerônimo Coelho. Foram longas noites de inverno discutindo literatura e vida pessoal com os alunos. De forma lenta e gradual, a instituição mudou para outro endereço (o atual), e, no devido tempo, dispensou os meus serviços. Ficaram algumas lembranças e amizades.

Diante das reminiscências e dos passeios nostálgicos, algumas vezes tenho vontade de parar no meio da rua, encher os pulmões de ar, e dizer para mim mesmo que não há motivo para se preocupar com o lacrimejar – provavelmente causado por algum cisco no olho.


Foto: Antônio Agostinho Vieira/PML

P.S.: Salete Arruda Benthin e Sônia de Lucena Maggi me ajudaram a corrigir algumas das imprecisões do texto. Muito Obrigado!  

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