A empregada, ao telefone, anunciou a tragédia. E completou:
– O menino está lá embaixo, na garagem, procurando pelo animal!
Só faltava essa, disse para si mesmo, e encerrou a conversa com uma promessa.
– Em quinze minutos estarei aí!
Era um desses dias comuns, plúmbeo, uma garoa
fria encharcando a cidade. Na metade do caminho ele pensou que, possivelmente,
estava perdendo tempo, melhor era ir cuidar da vida, porque, francamente, não
sabia em que poderia ajudar. Se o gato, gordo como sói acontecer com gatos bem
alimentados, escapou pela porta aberta e resolveu dar uma espiada no mundo,
quem poderia fazê-lo desistir de tal aventura?
Em todo caso, naquele momento de perda,
movido pela solidariedade, ele foi até lá.
Ao redor da mesa, após o almoço, todos
tentavam evitar que as lágrimas escorressem pelo rosto. Havia uma tristeza
genuína pelo desaparecimento de um dos “integrantes da família”.
Na companhia do menino, foram procurar pelo
desaparecido nas ruas próximas. Enquanto caminhavam pela quadra (olhos atentos
a qualquer movimento suspeito), conversaram sobre a possibilidade de algum
morador do prédio, criança ou adulto, ter sequestrado o felino. Como sempre
acontece nessas circunstâncias, não concluíram nada, inclusive porque pairava sobre
eles outra possibilidade – tão terrível que em nenhum momento foi mencionada.
Desolados, voltaram ao apartamento.
A mãe do menino, um pouco antes de sair para
trabalhar, disse que iria confeccionar cartazes com fotos do bichano para
distribuir na vizinhança.
Movidos pelo desespero, o homem e o menino
resolveram revistar, outra vez, possíveis locais onde o gato poderia estar
escondido: dentro dos armários da cozinha, nos guarda-roupas, nas áreas
desabitadas do apartamento. Nos poços de ventilação e nas janelas imaginaram
voos e outras bobagens – e nem sombra do animal.
Em algum momento, a voz do menino interrompeu
as buscas.
– Você está ouvindo?
– O quê?
– Um miado.
Cético, o homem pediu que ele parasse de
imaginar coisas e se concentrasse na procura.
– Não estou sonhando, eu ouvi o gato.
Depois disso, o menino olhou para o pai, com
os olhos cheios de esperança.
– Onde?
– Daquele lado.
Fez-se o silêncio. Esperaram que alguma coisa
mágica acontecesse, um desses instantes típicos de cinema, a comprovação de que
a vida, apesar de provas em contrário, é um encanto.
O som, fininho, abafado, foi invadindo o ambiente. De repente, tudo fez sentido. O menino se ajoelhou diante de uma das camas, ergueu a colcha e abriu a gaveta escondida ali embaixo. Ato contínuo, começou a gritar de alegria. Dormindo dentro da gaveta, o gato somente despertou quando ouviu que estavam chamando por ele.
Aquele que até então estivera desaparecido,
e que se chama Gato, espantado por tanto barulho, bocejou.
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