A realidade supera a ficção.
Principalmente nas questões que envolvem os seres humanos e os animais. Por
mais que se possa imaginar o absurdo, a surpresa sempre se manifesta.
Recentemente, alguns casos chamaram a atenção de quem se interessa pelo tema.
a)
Em Hong Kong
(sudeste da Ásia), um açougueiro morreu quando tentava abater um porco. Depois
de atordoá-lo o com choque elétrico, o homem se aproximou do animal com um cutelo na
mão. O porco recuperou a consciência e avançou sobre aquele que pretendia
esquartejá-lo. O sujeito caiu e o cutelo atingiu o pé do agressor. Resultado:
hemorragia sanguínea e morte, algum tempo depois. O porco possivelmente foi
transformado em toucinho e pernil por outro açougueiro – mas o episodio parece
sinalizar alguma coisa, embora não se saiba exatamente o quê.
b)
Durante uma caçada
em Sumner (Kansas, Estados Unidos), um cachorro pisou no gatilho da espingarda
que estava no banco traseiro de uma caminhonete. O disparo atingiu o motorista
do veículo nas costas – que teve morte instantânea. Segundo a polícia local,
foi um acidente. Dados estatísticos do Centers for Disease Control and
Prevention (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) revelam que mais de 500
estadunidenses morreram em acidentes com armas de fogo em 2021.
c)
Após um terremoto na
região do Himalaia, alguns alpinistas foram impedidos de prosseguir na
tentativa de escalar o monte Everest. Vários monges, além de moradores da
região, impediram o trânsito em uma das trilhas. Com o desmoronamento de uma
encosta, centenas de minhocas (e insetos) ficaram expostas às intempéries
climáticas. A ideia era evitar que os anelídeos e demais invertebrados fossem
pisoteados. Para a mentalidade pragmática, que persegue objetivos sem pensar
nas consequências, isso constitui um absurdo. Para o mundo religioso budista,
um procedimento necessário. A explicação é simples: o budismo acredita em
reencarnação – e a nova vida pode ocorrer de forma inusitada. Então, em
hipótese surrealista, é possível que eles estivessem tentando salvar alguém da
família.
No mundo contemporâneo, a relação
dos humanos com a natureza e os animais raramente se mostra pacífica. Filósofos
como o australiano Peter Singer e o inglês John Gray costumam expor em livros e
artigos científicos os desacertos em relação ao tema. Mas não são os únicos que
estão nadando na contracorrente. O estadunidense Henry David Thoreau
(1817-1862), em Walden, ou a Vida nos Bosques (publicado em 1854),
manifestava esse tipo de temor, insistindo que os processos crescentes de
industrialização levariam a humanidade a um beco sem saída. Atualmente, a luta
sem quartel em favor do meio ambiente efetuada pela sueca Greta Thumbeg e pelos
indígenas brasileiros Davi Kopenawa Yanomami e Ailton Krenak, entre outros,
possui caráter quixotesco e costuma ser chamada de ludista (denominação
pejorativa usada para aqueles que se mostram contrários à industrialização e às
novas tecnologias).
O processo crescente de ocupação
territorial, a exploração até a exaustão dos recursos minerais e vegetais, o
envenenamento de rios, o desmatamento indiscriminado, a voracidade econômica e
o desrespeito à biodiversidade – são práticas usuais no dia a dia e visam
destruir, sistematicamente, os ecossistemas. O planeta violentado responde com
mudanças climáticas, movimento das placas tectônicas, derretimento das geleiras e diversas catástrofes
(terremotos, tsunamis, enchentes, doenças, etc.).
Talvez seja tarde demais para
escolher entre a qualidade de vida e a autofagia. Talvez. Enquanto isso não se
resolve porcos, cachorros e minhocas continuarão nos lembrando de que a natureza (à
sua maneira) resiste às agressões.
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