Páginas

sábado, 15 de julho de 2023

INDIANA JONES

 



Nas tardes de domingo, nas décadas de 1970 e 1980, as matinês dominicais dos Cines Tamoio e Marajoara eram mágicas – apesar do desconforto das cadeiras de madeira. Não importava se estava em cartaz algum faroeste espaguete, Tarzan, Bruce Lee, temas bíblicos, Bud Spencer e Terence Hill ou Flash Gordon no Planeta Mongo. Tudo era diversão.

Em um desses dias do passado longínquo, não sei qual, nem em que cinema, talvez em outro, o Marrocos (onde passava os melhores filmes), fui ver Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark. Dir. Steve Spielberg, 1981). A sessão aconteceu, provavelmente, uns cinco anos depois do lançamento em terras ianques – naquele tempo era assim, o instantâneo demorava uma eternidade.

O professor (doutor em arqueologia) Henry Walton Jones Júnior (Indiana Jones, Indy, para os amigos) causou espanto. Era um herói diferente. Inclusive no figurino – chapéu, chicote, jaqueta de couro. Sem superpoderes, ele deixava a sala de aula para viver aventuras malucas em lugares misteriosos, cavernas cheias de armadilhas, cobras venenosas e insetos que só deveriam existir em livros de entomologia. Indy, depois de escapar de ameaças terríveis (tiros, socos e outras trivialidades), conseguia impedir que os inimigos se apoderassem de relíquias magníficas (que, depois de recuperadas, eram doadas a museus).

Enquanto devorava uma barra de Diamante Negro ou algumas balas azedinhas, eu me transportava para dentro da tela – como se quisesse participar da trama. Há quem chame isso de encantamento.

Confesso que assisti a todos os filmes da franquia protagonizada por Indiana Jones. O único que me desagradou foi Indiana Jones e o reino da caveira de cristal (Indiana Jones and the kingdom of the crystal skull. Dir. Steven Spielberg, 2008), que é uma bomba (gíria ligeiramente antiga e que, dependendo do contexto e do gosto do freguês, abrange significados diversos: ruim, péssimo, lixo).

Alguns dias atrás, cheio de expectativas, fui ver Indiana Jones e o Chamado do Destino (Indiana Jones 5 – The Dial of Destiny. Dir. James Mangold, 2023). Salvo engano, o último filme da franquia. Quer dizer, ao longo do tempo, por razões comerciais, pode surgir algum spin off. Ou seja, algum filme derivado. Uma possibilidade seria manter a estrutura básica e transferir as aventuras para Helena Shaw (interpretada por Phoebe Waller-Bridge), que, depois de mil e uma peripécia, praticamente rouba o papel do protagonista no quinto episódio da série. Só o tempo dirá se isso será possível. 

Aos 80 anos, Harrison Ford não deveria ter fôlego para lutas corporais em cima de trens em movimento, perseguições automobilísticas, tiroteios ou voltar ao passado histórico (encontrar Arquimedes durante o cerco de Siracusa). Mas o velhinho é duro na queda e, obviamente, conta com a ajuda de alguns truques cinematográficos – que invariavelmente realizam o excesso como se fosse verdadeiro. É o caso.

Sentado nas poltronas confortáveis de um cinema que se caracteriza pela péssima programação, me diverti com o filme (legendado, é claro). Antes de comprar o ingresso, fiz o dever de casa, isto é, li a crítica especializada – que fez inúmeras restrições ao novo Indiana Jones. Sem qualquer escrúpulo, descartei os defeitos apontados – inclusive o uso dessa coisa que chamam de inteligência artificial (que é artificial e pouco inteligente). Os heróis da nossa juventude estão imunes aos julgamentos pejorativos.  

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário